Ribeirão Preto, Segunda-feira, 19 de Julho de 2010

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Adolescente viciado abandona tratamento

Atendidos em Ribeirão desistem por imaturidade e falta de rede de apoio

Para o juiz Paulo César Gentile, os serviços de saúde devem ser mais imediatistas, como é a personalidade do jovem

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

A imaturidade típica da fase adolescente e a falta de uma rede de saúde articulada em Ribeirão Preto têm um resultado negativo quando se fala no combate ao vício da droga e do álcool. Crianças e adolescentes dependentes químicos acabam por abandonar o tratamento.
O coordenador da Saúde Mental da Secretaria da Saúde, Alexandre Firmo de Souza Cruz, admite que, apesar da procura inicial, os jovens não dão continuidade ao tratamento no Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas).
"Não é falta de boa vontade da equipe, mas de adesão mesmo. Muitos vêm pela urgência, pelo o medo de enfrentar a família, mas depois não voltam", diz o médico.
Se de cada dez adultos dependentes atendidos no Caps AD três ou quatro terminam o tratamento, dos adolescentes e jovens apenas um persiste, diz Cruz.
A quantidade de pacientes oscila. Neste semestre, 50 novos adolescentes procuraram tratamento. Em 2009, foram 78 garotos. Em 2008, o número foi maior: 112.
Segundo a vice-diretora do Caps AD, Gisela Marchini, a forma como adolescente encara o tratamento é diferente da do adulto, e isso deve ser entendido pela família. "O adolescente não percebe o uso da droga como doença, como problema na sua vida. Ele tende a ser imediatista."
O caso de Ribeirão não é isolado. Segundo o psiquiatra especialista em álcool e drogas, Erikson Furtado, da USP de Ribeirão, um estudo com um grupo do Rio de Janeiro mostrou que metade dos jovens abandonou o tratamento dois meses depois.

REDE
Na opinião do juiz da Infância e Juventude, Paulo César Gentile, o Caps AD é um excelente programa, mas não foi criado para atender a esse público.
Gentile vê uma falha na sequência do atendimento. Hoje, na prática, o garoto que comete um delito é levado para o NAI, núcleo próprio com delegado e psicólogos mantidos pela prefeitura.
"De lá, ele é encaminhado para o Caps AD, que ainda vai agendar data. Aí se perde, marca consulta para daqui 15 dias. O atendimento deve ser moldado na característica do garoto: o imediatismo."
Segundo Gentile, falta uma rede completa de serviços para o garoto viciado. Não existe, por exemplo, o Caps I, um centro só para atender crianças. Também falta um local para os casos mais extremos, que necessitam de internação.
A única comunidade terapêutica nesse perfil fica em Descalvado. Atende hoje 12 adolescentes.
"Mas recebo no gabinete pelo menos dez pedidos de internação por semana, do NAI e até das mães."


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