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154 ANOS ESTRANGEIROS
Sonho de ser jogador move camaronês
Sozinho, garoto de 14 anos deixou Camarões, no continente africano, para treinar futebol em Ribeirão Preto
Adolescente quer ser profissional para jogar na Europa, ganhar dinheiro e ajudar seus pais a sair da pobreza
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE RIBEIRÃO PRETO
As únicas coisas que Arnold Meveng Gaston se lembra de ter pensado antes de o
avião que o traria da África
do Sul para São Paulo decolar era no oceano que divide
os dois continentes. Era muita água para o garoto que, pela primeira vez, viajava sozinho. Por isso, disse, rezou
muito durante o voo.
Nascido na República dos
Camarões, país da África
Equatorial com, aproximadamente, 18 milhões de habitantes, Gaston está conseguindo realizar parte do sonho que alimenta o cotidiano
de milhões de crianças e adolescentes de sua idade mundo afora.
Aos 14 anos, ele treina futebol. Quer ser profissional e
ir para a Europa.
Antes de chegar ao Brasil,
em 20 de janeiro, passou pela
capital camaronesa, Yaoundé, deixando para trás o interior pobre, o pai, a mãe e os
seis irmãos. Não sabia nada
do país, muito menos da cidade em que iria morar nos
meses seguintes.
Em Ribeirão Preto desde
então, o garoto sorridente,
lateral esquerdo, forte, ocupa seus dias com treinos no
Olé, escola de formação de
jogadores, onde vive futebol
24 horas por dia em meio a
rapazes de várias idades.
O convívio foi fundamental para que ele pudesse falar
português em menos de seis
meses, mas abriu espaço para outras comparações:
"Meu país é muito mais pobre, não há dinheiro para nada, não existe estrutura."
Em Ribeirão, o menino
africano mantém o pensamento nos pais. Liga para a
mãe até três vezes por semana, gastando em créditos de
telefone o pouco dinheiro
que recebe no Olé.
Difícil não ser piegas
quando se nota que seu desejo, de tão comum, o coloca ao
lado de muitos garotos espalhados por qualquer periferia
brasileira.
"Estou feliz aqui, me tratam bem, mas penso muito
na minha família. Quero poder ajudar todo mundo lá."
(PAULO GODOY)
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