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154 ANOS ESTRANGEIROS
Nigeriano adotou Ribeirão há 30 anos
Vindo de uma Nigéria rica em petróleo, Rasheed teve a oportunidade de estudar no exterior e escolheu o Brasil
"Eu achava que o Brasil era um país comunista e racista, mas não vi isso", diz médico que prefere
o atletismo ao futebol
DE RIBEIRÃO PRETO
É com espírito de orgulho
que o médico Rasheed Abayomi Olusegun Shidi, 56, fala
de uma Nigéria bem distante
do senso comum.
Rasheed, que mora em Ribeirão Preto há 30 anos, lembra-se de uma época de ouro,
nos anos 60, quando a descoberta do petróleo atraiu para
o seu país empresas multinacionais e muitos dólares.
Ele conta que o governo
militar da Nigéria trocou o
petróleo por tecnologia e conhecimento. Uma das contrapartidas esperadas dos
países parceiros era oferecer
vagas em suas melhores universidades para jovens nigerianos com boas relações.
Filho de um funcionário
de multinacional, Rasheed
conta que sempre teve sorte
na vida e conseguiu bolsas
para bons colégios. A mesma
sorte lhe sorriu outra vez
quando concluiu o curso preparatório de medicina.
Sendo o mais velho dos 21
filhos, ganhou a oportunidade de estudar no exterior. Como permite a cultura islâmica, o pai de Rasheed casou-se
com três mulheres. A família
é de origem yoruba, tradicional etnia da África.
O jovem tinha opções de
bolsas em universidades dos
Estados Unidos e de Cuba.
"Mas meu pai me estimulou
a vir para o Brasil. Hoje, agradeço muito a ele."
Rasheed desembarcou em
São Paulo em 1976. Não sabia
nada sobre o país -pensou
que, por estar na América, o
idioma fosse o inglês.
Trouxe na bagagem informações dadas pelos militares
de que chegaria a um país comunista e muito racista.
"Mas quando eu desembarquei e vi pretos trabalhando
no aeroporto, bem vestidos...
Não encontrei o racismo que
me falaram, não."
Um ano depois, Rasheed
se mudou para Ribeirão para
estudar na Faculdade de Medicina da USP. Na época, ele
diz ter encontrado uma cidade calma. Costumava frequentar o Pinguim com os
amigos -para tomar canja.
Trinta anos depois, Rasheed, que montou seu consultório na Vila Tibério, impressiona-se com o crescimento populacional do bairro e de toda a cidade.
Rasheed não gosta de futebol -prefere o atletismo. Perguntado sobre o impacto que
a Copa do Mundo deste ano
deixará no continente africano, diz que prefere esperar
para ver.
(JULIANA COISSI)
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