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DESAFIANDO A LOUCURA
Livro lançado em Ribeirão Preto revela a poesia feita por ex-internos de hospitais psiquiátricos
Cordel resgata memórias do manicômio
LUCIANA CAVALINI
da Folha Ribeirão
A literatura de cordel vem ajudando um grupo de pessoas que
estiveram internadas em hospitais
psiquiátricos a resgatar sua memória. Dezesseis ex-internos de manicômios de Ribeirão Preto descobriram a autoconfiança junto com
a capacidade de rimar.
O produto desse trabalho inédito
com pessoas que têm transtornos
mentais é o livro "Loucos Pela Vida e Impregnados de Poesia", que
foi lançado na última semana.
O grupo participou durante 30
horas, no ano passado, da oficina
Versando Sobre Memórias, patrocinada pela Secretaria de Estado da
Cultura e coordenada pelo cordelista César Domiciano.
O projeto contou com apoio da
secretaria municipal e da associação Loucos pela Liberdade, um
movimento de luta antimanicomial.
Entre os novos poetas, estão pessoas que passaram até 25 anos internadas em manicômios sendotratadas à base de choques e doses
excessivas de remédios.
Eles são atendidos no Naps (Núcleo de Apoio Psicossocial), hospitais Santa Tereza e Vicente de Paulo e na enfermaria do Hospital das
Clínicas, que buscam reintegrar o
paciente à sociedade.
"Brincamos com as rimas e ensinamos essas pessoas a fazer o mesmo. Quando percebem, já estão fazendo poesia", afirma Domiciano,
que colocou no papel as rimas e organizou as poesias.
Segundo ele, os participantes falavam sobre o passado e eram incentivados a transformar a história
em literatura de cordel. "Com o
tempo, eles foram se soltando e escrevemos versos em mutirão", diz.
Para a gerente do Naps, Sebastiana Diniz, o grande mérito do trabalho é o resgate da cidadania.
"Eles resgataram suas histórias em
forma de poesia. Isso mudou muito o modo de verem a vida."
Entre as histórias, está a de uma
paciente que usava drogas e acabou sendo internada pela família e
"impregnada" -esse é o termo
usado pelos pacientes para as fortes doses de remédios que os mantinham conscientes, mas sem conseguir coordenar os movimentos.
Neuza Marcondes Soares, 57, espera, com a publicação do livro,
poder encontrar irmãos que não vê
desde a infância. Ela conheceu
Ademar Cortaz, 58, no hospital
psiquiátrico Santa Tereza e agora
os dois vivem juntos no local.
Incentivada pela oficina, Terezinha da Silva Pinto, 68, possui hoje
um caderno cheio de poesias que
espera publicar. Ela passou 25
anos internada e tem três de seus
trabalhos publicados no livro (leia
texto nesta página).
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