Ribeirão Preto, Domingo, 21 de Dezembro de 2008

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Adoção direta denuncia fragilidade social

Conclusão é de docente da USP Ribeirão que ouviu mães adotivas e biológicas entre 2004 e 2006 em tese de doutorado

Mulher entrega seu filho, geralmente, quando está sem suporte familiar e tem dificuldades financeiras, afirma pesquisadora

DA FOLHA RIBEIRÃO

A situação de mães que entregam filhos para adoção por conhecidos revela fragilidades da sociedade brasileira, como acesso a creches e situação de pobreza, na opinião da psicóloga Fernanda Neísa Mariano.
A psicóloga desenvolveu sua pesquisa de doutorado na USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto. Ela estudou casos de adoções entre conhecidos de 2004 a 2006. Ouviu dez pessoas, entre mães que entregaram filhos e as adotivas
O perfil da mãe que leva a criança para adoção, segundo a pesquisadora, geralmente é de uma mulher sozinha ou, se tem um companheiro, a relação é instável ou está em crise. "Percebemos que, à época da entrega, por alguma razão, a mulher estava sem algum tipo de apoio familiar", disse.
Também há situações em que a criança não era esperada e a mulher já tinha outros filhos, além de dificuldades financeiras e de moradia.
Já entre os casais que adotam, segundo a psicóloga, muitos já estão cadastrados na fila de adoção, mas começam a procurar opções.

Elemento cultural
A adoção direta consiste em um hábito antigo na cultura brasileira, segundo ela. "O cadastramento é uma conduta mais recente. Procurar um filho em hospital, em albergue é uma prática centenária."
Na conversa com as mães biológicas, Mariano conta que as mães dizem entregar o filho para que ele tenha uma melhor condição de vida. "Mas existe depois uma cobrança com ela mesma. Fica a culpa de não ter dado conta daquela situação."
Para casais que pensam em adotar uma criança, existe em Ribeirão Preto um projeto chamado Pappa (Programa de Acompanhamento Pré e Pós-Adoção). Segundo a psicóloga Lilian de Almeida Guimarães Solon, uma das coordenadoras, a adoção direta acontece em muitos casos quando o casal candidato não agüenta esperar pela criança ideal na fila de espera -geralmente, bebês.
"Então, ficam sabendo que existe o bebê de uma funcionária de uma amiga ou por um advogado ou um pastor", disse. Em geral, conta Solon, as famílias adotivas buscam se distanciar da original. "Fica o medo de perder o filho para mãe biológica e um sentimento de desigualdade."


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