Ribeirão Preto, Sábado, 19 de Junho de 2010

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154 ANOS ESTRANGEIROS

Sonho de ser jogador move camaronês

Sozinho, garoto de 14 anos deixou Camarões, no continente africano, para treinar futebol em Ribeirão Preto

Adolescente quer ser profissional para jogar na Europa, ganhar dinheiro e ajudar seus pais a sair da pobreza

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE RIBEIRÃO PRETO

As únicas coisas que Arnold Meveng Gaston se lembra de ter pensado antes de o avião que o traria da África do Sul para São Paulo decolar era no oceano que divide os dois continentes. Era muita água para o garoto que, pela primeira vez, viajava sozinho. Por isso, disse, rezou muito durante o voo.
Nascido na República dos Camarões, país da África Equatorial com, aproximadamente, 18 milhões de habitantes, Gaston está conseguindo realizar parte do sonho que alimenta o cotidiano de milhões de crianças e adolescentes de sua idade mundo afora.
Aos 14 anos, ele treina futebol. Quer ser profissional e ir para a Europa.
Antes de chegar ao Brasil, em 20 de janeiro, passou pela capital camaronesa, Yaoundé, deixando para trás o interior pobre, o pai, a mãe e os seis irmãos. Não sabia nada do país, muito menos da cidade em que iria morar nos meses seguintes.
Em Ribeirão Preto desde então, o garoto sorridente, lateral esquerdo, forte, ocupa seus dias com treinos no Olé, escola de formação de jogadores, onde vive futebol 24 horas por dia em meio a rapazes de várias idades.
O convívio foi fundamental para que ele pudesse falar português em menos de seis meses, mas abriu espaço para outras comparações: "Meu país é muito mais pobre, não há dinheiro para nada, não existe estrutura."
Em Ribeirão, o menino africano mantém o pensamento nos pais. Liga para a mãe até três vezes por semana, gastando em créditos de telefone o pouco dinheiro que recebe no Olé.
Difícil não ser piegas quando se nota que seu desejo, de tão comum, o coloca ao lado de muitos garotos espalhados por qualquer periferia brasileira.
"Estou feliz aqui, me tratam bem, mas penso muito na minha família. Quero poder ajudar todo mundo lá."
(PAULO GODOY)


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