Ribeirão Preto, Domingo, 20 de Junho de 2010

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PERFIL EDMILSON

É para o resto da vida

Campeão na Copa do Mundo de 2002 com a seleção brasileira, Edmilson disse que jogadores só percebem a grandeza e a importância de jogar a competição depois que não são mais convocados e se aproximam do fim da carreira, mas que os momentos serão guardados para sempre

JEAN DE SOUZA
DE RIBEIRÃO PRETO

São sete camisas emolduradas na parede, estampadas por escudos de XV de Jaú, São Paulo, Lyon, Barcelona, Villareal, Palmeiras e, mais alta do que as demais, a amarelinha da seleção. E, em volta delas, um quarteirão de salas de aula.
O nome escrito nas camisas e na fachada do prédio é o mesmo: Edmilson. Ou, para ser completo, José Edmilson Gomes de Moraes, jogador de futebol e fundador de uma instituição que atende 500 crianças e adolescentes.
A sede da entidade é Taquaritinga, onde ele nasceu há 33 anos e foi colhedor de laranjas, dos 12 aos 13. "Tudo aqui tem um significado."
E eles continuam a se entrelaçar: a Fundação Edmilson fica no terreno onde ele começou a jogar bola, aos seis anos de idade. Foi criada em 2002, mesmo ano em que o jogador conquistou, no Japão, o maior título da carreira, a Copa do Mundo.
A inauguração dos 1.785 mNS da fundação, porém, só ocorreu em 2006, após quatro anos de busca, sem sucesso, por parcerias.
Foi o mesmo ano em que, 15 dias antes de jogar sua segunda Copa do Mundo, Edmilson machucou o tornozelo em um treino e foi cortado da seleção que perderia da França nas quartas de final.
No time que entra em campo hoje na África do Sul, contra a Costa do Marfim, ele também tentou uma vaga, mas foi novamente atrapalhado por lesões.

FRUSTRAÇÃO
Com Dunga à frente da seleção, Edmilson chegou a ser convocado sete vezes. Antes da disputa da Copa América, em 2007, porém, submeteu-se a uma cirurgia no joelho. A decisão de operar foi apoiada por Dunga, que, segundo o jogador, lhe daria nova oportunidade assim que se recuperasse.
"Pretendia participar das eliminatórias, só que minha lesão foi muito mais grave do que eu imaginava. Em vez de ficar três meses, eu fiquei nove meses parado. Voltei para o Palmeiras, voltei bem, só que quebrei o cotovelo. Aí não consegui atuar no mesmo nível e era tarde."
Atualmente jogando pelo Zaragoza, da Espanha, Edmilson diz ter voltado a atuar em bom nível após a frustrante passagem pelo Palmeiras, em 2009, de onde saiu contra a sua vontade.
Isso não significa que se projete no time que está na África do Sul, ou aproveite a ausência para criticá-lo.
"Acho mais do que justo esses caras estarem na Copa", afirma o, atualmente, volante, que foi campeão mundial como zagueiro e despontou como lateral.
Aos colegas de pátria e chuteira convocados, porém, dá um toque: "quando você está lá, você não vê a dimensão do que é uma Copa. Depois que você não é mais convocado e acaba chegando, como eu, perto do final da carreira, você vê que é muito grande. Aquilo ali vai ficar para o resto da vida".

ESPERANÇA
Para Edmilson, o jeito ranzinza de Dunga e seu time sem estrelas é uma fórmula que pode dar certo ou não, mas merece respeito.
"É uma filosofia de trabalho dele. Amanhã, se ganhar, ninguém vai falar nada. Se perder, vão falar pra caramba. Então é melhor ter uma maneira de trabalhar, que ele avaliou, com o grupo, que era a melhor forma de ganhar", diz o jogador.
Apesar de afirmar torcer bastante pelo Brasil, "ao contrário de outros campeões mundiais, que querem ser únicos", Edmilson aponta a Espanha como "grande favorita", apesar do tropeço na rodada inicial do torneio.
Sua cabeça, porém, está deste lado do Atlântico, em Taquaritinga. Após "botar do bolso" R$ 2 milhões para construir a sede da fundação que leva seu nome, Edmilson ainda banca 80% de seu orçamento, que gira em torno de R$ 1 milhão por ano.
O objetivo, no entanto, é que ela consiga se manter sem suas doações "o mais rápido possível". "Vou fazer 34 anos e uma estrutura como essa aqui o sujeito tem que jogar até 50, 100 anos, para manter."


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