Ribeirão Preto, Quinta-feira, 17 de Setembro de 2009

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Hospital limita bênçãos de padres a pacientes

Beneficência de Araraquara restringe entrada de religioso ao horário de visitas

Norma gera polêmica e vai parar na polícia; hospital diz cumprir a lei e que não vai se manifestar sobre o protesto dos padres


JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

O Hospital Beneficência Portuguesa de Araraquara restringiu apenas ao horário de visitas, de uma hora e meia, o período em que padres e demais religiosos podem dar bênçãos aos doentes. A norma gerou não só polêmica na cidade como se tornou caso de polícia.
Os padres alegam que estão sendo impedidos de entrar no hospital nos demais horários. Há dez dias, o padre Luiz Antenor decidiu registrar boletim de ocorrência por ter sido barrado na portaria.
Diante do impasse, os sacerdotes decidiram redigir um manifesto que está sendo lido nas missas desde o último domingo. "Não por nossa culpa ou omissão, ficaremos muitas vezes impossibilitados de oferecer assistência sacramental aos enfermos fora do horário de visitas", diz trecho da carta dirigida aos fiéis.
Pela norma do hospital -fixada na entrada do prédio há dois anos, segundo a instituição-, os religiosos precisar ser identificados com crachá, como os demais visitantes, e a entrada deve ocorrer "dentro dos horários preestabelecidos".
O padre Nelson da Silva Ramos, que representa os vigários do município, disse que também já foi barrado e que, desde o ano passado, tenta convencer a direção do hospital a mudar de atitude.
"Fico triste pelo paciente. O padre não demora mais do que cinco minutos. Para nós e para o próprio paciente, o horário de visita é complicado, porque a família está lá, o quarto está cheio", disse.
A rotina de visitas a hospitais funciona em forma de rodízio pelos religiosos. Eles costumam atender pedidos de paroquianos interessados na bênção, mas há mulheres atuantes na Pastoral da Saúde que também costumam passar nos quartos para perguntar aos doentes que querem a visita de um sacerdote. Alguns dias, padres chegam a atender de 15 a 20 pacientes.
Segundo o padre Oswaldo Baldan, da paróquia São Bento, não pode ser negado ao doente a assistência espiritual, principalmente em casos graves -como a extrema-unção. "O doente pode piorar, e fora do horário de visitas. Atendimento espiritual de urgência não tem hora para acontecer."
O pároco conta que os outros dois hospitais de Araraquara, Santa Casa e Hospital São Paulo, nunca impediram a entrada dos padres à noite ou de madrugada, quando a família -ou o próprio paciente- solicita a visita do padre para bênção.

A lei
O Hospital Beneficência Portuguesa informou, via assessoria de imprensa, que cumpre a lei e que não vai se manifestar sobre o protesto dos padres. A lei citada é a federal 9.982, de 2000. Em um dos artigos, ela diz que os religiosos deverão acatar "as determinações legais e normais internas" de instituições hospitalares ou prisões.
A restrição, porém, é questionável, na opinião do advogado da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Hugo Sarubbi. Um dos artigos diz que a lei deveria ser regulamentada em 90 dias, o que não ocorreu, segundo ele.
Na sua visão, porém, o que falta mesmo é bom senso. "São questões que transcendem o direito. É uma questão de bom senso, mais do que um normativismo frio."


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