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GRAVIDEZ JUVENIL 2
Sem estudo,falta orientação a jovem
Escolas concentram orientação sexual
da Folha Ribeirão
As adolescentes que deixaram de
estudar acabam à margem do único programa público de orientação sexual e, por isso, correm mais
risco de ficarem grávidas.
A gestante "teen" tem o primeiro
grau incompleto, é de família de
baixa renda e não trabalhava
quando descobriu a gravidez.
"As meninas ficam em casa e acabam grávidas antes das que estudam, geralmente pela própria falta
de orientação", afirma o médico
Wagner Lúcio Gueleri, coordenador do Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher.
No ano passado, das 1.535 adolescentes que tiveram o parto em
Ribeirão e que moravam na cidade, 902 tinham o ensino fundamental incompleto -cerca de
58% do total de meninas gestantes.
Os dados estão em duas pesquisas divulgadas esta semana, uma
feita pela prefeitura e outra pela
Faculdade de Medicina da USP
(Universidade de São Paulo).
"Não é mais desinformação sobre o uso de preservativos, mas falta de consciência em relação ao
comportamento", afirma Marta
Angélica Iassi, coordenadora do
Proase (Programa de Assistência e
Saúde Escolar).
O Proase atende alunos de 4ª a 8ª
séries da rede pública de ensino
por meio de dinâmica de grupos e
palestras sobre o tema.
"Longe do colégio, em geral, os
amigos se tornam os principais
conselheiros, papel que deveria
pertencer aos pais", diz Marta.
A prefeitura, de acordo com ela,
já estuda a ampliação do programa
para as unidades de saúde que
atendem nos bairros.
No ano passado, quase 10 mil
alunos da rede de ensino participaram do programa -12% do total
de estudantes matriculados no ensino fundamental.
Em 98, técnicos do Proase acompanharam um grupo de 16 adolescentes gestantes do Parque Ribeirão, zona norte, que estudavam até
o início da gravidez. Depois, 12
deixaram os estudos.
"Passamos a analisar a hipótese
de a adolescente engravidar para
suprir uma carência afetiva", disse
a médica ginecologista Marta Edna
Holanda Diógenes Yazlle, responsável pelo setor de anticoncepção
da Faculdade de Medicina da USP.
A nova tese surgiu do perfil da jovem mãe, que "não tem estudo,
nem trabalho nem perspectiva de
vida", afirmou a médica.
Para essas meninas, o papel de
mãe representaria uma possibilidade de mudar sua posição social.
O perfil econômico das adolescentes foi medido pelo tipo de convênio em que ocorreu o parto.
Das gestantes cadastradas desde
92 em Ribeirão, cerca de 84% foram atendidas pelo SUS (Sistema
Único de Saúde).
Experiência
Adilson Tiago de Souza, 15, e
Cristiane Roseli de Oliveira, 14, namoraram menos de um ano. Na
época, os dois não estudavam,
nem trabalhavam.
Apesar de nunca terem falado
sobre o risco da gravidez ou sobre
métodos anticoncepcionais, os
dois decidiram ter a primeira relação sexual. "Na hora, dá preguiça
de sair para comprar camisinha",
afirma o garoto.
Os dois terão o primeiro filho daqui há dois meses.
Depois da confirmação, o casal
construiu um barraco na favela
dos Campos Elíseos e pretendem
sobreviver, por enquanto, vendendo latinhas que pegam na rua.
"A gente não se arrepende não
porque agora somos uma família",
afirma a garota.
Carla Aparecida Azarias, 17, usava preservativo com o namorado,
mas um dia ele esqueceu a camisinha e a história do casal mudou.
Hoje, aos cinco meses de gestação, os dois se dividem entre as casas dos pais. Morar junto, segundo
ela, só depois que tiverem emprego estável.
Carla seguiu o caminho do irmão
mais velho, que casou aos 14 anos,
depois de engravidar a namorada.
Sem revelar o motivo, a menina
conta que parou de frequentar as
aulas do supletivo e mudou seus
planos de terminar o primeiro
grau. "Quem sabe depois, quando
meu filho estiver maior, eu volto",
diz.
Assim que ficou grávida, Shirlley
Aparecida da Silva, 19, perdeu o
emprego de babá e deixou de lado
o sonho de retomar os estudos.
"Pensei até em não ter o bebê,
porque minha tia havia avisado
que eu sairia de casa se tivesse filho. Mudei de idéia e vou morar
com a minha mãe", afirma.
Shirlley diz que não pretende
morar com o namorado, de 17
anos, porque estão sem emprego.
"Mudou muita coisa na minha
vida por causa da discriminação.
Não trabalho e agora dependo da
família."
(ALESSANDRO SILVA)
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