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154 ANOS ESTRANGEIROS
Calor e trabalho atraíram espanhol
Há nove anos na cidade, dono de restaurante critica a poluição visual e não esconde a saudade da terra natal
Gutierrez , torcedor da "Fúria", diz que pegou o hábito "brasileiríssimo" de chegar atrasado aos seus compromissos
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DE RIBEIRÃO PRETO
Dizer que o catalão Hugo
Gutierrez, 36, se sente mais
brasileiro que espanhol após
nove anos em Ribeirão Preto
não é verdade. Numa conversa rápida, bastou perguntar
de Barcelona, da culinária e
do futebol de seu país para
que o cozinheiro -e não chefe de cozinha- suspirasse e
se agitasse na cadeira.
A designação de cozinheiro partiu do próprio Gutierrez. "Chefe de cozinha é para
quem administra uma equipe. Gosto de ser chamado de
cozinheiro", afirmou.
Antes de falar de comida,
falou de futebol, deixando no
ar uma certa pretensão de
que a "Fúria" passe pelo Brasil, na eventualidade de um
confronto, e ganhe a Copa.
Depois, lembrando dos últimos retrospectos, acredita
que a seleção espanhola vai
nadar, nadar... e só.
"Torço sempre pelo Brasil,
desde que ele não vá para a
final com a Espanha. Como
vou ficar dividido, deixo para
o coração decidir", disse.
Dono do restaurante Salamandra, de comida típica
mediterrânea, em Higienópolis, Gutierrez pisou pela
primeira vez em Ribeirão há
dez anos, quando veio visitar
uma das irmãs, Hilda, na
época estudante de moda.
A família dele já estava no
Brasil, onde tinha montado
restaurantes no litoral e na
capital paulista. Como tantos
outros estrangeiros, Gutierrez não voltou mais, embora
vontade não falte.
Explicando melhor: ele subiu a serra e se refugiou no
interior paulista, atrás, como
brincou, de muito calor. Até
que encontrou.
Em Ribeirão, se aventurou
como professor de espanhol
enquanto comandava o pequeno restaurante.
Anos depois desistiu da
primeira atividade. Na cidade, se casou e descobriu um
campo de trabalho menos saturado que o de São Paulo e
mais tranquilo também.
O pai o considerava quase
um brasileiro, mas ele mesmo disse que mudou pouco
em relação ao que era, exceto
pelo sotaque e pelo gosto adquirido pelos feriados, muito
mais abundantes que em seu
país de origem.
Gutierrez falou do jeito
tranquilo de viver do brasileiro, da abundância e da variedade de alimentos e de como
assimilou o hábito de chegar
atrasado aos compromissos,
algo brasileiríssimo, diz.
Sobre a cidade em que vive, queixou-se do paisagismo, da poluição visual e da
forma desordenada como cada morador ou comerciante
trata os imóveis, principalmente no centro de Ribeirão.
No final da conversa vem
novamente o saudosismo,
quando diz que se sente balançado em voltar às origens.
"No final do ano estive na
Espanha para as festas de fim
de ano. Se eu não tivesse tantas raízes em Ribeirão, teria
ficado. Mas, ao voltar, senti
que aqui eu estou bem."
(PAULO GODOY)
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