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A fama de "Califórnia Brasileira", que foi propagada durante a década de 80, só trouxe problemas sociais para Ribeirão Preto.
A opinião é um consenso entre os representantes de diversos setores ouvidos pela Folha.
De acordo com o diretor do Instituto de Pesquisas Sociais da ACI-RP (Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto), Antônio Vicente Golfeto, os reflexos provocados pelo mito sobre a cidade, que foi considerada um paraíso tropical como a Califórnia americana, estão visíveis agora.
"Como todo mito, o slogan criado para a cidade foi uma mentira e só serviu para atrair imigrantes predadores", diz.
Na época em que a fama foi difundida, o Brasil estava no auge do programa Proálcool, e as 45 usinas da região produziam mais de um terço do produto consumido em todo o território nacional.
De acordo com Golfeto, apesar da falta de estrutura da cidade para absorver os imigrantes que chegaram ao município atraídos pelo mito, ainda existe algo para se comemorar.
"Se compararmos Ribeirão Preto da década de 70 com agora, veremos que o seu PIB (Produto Interno Bruto) praticamente duplicou. Isso é um bom sinal e não podemos negar que um pouco se deve ao fato do slogan", afirma.
O urbanista Evandro Cardoso diz acreditar que a falta de infra-estrutura para receber os imigrantes acabou refletindo a disparidade social no período.
"A falta de oportunidade acabou sendo refletida nas condições habitacionais precárias, como as favelas", diz Cardoso.
Para o sociólogo Augusto Cacia-Bava, o mito da "Califórnia" está relacionado com a cultura difundida na cidade desde a época dos barões do café.
"Ainda acreditamos que a cidade vive de uma única fonte, mas isso não é verdade. O município abriga desde empresas até grandes universidades", afirma.
A pesquisadora Luciana Suarez Galvão Pinto diz concordar com a opinião do sociólogo. Para ela, a cidade sempre viveu de mitos.
"Não é a primeira vez que Ribeirão é chamada de "Califórnia". Na época áurea do café, a cidade já era chamada de 'Califórnia do Café'", afirma Luciana.

O mito da cana
O primeiro engenho de cana, principal responsável pelo mito da "Califórnia", surgiu em 1903, quando o fazendeiro Francisco Schimidt comprou a fazenda Pocinhos e começou, depois de muitas pesquisas, a produzir açúcar, álcool e aguardente.
Na década de 70, a região de Ribeirão Preto era a maior produtora de cana do Brasil.


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