Ribeirão Preto, Sábado, 19 de Junho de 2010

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154 ANOS ESTRANGEIROS

"Ribeirão me cativou de imediato", diz italiano

Tullio Santini saiu da Lombardia para construir a sua vida no Brasil

Imigrante aventurou-se no país após a guerra; cantina italiana é fruto do gosto pela culinária que ele herdou da mãe

DE RIBEIRÃO PRETO

Naquele pós-Segunda Guerra Mundial, com a Europa arrasada, a única certeza do jovem italiano de 20 anos de Cremona, na Lombardia, era que ele não queria construir a vida no próprio país.
Quando soube que um colega tinha se mudado para o Brasil, Tullio Cesare Santini não teve dúvidas: pediu emprego ao amigo em uma fábrica de picles, no Rio. Para o Brasil, trouxe na bagagem o gosto de cozinhar, herdado da mãe e que só se tornaria seu ofício décadas depois.
"Foi como que uma desculpa só para vir ao Brasil. Não fiquei um dia na fábrica", conta Tullio, 75. Trabalhou como vendedor em uma empresa italiana de móveis de aço até se mudar para São Paulo. Lá, o jovem italiano atuou como vendedor de roupas, mas sofreu com as barreiras da língua.
Tullio conseguiu então emprego como inspetor da Liquigás para viajar para o interior. Foi o passaporte para conhecer o Brasil.
Na sua peregrinação pelo país, conheceu Ribeirão, uma cidade tranquila como a Cremona que havia deixado na Itália. "A cidade me cativou de imediato pela limpeza, ordem, tranquilidade."
Em 1963, já casado e com dois filhos, Tullio mudou-se para Ribeirão. Decidiu abrir o próprio negócio, a distribuidora Tullio Santini Gás.
A empresa existiu até os anos 90, quando "um desejo fundamental", como define Tullio, surgiu em seu peito. "Comecei a reviver um caminho perdido: o desejo de ser cozinheiro", disse.
Até então, o italiano estava acostumado a ser o cozinheiro de festas dos amigos e da pescaria. Seu talento foi posto à prova. Tullio fez estágios em restaurantes da cidade.
"Eu sabia fazer pratos para dez, 12 pessoas. Mas outra coisa é cozinhar para 50, 60 pessoas, e todos pratos diferentes", afirmou o italiano.
Em 1999, Tullio abriu o restaurante La Cucina di Tullio Santini. Atualmente, sua cantina é tida como uma das melhores do país e é um estabelecimento citado em guias de gastronomia de revistas.
A Ribeirão de 1963 ficou no passado. "A mudança de Ribeirão reflete um pouco a do Brasil, que não parou de crescer, e quase sempre de forma desordenada. Hoje, há muito carro. No meu tempo, era carroça", lembra Tullio.
Oriundo de um país mergulhado na história, Tullio vê descaso com o patrimônio cultural de Ribeirão. "Como pode viver uma cidade se não cuida de sua memória?"
O Brasil, seu país de coração, porém, não rouba o lugar da terra natal quando o assunto é futebol e Copa. "Vou torcer pela Itália, mas se não der Itália, gostaria que o Brasil ganhasse."
(JULIANA COISSI)

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