Ribeirão Preto, Domingo, 14 de Novembro de 2010

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Indecisão "tortura" moradores de favela

Costureira pernambucana, que mora em área a ser desapropriada, vive há 13 anos indefinição sobre o futuro

Moradores do entorno do Leite Lopes temem sair e receber somente o valor venal dos imóveis, abaixo do valor real

DE RIBEIRÃO PRETO

A permanência ou a ampliação das atividades no Leite Lopes, em Ribeirão, não envolve apenas os números de voos ou potencial de exportação das empresas locais, mas também a retirada das famílias que se instalaram ao lado do aeroporto.
Apesar de a prefeitura já ter anunciado a remoção de alguns moradores da favela da Mata, a indecisão ainda "tortura" principalmente aqueles que não sabem como será o processo de desapropriação na região.
A costureira pernambucana Josefa Maria de Sá, 63, mudou-se de São Paulo para Ribeirão há 15 anos e comprou uma casa de 132 m2 ao lado do aeroporto Leite Lopes. Ela ainda guarda a documentação.
Dois anos depois da compra, ela começou a ouvir que os moradores daquela área teriam de deixar o local. "São 13 anos sem saber o que vai ser da vida", afirmou ela, que mora com o neto de seis anos e divide a propriedade com uma ex-nora.
"As pessoas falam do barulho dos aviões, mas o que tira o sono da gente mesmo é não ter uma definição sobre esse assunto. Penso em fazer melhorias, mas não sei se vão pagar o valor venal depois para me tirar daqui."
A situação é a mesma para Camilo Damião Furtado das Neves, 44, e sua mulher, Alessandra dos Santos Fernandes, 32. O casal vive há cinco anos com quatro filhos na favela da Mata e espera ganhar uma casa em outra região da cidade.
"Só que a gente não tem notícia de como vai ser, se vai acontecer mesmo. Eu trabalho num ferro-velho a cinco minutos daqui. Se sair daqui, como fica o trabalho? Essas coisas todas deixam todo mundo preocupado."
O pedreiro José Maria Lacerda Pontes, 48, mora em uma casa de alvenaria com a mulher logo na entrada da rua América, pela avenida Thomaz Alberto Whately. O drama dele é o mesmo da costureira Josefa.
"Uma casa como a minha hoje vale R$ 40 mil, mas se me tirarem daqui pagando valor venal vou receber R$ 3.000, R$ 4.000. O que é que a gente vai fazer com esse dinheiro?", questionou.


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