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154 ANOS ESTRANGEIROS
Chileno deixa sua terra após golpe derrubar Allende
Ricardo Maulen, que morou primeiro no Espírito Santo, chegou a Ribeirão em 1985 com os pais e irmãos
Contabilista adora o clima, os churrascos, o povo, mas faz ressalvas ao trânsito caótico e ao descaso com a periferia
DE RIBEIRÃO PRETO
Quando os militares tomaram o poder no Chile, em
1973, o clima no país tornou-se hostil para quem simpatizava com o governo de esquerda de Salvador Allende,
que havia sido deposto.
Os pais de Ricardo Alberto
Toro Maulen, 42, sentiram-se
na posição incômoda de não
concordar com o regime militar que havia se instaurado.
Eles decidiram, então, que o
melhor era se mudar com os
três filhos para o Brasil.
Ricardo tinha 15 anos de
idade quando deixou o Chile.
O caçula da família Maulen
nasceria no novo país.
A família encontrou amigos em uma colônia chilena
formada no Espírito Santo.
Para que os filhos pudessem
estudar em uma cidade com
boas escolas, o pai decidiu
procurar um novo destino.
A família soube então que
havia uma cidade no interior
paulista que também abrigava um grupo de chilenos. Leu
notícias de que Ribeirão Preto vivia o boom sucroalcooleiro e que tinha grife na área
da educação, com instituições como a USP (Universidade de São Paulo).
Em 1985, a família chegou
a Ribeirão. Sete anos depois,
a reabertura política do Chile
despertou-lhes a saudade da
terra natal. Os pais e os quatro irmãos decidiram retornar para Santiago.
Ricardo, no entanto, com a
faculdade ainda em curso,
preferiu ficar. "Eu queria terminar o curso de economia
na USP, e também já tinha
contatos profissionais."
Fatores pessoais pesaram
na escolha. A namorada estava em Ribeirão e Ricardo já
havia montado uma rede de
amigos na cidade.
A qualidade de vida que levava em Ribeirão também o
fez optar por continuar no
Brasil. "Ribeirão é uma cidade que atrai os estrangeiros
de volta. Falam que o clima é
ruim, mas, como no Chile faz
muito frio, penso que esse
clima agradável faz as pessoas terem mais interesse em
viver em comunidade."
Ricardo conta que o jeito
acolhedor do brasileiro o cativou. "É essa coisa de amizade, de churrasco, de sempre
caber mais um."
Casado, com um filha de 12
anos, ele é gerente de uma
construtora. Faz muitos elogios à cidade que adotou,
mas tem ressalvas ao trânsito
-"que é caótico"- e ao fato
de lugares da periferia "estarem esquecidos."
Por outro lado, aprecia os
parques e vegetação da cidade -"ainda que seja pouca"- e a concentração de bares da agitada vida noturna.
No Brasil, aprendeu a dividir o coração no futebol. No
Chile, torcia pelo União Espanhola. "Aqui, me simpatizo com o São Paulo."
Na Copa do Mundo, Ricardo aposta no Brasil como
vencedor do Mundial, mas
confessa que o coração e a
torcida pertencem ao Chile.
(JULIANA COISSI)
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