Ribeirão Preto, Terça-feira, 17 de Agosto de 2010

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Promotoria apura abuso em treino de vigilantes

Vendado, grupo rastejou na lama à noite, sob as ordens de guardas civis

Vídeo do treinamento para vigias de escolas de em Sertãozinho tem gritos e som de tiro; chefe da GCM acha "ok"

HÉLIA ARAUJO
JULIANA COISSI
ENVIADAS ESPECIAIS A SERTÃOZINHO

Com vendas nos olhos, mulheres e homens cobertos de barro andam em fila no breu de um matagal. Em volta, ouvem ordens e avisos de que há cobras no caminho.
Ainda sem enxergar, o grupo rasteja em um pequeno lago de lama e leva água fria nas costas. Há som de gritos, de choque elétrico e do que parece ser um tiro.
A cena descrita não é de treino na selva do Exército. Trata-se de um treinamento para vigilantes de escolas municipais de Sertãozinho.
As fotos e um vídeo, obtidos pela Folha com exclusividade, já tinham sido encaminhados ao Ministério Público Estadual, que investiga a possibilidade de abuso.
O curso foi ministrado pela Guarda Civil Municipal de Sertãozinho, em 2009.
As fotos mostram um grupo, a maioria mulheres, usando camiseta com a inscrição "Equipe Tática -Treinamento", com os olhos tampados. Em fila, mulheres escondem o nariz ou prendem a respiração, supostamente pelo uso de gás de pimenta.
No vídeo, ouve-se o som de tiro e gritos de medo e também de alerta: "Cuidado com o chão" e "Olha, chama o bombeiro, que tem outra cobra aqui! Pega essa aqui que está se mexendo."
Em um momento do vídeo, ouve-se: "Ergue o pé". Logo surge o som de um aparelho de choque elétrico, com uma imagem de pequenos raios na tela escura. Depois, uma mulher grita: "Ai, meu pé!"
Ao estilo "Tropa de Elite", pode-se ouvir ao fundo: "Esse estrume que caiu, tira fora e leva para a Santa Casa."
O guarda civil Milton Pires, 40, disse que encaminhou as imagens ao Ministério Público há cerca de dois meses. A Folha procurou a Promotoria de Sertãozinho, que não quis se manifestar.
A reportagem conversou ontem com uma das vigilantes que participou do treinamento. Ela pediu o anonimato, mas confirmou que teve de andar à noite, de olhos vendados, em "um descampado". Lá rastejou na lama.
A vigilante disse que se cansou no treinamento, mas não viu abusos. "Eu acho que soma. Todo curso que você faz te dá uma nova carga de conhecimento."
O superintendente da Guarda Civil Municipal, Umberto Coelho da Silva, disse que o curso é apropriado e que ensina ao vigilante de escola como lidar em situações de tensão.

FOLHA.om
Veja o vídeo
folha.com.br/ct783828


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