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Adolescente viciado abandona tratamento
Atendidos em Ribeirão desistem por imaturidade e falta de rede de apoio
Para o juiz Paulo César Gentile, os serviços de saúde devem ser mais imediatistas, como é a personalidade do jovem
JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO
A imaturidade típica da fase adolescente e a falta de
uma rede de saúde articulada em Ribeirão Preto têm um
resultado negativo quando
se fala no combate ao vício
da droga e do álcool. Crianças e adolescentes dependentes químicos acabam por
abandonar o tratamento.
O coordenador da Saúde
Mental da Secretaria da Saúde, Alexandre Firmo de Souza Cruz, admite que, apesar
da procura inicial, os jovens
não dão continuidade ao tratamento no Caps AD (Centro
de Atenção Psicossocial para
Álcool e Drogas).
"Não é falta de boa vontade da equipe, mas de adesão
mesmo. Muitos vêm pela urgência, pelo o medo de enfrentar a família, mas depois
não voltam", diz o médico.
Se de cada dez adultos dependentes atendidos no
Caps AD três ou quatro terminam o tratamento, dos adolescentes e jovens apenas um
persiste, diz Cruz.
A quantidade de pacientes
oscila. Neste semestre, 50 novos adolescentes procuraram tratamento. Em 2009, foram 78 garotos. Em 2008, o
número foi maior: 112.
Segundo a vice-diretora do
Caps AD, Gisela Marchini, a
forma como adolescente encara o tratamento é diferente
da do adulto, e isso deve ser
entendido pela família. "O
adolescente não percebe o
uso da droga como doença,
como problema na sua vida.
Ele tende a ser imediatista."
O caso de Ribeirão não é
isolado. Segundo o psiquiatra especialista em álcool e
drogas, Erikson Furtado, da
USP de Ribeirão, um estudo
com um grupo do Rio de Janeiro mostrou que metade
dos jovens abandonou o tratamento dois meses depois.
REDE
Na opinião do juiz da Infância e Juventude, Paulo César Gentile, o Caps AD é um
excelente programa, mas
não foi criado para atender a
esse público.
Gentile vê uma falha na sequência do atendimento. Hoje, na prática, o garoto que
comete um delito é levado
para o NAI, núcleo próprio
com delegado e psicólogos
mantidos pela prefeitura.
"De lá, ele é encaminhado
para o Caps AD, que ainda
vai agendar data. Aí se perde,
marca consulta para daqui 15
dias. O atendimento deve ser
moldado na característica do
garoto: o imediatismo."
Segundo Gentile, falta
uma rede completa de serviços para o garoto viciado.
Não existe, por exemplo, o
Caps I, um centro só para
atender crianças. Também
falta um local para os casos
mais extremos, que necessitam de internação.
A única comunidade terapêutica nesse perfil fica em
Descalvado. Atende hoje 12
adolescentes.
"Mas recebo no gabinete
pelo menos dez pedidos de
internação por semana, do
NAI e até das mães."
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