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Adoção direta denuncia fragilidade social
Conclusão é de docente da USP Ribeirão que ouviu mães adotivas e biológicas entre 2004 e 2006 em tese de doutorado
Mulher entrega seu filho, geralmente, quando está sem suporte familiar e tem dificuldades financeiras, afirma pesquisadora
DA FOLHA RIBEIRÃO
A situação de mães que entregam filhos para adoção por
conhecidos revela fragilidades
da sociedade brasileira, como
acesso a creches e situação de
pobreza, na opinião da psicóloga Fernanda Neísa Mariano.
A psicóloga desenvolveu sua
pesquisa de doutorado na USP
(Universidade de São Paulo) de
Ribeirão Preto. Ela estudou casos de adoções entre conhecidos de 2004 a 2006. Ouviu dez
pessoas, entre mães que entregaram filhos e as adotivas
O perfil da mãe que leva a
criança para adoção, segundo a
pesquisadora, geralmente é de
uma mulher sozinha ou, se tem
um companheiro, a relação é
instável ou está em crise. "Percebemos que, à época da entrega, por alguma razão, a mulher
estava sem algum tipo de apoio
familiar", disse.
Também há situações em
que a criança não era esperada
e a mulher já tinha outros filhos, além de dificuldades financeiras e de moradia.
Já entre os casais que adotam, segundo a psicóloga, muitos já estão cadastrados na fila
de adoção, mas começam a procurar opções.
Elemento cultural
A adoção direta consiste em
um hábito antigo na cultura
brasileira, segundo ela. "O cadastramento é uma conduta
mais recente. Procurar um filho em hospital, em albergue é
uma prática centenária."
Na conversa com as mães
biológicas, Mariano conta que
as mães dizem entregar o filho
para que ele tenha uma melhor
condição de vida. "Mas existe
depois uma cobrança com ela
mesma. Fica a culpa de não ter
dado conta daquela situação."
Para casais que pensam em
adotar uma criança, existe em
Ribeirão Preto um projeto chamado Pappa (Programa de
Acompanhamento Pré e Pós-Adoção). Segundo a psicóloga
Lilian de Almeida Guimarães
Solon, uma das coordenadoras,
a adoção direta acontece em
muitos casos quando o casal
candidato não agüenta esperar
pela criança ideal na fila de espera -geralmente, bebês.
"Então, ficam sabendo que
existe o bebê de uma funcionária de uma amiga ou por um advogado ou um pastor", disse.
Em geral, conta Solon, as famílias adotivas buscam se distanciar da original. "Fica o medo
de perder o filho para mãe biológica e um sentimento de desigualdade."
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