|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Hospital limita bênçãos de padres a pacientes
Beneficência de Araraquara restringe entrada de religioso ao horário de visitas
Norma gera polêmica e vai parar na polícia; hospital diz cumprir a lei e que não vai se manifestar sobre o protesto dos padres
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
O Hospital Beneficência Portuguesa de Araraquara restringiu apenas ao horário de visitas,
de uma hora e meia, o período
em que padres e demais religiosos podem dar bênçãos aos
doentes. A norma gerou não só
polêmica na cidade como se
tornou caso de polícia.
Os padres alegam que estão
sendo impedidos de entrar no
hospital nos demais horários.
Há dez dias, o padre Luiz Antenor decidiu registrar boletim de
ocorrência por ter sido barrado
na portaria.
Diante do impasse, os sacerdotes decidiram redigir um manifesto que está sendo lido nas
missas desde o último domingo.
"Não por nossa culpa ou omissão, ficaremos muitas vezes impossibilitados de oferecer assistência sacramental aos enfermos fora do horário de visitas",
diz trecho da carta dirigida aos
fiéis.
Pela norma do hospital -fixada na entrada do prédio há
dois anos, segundo a instituição-, os religiosos precisar ser
identificados com crachá, como
os demais visitantes, e a entrada deve ocorrer "dentro dos horários preestabelecidos".
O padre Nelson da Silva Ramos, que representa os vigários
do município, disse que também já foi barrado e que, desde
o ano passado, tenta convencer
a direção do hospital a mudar
de atitude.
"Fico triste pelo paciente. O
padre não demora mais do que
cinco minutos. Para nós e para
o próprio paciente, o horário de
visita é complicado, porque a
família está lá, o quarto está
cheio", disse.
A rotina de visitas a hospitais
funciona em forma de rodízio
pelos religiosos. Eles costumam
atender pedidos de paroquianos interessados na bênção,
mas há mulheres atuantes na
Pastoral da Saúde que também
costumam passar nos quartos
para perguntar aos doentes que
querem a visita de um sacerdote. Alguns dias, padres chegam a
atender de 15 a 20 pacientes.
Segundo o padre Oswaldo
Baldan, da paróquia São Bento,
não pode ser negado ao doente
a assistência espiritual, principalmente em casos graves -como a extrema-unção. "O doente
pode piorar, e fora do horário de
visitas. Atendimento espiritual
de urgência não tem hora para
acontecer."
O pároco conta que os outros
dois hospitais de Araraquara,
Santa Casa e Hospital São Paulo, nunca impediram a entrada
dos padres à noite ou de madrugada, quando a família -ou o
próprio paciente- solicita a visita do padre para bênção.
A lei
O Hospital Beneficência Portuguesa informou, via assessoria de imprensa, que cumpre a
lei e que não vai se manifestar
sobre o protesto dos padres. A
lei citada é a federal 9.982, de
2000. Em um dos artigos, ela
diz que os religiosos deverão
acatar "as determinações legais
e normais internas" de instituições hospitalares ou prisões.
A restrição, porém, é questionável, na opinião do advogado
da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Hugo
Sarubbi. Um dos artigos diz que
a lei deveria ser regulamentada
em 90 dias, o que não ocorreu,
segundo ele.
Na sua visão, porém, o que
falta mesmo é bom senso. "São
questões que transcendem o
direito. É uma questão de bom
senso, mais do que um normativismo frio."
Texto Anterior: Painel Regional Próximo Texto: Monomotor cai e mata instrutor de voo Índice
|