Ribeirão Preto, Sábado, 19 de Junho de 2010

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154 ANOS ESTRANGEIROS

Yukio, 93, veio colono e se tornou fazendeiro

História dele nos cafezais da região lembra a da imigração japonesa

Em Ribeirão, ele ajudou a fundar uma igreja budista e participou da implantação do Jardim Japonês, no bosque

DE RIBEIRÃO PRETO

A história da família de Yukio Yamashita, hoje com 93 anos de idade, se confunde com a da imigração japonesa para o trabalho nas lavouras de café do interior paulista.
Com a promessa de terra e uma vida melhor no Brasil, Hissaktsu desembarcou com a mulher, a filha e Yukio, então um bebê de um ano de idade, no porto de Santos, em 1918. Dali, seguiram direto para uma fazenda de café em Cravinhos.
Depararam-se, então, com a realidade. "A colônia era como um cativeiro, todos presos. Você só trabalhava, trabalhava, para comer, não juntava nada de dinheiro. Tudo o que comia só era comprado na venda do fazendeiro", lembra Yukio.
Como muitos bebês, ele era amarrado com um pano junto ao corpo da mãe, para que ela pudesse trabalhar no cafezal. "A mãe carregava a gente "na carcunda", e aguentava firme o trabalho, debaixo do sol quente."
A comida era uma das maiores dificuldades da família japonesa. Cada família ganhava do fazendeiro uma peça de mortadela. "Mas meu pai jogava fora, porque japonês não come carne." Sem ter sequer tempo para pescar em rios, a família comia apenas arroz e verduras.
O sofrimento fez o pai decidir voltar para o Japão com a família. Mas, sem achar mão de obra para ajudar a cuidar da fazenda que a família tinha no Japão, os Yamashitas decidiram arriscar de novo a vida no Brasil, em 1930. A mãe de Yukio morreu na viagem de navio.
Em Rifaina, a família arrendou um sítio com outros japoneses para plantar grãos. Para o pai trabalhar, Yukio aprendeu a cozinhar e cuidava das outras crianças. Aos 15 anos, o jovem decidiu se casar -o pai fez o mesmo um ano depois.
Em 1942, após muita economia, Yukio comprou 300 alqueires de terra em Dumont. Vinha a Ribeirão Preto para comprar mantimentos e roupas. "Dumont não tinha nada. Ribeirão era maior, tinha armazém."
Em 1980, já com idade avançada, quis se mudar para Ribeirão. Seu carinho pela cidade é diretamente relacionado à cultura japonesa.
Em Ribeirão, se integrou à Associação Cultural Japonesa, da qual foi presidente. Também ajudou a fundar uma igreja budista na cidade e a formar o Jardim Japonês, no bosque municipal.
Em Ribeirão, Yukio terminou de criar dez filhos, que lhe deram netos, bisnetos e até trinetos. Ele conserva a memória, mas precisa da ajuda de um andador para se movimentar.
Yukio acompanha pouco futebol -gosta mais de beisebol. Mas depois quase um século no Brasil, sua torcida na Copa vai para o Brasil.
(JULIANA COISSI)

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