Ribeirão Preto, Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Medicina é curso da UFSCar que mais mobiliza indígenas

Dos 102 que foram inscritos no vestibular deste ano, 22 optaram pelo curso

Abaixo estão outros três cursos ligados à área da saúde; comunidades escolhem que tipo de graduação é prioridade

VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

O curso de medicina foi o mais procurado por candidatos indígenas na segunda edição do vestibular específico para a etnia que será feito pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). As provas serão realizadas nos dias 4 e 5 de fevereiro, no campus de São Carlos.
Foram feitas 111 inscrições, sendo que 102 delas foram deferidas pela universidade. Medicina lidera a procura, com 22 candidatos, seguida por outros três cursos relacionados à saúde: enfermagem (13), fisioterapia (9) e educação física (8). No ano passado, os cursos mais procurados foram medicina (25), educação física (14) e fisioterapia (11).
Segundo o sociólogo Danilo de Souza Morais, assessor do grupo gestor do Programa de Ações Afirmativas da UFSCar, são as comunidades indígenas que indicam os candidatos para o vestibular e os ajudam a escolher o curso. "A inserção do índio na universidade muitas vezes diz respeito à sobrevivência da comunidade. E, se levarmos em conta a situação precária em que vivem alguns índios, é possível explicar a procura por cursos de saúde", disse.
Assim como no vestibular tradicional da UFSCar, os índios que tentam uma vaga de graduação não podem tirar zero em nenhuma das provas e precisam atingir um resultado mínimo. O conteúdo é o mesmo de um vestibular tradicional, mas o formato das provas é diferente. No caso do vestibular para indígenas, além da prova com questões de múltipla escolha e redação, os candidatos fazem uma prova oral.
No ano passado, 16 indígenas passaram no vestibular da UFSCar para os cursos de medicina, enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, educação física, engenharia da computação, engenharia de produção, engenharia agronômica, estatística, turismo, imagem e som, ciências sociais e filosofia.
Houve duas desistências. Uma aluna de pedagogia deixou a faculdade alegando saudade dos filhos -eles continuaram na aldeia enquanto ela estudava-, e outro aluno, cujo curso não foi informado pela universidade, foi embora do campus sem dizer o motivo.
A adaptação dos indígenas à vida universitária é apontada como uma das dificuldades para a inserção no mundo acadêmico. "Para mim, que nunca tinha saído da aldeia, ficar separada da minha família, longe dos meus dois filhos, vivendo com os outros estudantes que não são índios e têm outros costumes, foi muito difícil no começo", disse Jiene Pio, 25, aluna do curso de filosofia.
A estudante, que conversou com a Folha por celular de uma aldeia em Avaí, na região de Bauru, é da etnia terena, a mesma de 55 candidatos ao vestibular deste ano. A UFSCar é a única universidade do Estado a oferecer reserva de cota para indígenas e a única no país a reservar uma vaga para esses candidatos em todos os cursos que oferece, por meio de um vestibular específico.


Texto Anterior: Painel Regional
Próximo Texto: São Carlos: Suspensa, semiliberdade deve ser retomada no mês que vem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.