Ribeirão Preto, Sábado, 19 de Junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

154 ANOS ESTRANGEIROS

Calor e trabalho atraíram espanhol

Há nove anos na cidade, dono de restaurante critica a poluição visual e não esconde a saudade da terra natal

Gutierrez , torcedor da "Fúria", diz que pegou o hábito "brasileiríssimo" de chegar atrasado aos seus compromissos

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DE RIBEIRÃO PRETO

Dizer que o catalão Hugo Gutierrez, 36, se sente mais brasileiro que espanhol após nove anos em Ribeirão Preto não é verdade. Numa conversa rápida, bastou perguntar de Barcelona, da culinária e do futebol de seu país para que o cozinheiro -e não chefe de cozinha- suspirasse e se agitasse na cadeira.
A designação de cozinheiro partiu do próprio Gutierrez. "Chefe de cozinha é para quem administra uma equipe. Gosto de ser chamado de cozinheiro", afirmou.
Antes de falar de comida, falou de futebol, deixando no ar uma certa pretensão de que a "Fúria" passe pelo Brasil, na eventualidade de um confronto, e ganhe a Copa. Depois, lembrando dos últimos retrospectos, acredita que a seleção espanhola vai nadar, nadar... e só.
"Torço sempre pelo Brasil, desde que ele não vá para a final com a Espanha. Como vou ficar dividido, deixo para o coração decidir", disse.
Dono do restaurante Salamandra, de comida típica mediterrânea, em Higienópolis, Gutierrez pisou pela primeira vez em Ribeirão há dez anos, quando veio visitar uma das irmãs, Hilda, na época estudante de moda.
A família dele já estava no Brasil, onde tinha montado restaurantes no litoral e na capital paulista. Como tantos outros estrangeiros, Gutierrez não voltou mais, embora vontade não falte.
Explicando melhor: ele subiu a serra e se refugiou no interior paulista, atrás, como brincou, de muito calor. Até que encontrou.
Em Ribeirão, se aventurou como professor de espanhol enquanto comandava o pequeno restaurante.
Anos depois desistiu da primeira atividade. Na cidade, se casou e descobriu um campo de trabalho menos saturado que o de São Paulo e mais tranquilo também.
O pai o considerava quase um brasileiro, mas ele mesmo disse que mudou pouco em relação ao que era, exceto pelo sotaque e pelo gosto adquirido pelos feriados, muito mais abundantes que em seu país de origem.
Gutierrez falou do jeito tranquilo de viver do brasileiro, da abundância e da variedade de alimentos e de como assimilou o hábito de chegar atrasado aos compromissos, algo brasileiríssimo, diz.
Sobre a cidade em que vive, queixou-se do paisagismo, da poluição visual e da forma desordenada como cada morador ou comerciante trata os imóveis, principalmente no centro de Ribeirão.
No final da conversa vem novamente o saudosismo, quando diz que se sente balançado em voltar às origens.
"No final do ano estive na Espanha para as festas de fim de ano. Se eu não tivesse tantas raízes em Ribeirão, teria ficado. Mas, ao voltar, senti que aqui eu estou bem."
(PAULO GODOY)


Texto Anterior: Contraste impressiona estudante da Dinamarca
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.