Ribeirão Preto, Sábado, 19 de Junho de 2010

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154 ANOS ESTRANGEIROS

Chileno deixa sua terra após golpe derrubar Allende

Ricardo Maulen, que morou primeiro no Espírito Santo, chegou a Ribeirão em 1985 com os pais e irmãos

Contabilista adora o clima, os churrascos, o povo, mas faz ressalvas ao trânsito caótico e ao descaso com a periferia

DE RIBEIRÃO PRETO

Quando os militares tomaram o poder no Chile, em 1973, o clima no país tornou-se hostil para quem simpatizava com o governo de esquerda de Salvador Allende, que havia sido deposto.
Os pais de Ricardo Alberto Toro Maulen, 42, sentiram-se na posição incômoda de não concordar com o regime militar que havia se instaurado. Eles decidiram, então, que o melhor era se mudar com os três filhos para o Brasil.
Ricardo tinha 15 anos de idade quando deixou o Chile. O caçula da família Maulen nasceria no novo país.
A família encontrou amigos em uma colônia chilena formada no Espírito Santo. Para que os filhos pudessem estudar em uma cidade com boas escolas, o pai decidiu procurar um novo destino.
A família soube então que havia uma cidade no interior paulista que também abrigava um grupo de chilenos. Leu notícias de que Ribeirão Preto vivia o boom sucroalcooleiro e que tinha grife na área da educação, com instituições como a USP (Universidade de São Paulo).
Em 1985, a família chegou a Ribeirão. Sete anos depois, a reabertura política do Chile despertou-lhes a saudade da terra natal. Os pais e os quatro irmãos decidiram retornar para Santiago.
Ricardo, no entanto, com a faculdade ainda em curso, preferiu ficar. "Eu queria terminar o curso de economia na USP, e também já tinha contatos profissionais."
Fatores pessoais pesaram na escolha. A namorada estava em Ribeirão e Ricardo já havia montado uma rede de amigos na cidade.
A qualidade de vida que levava em Ribeirão também o fez optar por continuar no Brasil. "Ribeirão é uma cidade que atrai os estrangeiros de volta. Falam que o clima é ruim, mas, como no Chile faz muito frio, penso que esse clima agradável faz as pessoas terem mais interesse em viver em comunidade."
Ricardo conta que o jeito acolhedor do brasileiro o cativou. "É essa coisa de amizade, de churrasco, de sempre caber mais um."
Casado, com um filha de 12 anos, ele é gerente de uma construtora. Faz muitos elogios à cidade que adotou, mas tem ressalvas ao trânsito -"que é caótico"- e ao fato de lugares da periferia "estarem esquecidos."
Por outro lado, aprecia os parques e vegetação da cidade -"ainda que seja pouca"- e a concentração de bares da agitada vida noturna.
No Brasil, aprendeu a dividir o coração no futebol. No Chile, torcia pelo União Espanhola. "Aqui, me simpatizo com o São Paulo."
Na Copa do Mundo, Ricardo aposta no Brasil como vencedor do Mundial, mas confessa que o coração e a torcida pertencem ao Chile.
(JULIANA COISSI)


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