Ribeirão Preto, Sábado, 19 de Junho de 2010

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154 ANOS ESTRANGEIROS

Estrangeiros da Copa "adotam" Ribeirão

Para comemorar o aniversário, a Folha procurou referências da cidade no olhar daqueles que vêm de fora

Histórias mostram que experiências pessoais no Brasil, mesmo as mais efêmeras, quase sempre são marcantes

Márcia Ribeiro/Folha Imagem
Estrangeiros que moram em Ribeirão "entram no clima" da Copa no estádio Santa Cruz

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO
PAULO GODOY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE RIBEIRÃO PRETO

Ribeirão Preto, que completa 154 anos de fundação hoje, foi forjada por mãos imigrantes. Da força de trabalho escrava trazida da África para a colheita do café passou para as mãos de imigrantes italianos e japoneses. O meio urbano se ergueu com a labuta de operários europeus.
Atualmente, a maior cidade do nordeste paulista, com 563 mil moradores, é sede de uma região com 89 municípios e perto de 3,3 milhões de habitantes.
Para marcar o aniversário, a Folha procurou referências dessa cidade no olhar de quem vem de fora, de pessoas que deixaram seus países e chegaram a Ribeirão para trabalhar, estudar, fugir da pobreza, buscar melhores condições de vida ou apenas conhecer.
Em ano de Copa, a reportagem focou representantes das seleções que estão disputando o Mundial da África do Sul. Foram procuradas pessoas nascidas nos 31 países -o 32º é o Brasil.
O trabalho não foi fácil, principalmente quando a busca se concentrou sobre Sérvia, Eslovênia, Eslováquia, Honduras, Argélia, Costa do Marfim e Gana. Não é possível dizer que não existam nativos desses países ou seus descendentes morando em Ribeirão, mas o fato é que a procura se encerrou sem que um só fosse localizado.
Nos depoimentos coletados há algo de frustração e de estranhamento, mas muito de realização pessoal e de superação em relação à cidade e ao Brasil.
São histórias que mostram que experiências pessoais no Brasil, mesmo as mais efêmeras, podem mudar conforme a época, a classe social e a idade de quem imigra, mas que quase sempre são marcantes. No microcosmo representado por Ribeirão, esse mosaico se repete, como o leitor poderá constatar nas próximas páginas.
A história dos forasteiros se entrelaça com a da cidade. A Ribeirão rural passa pela vida do japonês Yukio, cujos pais tornaram-se colonos em fazendas de café. No mar de canaviais que cerca a cidade, o australiano John encontrou o cenário perfeito para seus negócios, assim como foi a cana-de-açúcar que também atraiu a família da sul-africana Rose há 34 anos.
A cidade das oportunidades trouxe o sul-coreano Max e o espanhol Hugo, que aqui abriram seus negócios. A família da paraguaia Juana veio atrás de emprego, mesmo motivo da uruguaia Ana Verônica e o marido.
Nos anos 50, jovens como o italiano Tullio, o grego Athanase e o português Manuel, ainda adolescente, deixaram a pobreza da Europa pós-Segunda Guerra Mundial para começar vida nova em Ribeirão.
Na educação, a babel se repete. O campus da USP de Ribeirão que já tinha atraído estrangeiros como o nigeriano Rascheed, nos anos 1970, hoje recebe alunos e professores do exterior, caso das mexicanas Daniella e Marcela, e do alemão Klaus e do neozelandês John.
Ribeirão também é terra de sonhos para o jovem camaronês Arnold. De família pobre, como muitos meninos brasileiros, ele está em Ribeirão treinando futebol. Seu sonho: usar seu talento para ajudar a família.
E existe espaço também para histórias de amor. Foi o amor que atraiu a americana Martina, o inglês Stephen, o argentino Juan e o francês Alain.
Com uma ou outra exceção, o que se nota é que, passada a fase em que tudo é inóspito, o convívio e as raízes se fortalecem e Ribeirão ganha mais "filhos".


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