Ribeirão Preto, Sábado, 19 de Junho de 2010

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154 ANOS ESTRANGEIROS

Nigeriano adotou Ribeirão há 30 anos

Vindo de uma Nigéria rica em petróleo, Rasheed teve a oportunidade de estudar no exterior e escolheu o Brasil

"Eu achava que o Brasil era um país comunista e racista, mas não vi isso", diz médico que prefere o atletismo ao futebol

DE RIBEIRÃO PRETO

É com espírito de orgulho que o médico Rasheed Abayomi Olusegun Shidi, 56, fala de uma Nigéria bem distante do senso comum.
Rasheed, que mora em Ribeirão Preto há 30 anos, lembra-se de uma época de ouro, nos anos 60, quando a descoberta do petróleo atraiu para o seu país empresas multinacionais e muitos dólares.
Ele conta que o governo militar da Nigéria trocou o petróleo por tecnologia e conhecimento. Uma das contrapartidas esperadas dos países parceiros era oferecer vagas em suas melhores universidades para jovens nigerianos com boas relações.
Filho de um funcionário de multinacional, Rasheed conta que sempre teve sorte na vida e conseguiu bolsas para bons colégios. A mesma sorte lhe sorriu outra vez quando concluiu o curso preparatório de medicina.
Sendo o mais velho dos 21 filhos, ganhou a oportunidade de estudar no exterior. Como permite a cultura islâmica, o pai de Rasheed casou-se com três mulheres. A família é de origem yoruba, tradicional etnia da África.
O jovem tinha opções de bolsas em universidades dos Estados Unidos e de Cuba. "Mas meu pai me estimulou a vir para o Brasil. Hoje, agradeço muito a ele."
Rasheed desembarcou em São Paulo em 1976. Não sabia nada sobre o país -pensou que, por estar na América, o idioma fosse o inglês.
Trouxe na bagagem informações dadas pelos militares de que chegaria a um país comunista e muito racista. "Mas quando eu desembarquei e vi pretos trabalhando no aeroporto, bem vestidos... Não encontrei o racismo que me falaram, não."
Um ano depois, Rasheed se mudou para Ribeirão para estudar na Faculdade de Medicina da USP. Na época, ele diz ter encontrado uma cidade calma. Costumava frequentar o Pinguim com os amigos -para tomar canja.
Trinta anos depois, Rasheed, que montou seu consultório na Vila Tibério, impressiona-se com o crescimento populacional do bairro e de toda a cidade.
Rasheed não gosta de futebol -prefere o atletismo. Perguntado sobre o impacto que a Copa do Mundo deste ano deixará no continente africano, diz que prefere esperar para ver.
(JULIANA COISSI)


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