Ribeirão Preto, Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008

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Prorrogação da safra ameaça o Natal de 5.000 migrantes

Seis grandes usinas da região mantêm bóias-frias cortando cana até as vésperas da festa, adiando o acerto e as viagens

"Como eles levam cerca de três dias para chegar em casa, muitos só chegarão na noite do dia 25", afirma Inês Facioli, da Pastoral


ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO

A prorrogação do fim da safra da cana-de-açúcar em algumas usinas da região de Ribeirão Preto pode fazer com que pelo menos 5.000 trabalhadores migrantes que vêm de Estados como Piauí, Paraíba, Ceará e Maranhão passem, pela primeira vez, a noite de Natal dentro dos ônibus fretados, na viagem de volta para casa.
Segundo informação dos principais sindicatos de trabalhadores rurais da região, ao menos seis grandes usinas mantêm até o fim desta semana o corte da cana. O acerto de contas em todas elas ficou prometido para os próximos dias 22 ou 23, às vésperas do Natal.
"Como eles levam cerca de três dias para chegar em casa, além de terem que trocar o cheque do acerto, muitos só chegarão na noite do dia 25", disse a irmã Inês Facioli, da Pastoral do Migrante, em Guariba.
Segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), a queda da entressafra foi motivada pelo aumento da demanda e pelas condições climáticas no início da safra. A entidade disse que não comentaria questões trabalhistas de suas afiliadas.
Um levantamento da Pastoral do Migrante, concluído em novembro, cadastrou 52 mil migrantes em 1.657 residências visitadas em 26 cidades da região. Com a amostragem, a entidade estima que 70 mil vieram de fora trabalhar nas lavouras da região neste ano.
Só em Guariba, cerca de 2.000 migrantes, que cortam cana para as usinas Maringá, São Carlos, Bonfim e Moreno, ainda não foram dispensados e podem não chegar a suas casas a tempo do Natal. Em Ipuã, cerca de 1.000 trabalhadores de usina ligada ao grupo Santelisa vivem a mesma situação.
A Cerp (Central Energética Ribeirão Preto), antiga usina Galo Bravo, de Ribeirão Preto, também tem cerca de 500 funcionários nessa situação, segundo o sindicato.
"Eles foram dispensando aos poucos, mas ainda tem gente cortando e eles já reclamaram que devem perder o Natal", disse o presidente do sindicato de Ribeirão, Sílvio Palvequeres.
"Vejo isso como uma falta de visão humanística, que vai contra o espírito do Natal", disse a irmã Inês, da Pastoral.
A atitude das usinas não tem nada de ilegal, segundo o procurador José Fernando Ruiz Maturana. "Do ponto de vista social, é um problema, mas, no trabalhista, entende-se que quanto mais tempo trabalhado, melhor. As usinas têm este direito, pois o contrato é por tempo indeterminado."
A reportagem tentou, mas não conseguiu ouvir a direção das usinas Maringá, São Carlos e Cerp. A Santelisa informou apenas que fará a rescisão dentro das leis trabalhistas.


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