|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
154 ANOS ESTRANGEIROS
Mexicanas sofrem com idioma e calor
Imigrantes citam como problemas locais a falta de lugares para "bailar" e o excesso de intimidade dos colegas
Alunas de mestrado da Odontologia da USP de Ribeirão sentem falta da terra natal, mas não do machismo mexicano
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DA FOLHA RIBEIRÃO
Se o Brasil falasse espanhol, as amigas Daniella Silva Herzog Rivera e Marcela
Martin Del Campo Fierro considerariam seriamente a possibilidade de fixar residência
por aqui...
Mexicanas, as duas estão
em Ribeirão há dois anos fazendo mestrado em odontologia na Universidade de São
Paulo (USP). A 8.000 quilômetros de casa (San Luis Potosi, localizada na região
central do México), elas resumem suas dificuldades em
três palavras: idioma, distância e, claro, calor.
Não que San Luis seja necessariamente um "paraíso
terrenal", como disse Daniella, mas, na comparação com
Ribeirão, a cidade de 1 milhão de habitantes tem médias de temperatura bem
mais agradáveis.
A distância é um problema, mas contra ela não há o
que ser feito. Daniella termina oficialmente seu mestrado no próximo dia 30. Está há
um ano sem visitar sua cidade natal. Nesse período, viu o
namorado mexicano, que
mora nos Estados Unidos,
apenas duas vezes.
"Talvez por isso sejam tão
apaixonados. Não se veem",
cutuca Marcela, que se mostra mais incomodada que a
amiga com a distância da família e de seu país.
"Se desse para entrar em
um avião e daqui a três horas
chegar lá, tudo bem. Estou
adorando morar em Ribeirão, mas é longe e é caro",
afirmou a estudante.
Daniella é mais expansiva
e falante. Tem os cabelos pretos compridos com mechas
descoloridas. Foi a primeira a
chegar à cidade, acompanhando o pai, que veio para
fazer o doutorado, e a mãe
-ambos são dentistas.
Marcela é mais contida
nos gestos e na fala. Inspirada pela experiência da amiga, veio seis meses depois.
Hoje moram juntas.
Para Marcela, não tem como não se sentir estrangeiro,
mesmo em um país como o
Brasil, que guarda inúmeras
semelhanças com o México,
seja nos costumes, na culinária ou no modo de viver.
"Mexicanos e brasileiros
são muito parecidos em tudo, mas aqui é um pouco
mais liberal. O México é muito machista", disse Daniella.
Em Ribeirão, sentem falta
de lugares para "bailar", como disse Marcela. Amigos
não faltam, mas Daniella revela certo estranhamento
com um hábito bem brasileiro. "Você mal conhece a pessoa e ela vem te dando um
abraço, um beijo; abre a porta da casa e te convida para
tomar um café".
E já que a comparação parecia inevitável, Daniella
lembrou da seleção mexicana, que abriu a Copa empatando com os anfitriões sul-africanos. "Mais uma coisa
em que Brasil e México se parecem: o futebol."
(PAULO GODOY)
Texto Anterior: Uruguaia elogia crescimento e lojas Próximo Texto: Americana estranha desrespeito com trânsito e meio ambiente Índice
|