Ribeirão Preto, Sábado, 19 de Junho de 2010

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154 ANOS ESTRANGEIROS

Liberdade de escolha no país encanta sul-africana

Há 34 anos no Brasil, professora relata que estranhou a mistura de raças

"Quando me perguntam de onde eu sou, falo que sou de Ribeirão; aqui eu casei e descasei e aqui minha filha nasceu"

DE RIBEIRÃO PRETO

A casa de Roselyne Lesur fica longe do centro de Ribeirão. Na frente do imóvel, não há vizinhos, só muito verde, silêncio e pouco movimento.
O lugar, a residência, no bairro Ribeirão Verde, são apenas contrapontos à vida agitada que essa professora de inglês acreditava que iria levar quando deixasse a casa da família, na África do Sul.
Ela estava prestes a deixar a sombra protetora da família e a se mudar para um apartamento com amigos, quando, em 1976, aos 18 anos, se mudou com pai, mãe e irmãos para o Brasil contra a sua vontade.
Gérard Lesur, o pai, engenheiro químico, veio trabalhar na Fazenda Amália, em Santa Rosa do Viterbo.
A lembrança que tinha da África do Sul até 2006, ano em que regressou pela primeira vez, era a de um país próspero, mas manchado pelo apartheid, o regime de segregação racial que vigorou de 1948 a 1994, terminando com a eleição de Nelson Mandela para a presidência.
Da África do Sul em que viveu até perto de chegar à vida adulta, ela lembra bem. Brancos de um lado, negros do outro; indianos ainda mais separados.
O status quo era tão assimilado pelos brancos que a professora diz nunca ter percebido se o que vivia era errado, se era ou não racismo.
"Para nós, as coisas eram certas, com negros separados, cada um no seu lugar. Até que você sai de lá e percebe que as coisas são diferentes", disse a professora.
No Brasil, ao chegar, o choque não poderia ter sido maior. Não entendia como uma família negra poderia ter uma empregada branca. Quando apresentava amigos negros em casa, o pai "dava pulos dessa altura".
Na sua relação com Ribeirão Preto, e mais amplamente com o próprio país, a professora Rose diz que o que mais preza é a liberdade de escolha, seja de uma religião, das pessoas com quem quer andar ou até mesmo do horário que decide chegar em casa, algo impossível em seu país de origem.
"Eu me considero ribeirão-pretana. Quando me perguntam de onde eu sou, falo que sou de Ribeirão. Aqui eu casei e descasei e aqui minha filha nasceu", diz a professora.
Após crescer assistindo a partidas de rúgbi e críquete, esportes dominantes na África do Sul, a professora Rose não pensou duas vezes para responder quem ganhará a Copa: "Mas é claro que é o Brasil".
(PAULO GODOY)

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