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Em alta, adoção de crianças entre conhecidos preocupa
Prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, prática pode afetar adotados
Segundo o Judiciário de Ribeirão Preto, na maioria das vezes, quando o caso chega ao juiz, a doação do bebê já ocorreu na prática
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
A pequena Patrícia, 5 meses,
(todos os nomes na reportagem
são fictícios) é o segundo filho
que a manicure Vitória decide
entregar para adoção. Com um
detalhe: ela conhece a nova
mãe de sua filha. Será uma
cliente do salão. Em Ribeirão
Preto, a adoção feita entre famílias que já se conhecem é
mais freqüente do que a de casos vindos da fila de espera.
Nos pedidos da chamada
adoção direta ou pronta, quando chegam à Vara da Infância e
Juventude, na maior parte das
vezes, a criança já está no novo
lar há meses ou até anos. E há
situações em que a mãe biológica mantém contato com o filho.
Especialistas apontam que essa
situação pode trazer prejuízo à
criança caso a nova família não
saiba lidar com a situação.
A adoção direta é baseada no
princípio do direito chamado
"intuito personae". O termo latino é empregado quando a
mãe declara que, não só abre
mão do filho, como indica a
quem quer entregá-lo.
O ECA (Estatuto da Criança
e do Adolescente), no artigo
166, prevê a modalidade de
adoção quando os pais apontam uma família substituta.
Mas a decisão não depende só
dela. É o juiz quem avalia se a
criança fica com a família escolhida pela mãe biológica.
Na opinião do juiz da Infância e Juventude, Paulo César
Gentile, entretanto, houve um
desvirtuamento dessa modalidade de adoção. "A lei tentou
preservar a escolha quando há
um laço de afeto entre as famílias. Mas nos deparamos com
casos de pessoas que descobrem a quem querem entregar
o filho para a adoção, se aproximam da mãe e a assediam."
O melhor meio, aponta o juiz,
é quando o interessado se inscreve no cadastro existente para adoção. A pessoa é avaliada
por psicólogos para saber se
tem o perfil adequado. A avaliação elimina sentimentos de
adotar uma criança por caridade, pelo fato de a pessoa se sentir sozinha ou para pagar promessa. "São sentimentos que
tendem a ser efêmeros. Passou
a emoção, a pessoa rejeita a
criança. Já me deparei com situações de arrependimento."
As adoções diretas ou prontas acontecem de diferentes
formas e envolvem razões econômicas e sociais. Há situações
de pessoas que adotam um parente ou a figura do "padrinho",
o que ocorre geralmente entre
patrão e empregados. Há casos
em que as mães biológicas e
adotivas não se conhecem e a
troca é combinada por um intermediário, que pode ser desde uma conhecida das mães até
a figura de um advogado.
Outro caso é daquela adoção
que surge sem intenção. Como
a da pequena Patrícia, citada no
início da reportagem. Com os
filhos já crescidos, Regina, candidata a nova mãe, começou
apenas cuidando da bebê enquanto a mãe trabalhava. Hoje,
luta para obter a guarda definitiva da menina.
Atualmente, existem 103
pessoas na fila para adotar uma
criança. Na outra ponta estão
de 20 a 25 crianças aptas a serem adotadas, mas a maioria
com mais de dez anos de idade,
parda e com grupos de irmãos
-fora do perfil procurado pela
maioria das famílias que querem adotar uma criança.
Segundo a assistente social
do Fórum de Ribeirão, Genecy
Duarte Passos, antes que chegue à Justiça, a adoção já aconteceu na prática. "Quando vemos, a mãe adotiva já está com
a criança há dois, três anos."
Mães que entregam seus filhos, em muitos casos, alimentam a esperança de vê-los crescer. Genecy relata casos de
mães biológicas que procuram
seus filhos na porta da escola
ou que passam feriados com
eles. Para ela, essa proximidade
pode não ser saudável para a
criança. "A mãe que entrega
quer ver o filho de vez em quando, e a criança fica confusa."
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