|
Próximo Texto | Índice
Prorrogação da safra ameaça o Natal de 5.000 migrantes
Seis grandes usinas da região mantêm bóias-frias cortando cana até as vésperas da festa, adiando o acerto e as viagens
"Como eles levam cerca de três dias para chegar em casa, muitos só chegarão na noite do dia 25", afirma Inês Facioli, da Pastoral
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO
A prorrogação do fim da safra
da cana-de-açúcar em algumas
usinas da região de Ribeirão
Preto pode fazer com que pelo
menos 5.000 trabalhadores migrantes que vêm de Estados como Piauí, Paraíba, Ceará e Maranhão passem, pela primeira
vez, a noite de Natal dentro dos
ônibus fretados, na viagem de
volta para casa.
Segundo informação dos
principais sindicatos de trabalhadores rurais da região, ao
menos seis grandes usinas
mantêm até o fim desta semana
o corte da cana. O acerto de
contas em todas elas ficou prometido para os próximos dias
22 ou 23, às vésperas do Natal.
"Como eles levam cerca de
três dias para chegar em casa,
além de terem que trocar o cheque do acerto, muitos só chegarão na noite do dia 25", disse a
irmã Inês Facioli, da Pastoral
do Migrante, em Guariba.
Segundo a Unica (União da
Indústria de Cana-de-Açúcar),
a queda da entressafra foi motivada pelo aumento da demanda
e pelas condições climáticas no
início da safra. A entidade disse
que não comentaria questões
trabalhistas de suas afiliadas.
Um levantamento da Pastoral do Migrante, concluído em
novembro, cadastrou 52 mil
migrantes em 1.657 residências
visitadas em 26 cidades da região. Com a amostragem, a entidade estima que 70 mil vieram de fora trabalhar nas lavouras da região neste ano.
Só em Guariba, cerca de
2.000 migrantes, que cortam
cana para as usinas Maringá,
São Carlos, Bonfim e Moreno,
ainda não foram dispensados e
podem não chegar a suas casas
a tempo do Natal. Em Ipuã, cerca de 1.000 trabalhadores de
usina ligada ao grupo Santelisa
vivem a mesma situação.
A Cerp (Central Energética
Ribeirão Preto), antiga usina
Galo Bravo, de Ribeirão Preto,
também tem cerca de 500 funcionários nessa situação, segundo o sindicato.
"Eles foram dispensando aos
poucos, mas ainda tem gente
cortando e eles já reclamaram
que devem perder o Natal", disse o presidente do sindicato de
Ribeirão, Sílvio Palvequeres.
"Vejo isso como uma falta de
visão humanística, que vai contra o espírito do Natal", disse a
irmã Inês, da Pastoral.
A atitude das usinas não tem
nada de ilegal, segundo o procurador José Fernando Ruiz
Maturana. "Do ponto de vista
social, é um problema, mas, no
trabalhista, entende-se que
quanto mais tempo trabalhado,
melhor. As usinas têm este direito, pois o contrato é por tempo indeterminado."
A reportagem tentou, mas
não conseguiu ouvir a direção
das usinas Maringá, São Carlos
e Cerp. A Santelisa informou
apenas que fará a rescisão dentro das leis trabalhistas.
Próximo Texto: Região mantém domínio no ranking da cana no país Índice
|