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154 ANOS ESTRANGEIROS
Liberdade de escolha no país encanta sul-africana
Há 34 anos no Brasil, professora relata que estranhou a mistura de raças
"Quando me perguntam de onde eu sou, falo que sou de Ribeirão; aqui eu casei e descasei e aqui minha filha nasceu"
DE RIBEIRÃO PRETO
A casa de Roselyne Lesur
fica longe do centro de Ribeirão. Na frente do imóvel, não
há vizinhos, só muito verde,
silêncio e pouco movimento.
O lugar, a residência, no
bairro Ribeirão Verde, são
apenas contrapontos à vida
agitada que essa professora
de inglês acreditava que iria
levar quando deixasse a casa
da família, na África do Sul.
Ela estava prestes a deixar
a sombra protetora da família e a se mudar para um
apartamento com amigos,
quando, em 1976, aos 18
anos, se mudou com pai,
mãe e irmãos para o Brasil
contra a sua vontade.
Gérard Lesur, o pai, engenheiro químico, veio trabalhar na Fazenda Amália, em
Santa Rosa do Viterbo.
A lembrança que tinha da
África do Sul até 2006, ano
em que regressou pela primeira vez, era a de um país
próspero, mas manchado pelo apartheid, o regime de segregação racial que vigorou
de 1948 a 1994, terminando
com a eleição de Nelson
Mandela para a presidência.
Da África do Sul em que viveu até perto de chegar à vida
adulta, ela lembra bem.
Brancos de um lado, negros
do outro; indianos ainda
mais separados.
O status quo era tão assimilado pelos brancos que a
professora diz nunca ter percebido se o que vivia era errado, se era ou não racismo.
"Para nós, as coisas eram
certas, com negros separados, cada um no seu lugar.
Até que você sai de lá e percebe que as coisas são diferentes", disse a professora.
No Brasil, ao chegar, o
choque não poderia ter sido
maior. Não entendia como
uma família negra poderia
ter uma empregada branca.
Quando apresentava amigos
negros em casa, o pai "dava
pulos dessa altura".
Na sua relação com Ribeirão Preto, e mais amplamente com o próprio país, a professora Rose diz que o que
mais preza é a liberdade de
escolha, seja de uma religião,
das pessoas com quem quer
andar ou até mesmo do horário que decide chegar em casa, algo impossível em seu
país de origem.
"Eu me considero ribeirão-pretana. Quando me perguntam de onde eu sou, falo que
sou de Ribeirão. Aqui eu casei e descasei e aqui minha filha nasceu", diz a professora.
Após crescer assistindo a
partidas de rúgbi e críquete,
esportes dominantes na África do Sul, a professora Rose
não pensou duas vezes para
responder quem ganhará a
Copa: "Mas é claro que é o
Brasil".
(PAULO GODOY)
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