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Medicina é curso da UFSCar que mais mobiliza indígenas
Dos 102 que foram inscritos no vestibular deste ano, 22 optaram pelo curso
Abaixo estão outros três cursos ligados à área da saúde; comunidades escolhem que tipo de graduação é prioridade
VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
O curso de medicina foi o
mais procurado por candidatos
indígenas na segunda edição do
vestibular específico para a etnia que será feito pela UFSCar
(Universidade Federal de São
Carlos). As provas serão realizadas nos dias 4 e 5 de fevereiro, no campus de São Carlos.
Foram feitas 111 inscrições,
sendo que 102 delas foram deferidas pela universidade. Medicina lidera a procura, com 22
candidatos, seguida por outros
três cursos relacionados à saúde: enfermagem (13), fisioterapia (9) e educação física (8). No
ano passado, os cursos mais
procurados foram medicina
(25), educação física (14) e fisioterapia (11).
Segundo o sociólogo Danilo
de Souza Morais, assessor do
grupo gestor do Programa de
Ações Afirmativas da UFSCar,
são as comunidades indígenas
que indicam os candidatos para
o vestibular e os ajudam a escolher o curso. "A inserção do índio na universidade muitas vezes diz respeito à sobrevivência
da comunidade. E, se levarmos
em conta a situação precária
em que vivem alguns índios, é
possível explicar a procura por
cursos de saúde", disse.
Assim como no vestibular
tradicional da UFSCar, os índios que tentam uma vaga de
graduação não podem tirar zero em nenhuma das provas e
precisam atingir um resultado
mínimo. O conteúdo é o mesmo de um vestibular tradicional, mas o formato das provas é
diferente. No caso do vestibular
para indígenas, além da prova
com questões de múltipla escolha e redação, os candidatos fazem uma prova oral.
No ano passado, 16 indígenas
passaram no vestibular da
UFSCar para os cursos de medicina, enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, educação física, engenharia da computação, engenharia
de produção, engenharia agronômica, estatística, turismo,
imagem e som, ciências sociais
e filosofia.
Houve duas desistências.
Uma aluna de pedagogia deixou a faculdade alegando saudade dos filhos -eles continuaram na aldeia enquanto ela estudava-, e outro aluno, cujo
curso não foi informado pela
universidade, foi embora do
campus sem dizer o motivo.
A adaptação dos indígenas à
vida universitária é apontada
como uma das dificuldades para a inserção no mundo acadêmico. "Para mim, que nunca tinha saído da aldeia, ficar separada da minha família, longe
dos meus dois filhos, vivendo
com os outros estudantes que
não são índios e têm outros costumes, foi muito difícil no começo", disse Jiene Pio, 25, aluna do curso de filosofia.
A estudante, que conversou
com a Folha por celular de
uma aldeia em Avaí, na região
de Bauru, é da etnia terena, a
mesma de 55 candidatos ao
vestibular deste ano. A UFSCar
é a única universidade do Estado a oferecer reserva de cota
para indígenas e a única no país
a reservar uma vaga para esses
candidatos em todos os cursos
que oferece, por meio de um
vestibular específico.
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