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154 ANOS ESTRANGEIROS
Yukio, 93, veio colono e se tornou fazendeiro
História dele nos cafezais da região lembra a da imigração japonesa
Em Ribeirão, ele ajudou a fundar uma igreja budista e participou da implantação do Jardim Japonês, no bosque
DE RIBEIRÃO PRETO
A história da família de Yukio Yamashita, hoje com 93
anos de idade, se confunde
com a da imigração japonesa
para o trabalho nas lavouras
de café do interior paulista.
Com a promessa de terra e
uma vida melhor no Brasil,
Hissaktsu desembarcou com
a mulher, a filha e Yukio, então um bebê de um ano de
idade, no porto de Santos,
em 1918. Dali, seguiram direto para uma fazenda de café
em Cravinhos.
Depararam-se, então, com
a realidade. "A colônia era
como um cativeiro, todos
presos. Você só trabalhava,
trabalhava, para comer, não
juntava nada de dinheiro.
Tudo o que comia só era comprado na venda do fazendeiro", lembra Yukio.
Como muitos bebês, ele
era amarrado com um pano
junto ao corpo da mãe, para
que ela pudesse trabalhar no
cafezal. "A mãe carregava a
gente "na carcunda", e aguentava firme o trabalho, debaixo do sol quente."
A comida era uma das
maiores dificuldades da família japonesa. Cada família
ganhava do fazendeiro uma
peça de mortadela. "Mas
meu pai jogava fora, porque
japonês não come carne."
Sem ter sequer tempo para
pescar em rios, a família comia apenas arroz e verduras.
O sofrimento fez o pai decidir voltar para o Japão com a
família. Mas, sem achar mão
de obra para ajudar a cuidar
da fazenda que a família tinha no Japão, os Yamashitas
decidiram arriscar de novo a
vida no Brasil, em 1930. A
mãe de Yukio morreu na viagem de navio.
Em Rifaina, a família arrendou um sítio com outros
japoneses para plantar
grãos. Para o pai trabalhar,
Yukio aprendeu a cozinhar e
cuidava das outras crianças.
Aos 15 anos, o jovem decidiu
se casar -o pai fez o mesmo
um ano depois.
Em 1942, após muita economia, Yukio comprou 300
alqueires de terra em Dumont. Vinha a Ribeirão Preto
para comprar mantimentos e
roupas. "Dumont não tinha
nada. Ribeirão era maior, tinha armazém."
Em 1980, já com idade
avançada, quis se mudar para Ribeirão. Seu carinho pela
cidade é diretamente relacionado à cultura japonesa.
Em Ribeirão, se integrou à
Associação Cultural Japonesa, da qual foi presidente.
Também ajudou a fundar
uma igreja budista na cidade
e a formar o Jardim Japonês,
no bosque municipal.
Em Ribeirão, Yukio terminou de criar dez filhos, que
lhe deram netos, bisnetos e
até trinetos. Ele conserva a
memória, mas precisa da ajuda de um andador para se
movimentar.
Yukio acompanha pouco
futebol -gosta mais de beisebol. Mas depois quase um
século no Brasil, sua torcida
na Copa vai para o Brasil.
(JULIANA COISSI)
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