Ribeirão Preto, Sexta-feira, 14 de Abril de 2000


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CRIME ORGANIZADO
Queda em Morro Agudo leva policiais a suspeitarem do uso da aeronave no transporte de drogas
Queda de avião pode ter elo com tráfico

ANNA REGINA TOMICIOLI
enviada especial a Morro Agudo

A polícia de Morro Agudo está investigando a queda de um avião monomotor, prefixo PT-EQN, e o tráfico de drogas na região de Ribeirão Preto.
O avião caiu anteontem, por volta das 17h, em uma pista de pouso não homologada na Fazenda Cinco Irmãos, a cerca de 6 km da cidade.
A polícia só foi informada da queda ontem pela manhã por trabalhadores rurais que passaram pelo local e encontraram a aeronave no meio do canavial.
A CPI do Narcotráfico da Assembléia informou que vai investigar a possível utilização do avião que caiu em Morro Agudo no tráfico de drogas.
De acordo com a CPI, foram identificadas 69 pistas clandestinas em 26 municípios da região de Ribeirão Preto.
Todas, segundo a CPI, são usadas para o transporte ilegal de drogas.
O delegado da Polícia Civil de Morro Agudo, João Batistussi Neto, prevê dificuldades nas investigações devido ao intervalo de tempo entre a queda e a chegada da polícia ao local.
"Se tivesse alguma carga no avião, deu tempo para que ela fosse removida", disse o delegado, que está investigando se a aeronave estava sendo usada para o transporte de entorpecentes ou outra mercadoria ilícita.
Ele informou também que a pista é usada por usinas para aviação agrícola.
O proprietário do avião, Marcos Alberto Ribeiro Baião, 35, morador de São José do Rio Preto, informou que só o piloto, conhecido como Anderson, estava no avião e que ele não sofreu ferimentos.
Até o início da noite de ontem, Anderson não havia sido encontrado. Baião informou à polícia que teria feito um contato com o piloto, também residente em São José do Rio Preto, por telefone, mas não se lembrava o número.
O proprietário disse à polícia que a queda do monomotor foi causada pelo superaquecimento nos motores, que obrigou o piloto a fazer um pouso forçado.
Baião disse ao delegado que, quando o avião foi pousar, os trens de pouso não funcionaram e a aeronave bateu no chão e rodopiou na pista.
Baião foi liberado após prestar depoimento. O delegado responsável pelo caso abriu inquérito para apurar as causas do acidente e se houve algum crime.
O delegado de Morro Agudo informou que, no dia 25 de fevereiro de 1999, um avião bimotor caiu no mesmo local onde ocorreu a queda de anteontem.
Dois dias depois, um intenso movimento no local chamou a atenção de trabalhadores rurais, que encontraram a aeronave e acionaram a polícia. "A movimentação ocorreu porque estavam providenciando a remoção da aeronave. Mas eles levantaram suspeitas", disse Batistussi.
Na ocasião, a polícia encontrou resíduos de cocaína no carpete do avião, que estava sem os bancos, o que, segundo o delegado, é uma prática comum em aeronaves usadas no transporte de entorpecentes.
O proprietário do bimotor, Luiz Ricardo Medeiros, de Ribeirão, e o piloto, Carlos Alberto Castelli, de Penápolis, negaram o envolvimento com o tráfico durante depoimento. Eles alegaram que o avião estava voltando de uma oficina em Penápolis e indo para Franca, onde ficaria à disposição do proprietário.
Nos últimos três anos, a polícia apreendeu aproximadamente meia tonelada de drogas que chegou a região por via aérea.
Segundo o deputado Renato Simões (PT), da CPI, esse tipo de transporte é muito utilizado devido à falta de fiscalização do espaço aéreo no estado.
"Os traficantes utilizam pequenos aviões, geralmente monomotores ou bimotores, que voam baixo e dificilmente são detectados por radares", disse.


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