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Promotoria apura abuso em treino de vigilantes
Vendado, grupo rastejou na lama à noite, sob as ordens de guardas civis
Vídeo do treinamento para vigias de escolas de em Sertãozinho tem gritos e som de tiro; chefe da GCM acha "ok"
HÉLIA ARAUJO
JULIANA COISSI
ENVIADAS ESPECIAIS A SERTÃOZINHO
Com vendas nos olhos,
mulheres e homens cobertos
de barro andam em fila no
breu de um matagal. Em volta, ouvem ordens e avisos de
que há cobras no caminho.
Ainda sem enxergar, o grupo
rasteja em um pequeno lago
de lama e leva água fria nas
costas. Há som de gritos, de
choque elétrico e do que parece ser um tiro.
A cena descrita não é de
treino na selva do Exército.
Trata-se de um treinamento
para vigilantes de escolas
municipais de Sertãozinho.
As fotos e um vídeo, obtidos
pela Folha com exclusividade, já tinham sido encaminhados ao Ministério Público
Estadual, que investiga a
possibilidade de abuso.
O curso foi ministrado pela
Guarda Civil Municipal de
Sertãozinho, em 2009.
As fotos mostram um grupo, a maioria mulheres,
usando camiseta com a inscrição "Equipe Tática -Treinamento", com os olhos tampados. Em fila, mulheres escondem o nariz ou prendem
a respiração, supostamente
pelo uso de gás de pimenta.
No vídeo, ouve-se o som de
tiro e gritos de medo e também de alerta: "Cuidado com
o chão" e "Olha, chama o
bombeiro, que tem outra cobra aqui! Pega essa aqui que
está se mexendo."
Em um momento do vídeo,
ouve-se: "Ergue o pé". Logo
surge o som de um aparelho
de choque elétrico, com uma
imagem de pequenos raios
na tela escura. Depois, uma
mulher grita: "Ai, meu pé!"
Ao estilo "Tropa de Elite",
pode-se ouvir ao fundo: "Esse estrume que caiu, tira fora
e leva para a Santa Casa."
O guarda civil Milton Pires, 40, disse que encaminhou as imagens ao Ministério Público há cerca de dois
meses. A Folha procurou a
Promotoria de Sertãozinho,
que não quis se manifestar.
A reportagem conversou
ontem com uma das vigilantes que participou do treinamento. Ela pediu o anonimato, mas confirmou que teve
de andar à noite, de olhos
vendados, em "um descampado". Lá rastejou na lama.
A vigilante disse que se
cansou no treinamento, mas
não viu abusos. "Eu acho que
soma. Todo curso que você
faz te dá uma nova carga de
conhecimento."
O superintendente da
Guarda Civil Municipal, Umberto Coelho da Silva, disse
que o curso é apropriado e
que ensina ao vigilante de escola como lidar em situações
de tensão.
FOLHA.om
Veja o vídeo
folha.com.br/ct783828
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