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MÚSICA
Maestro faz as últimas apresentações pela orquestra de Ribeirão no próximo fim-de-semana, no Theatro Pedro 2º
Minczuk se despede com dois concertos
LUÍS EBLAK
EDITOR DA FOLHA RIBEIRÃO
Foram mais de 1.600 horas de
ensaio e cerca de 200 concertos.
Depois de quase cinco anos à
frente da Orquestra Sinfônica de
Ribeirão Preto, o maestro Roberto Minczuk se despede da cidade
para se dedicar mais à sua carreira
internacional.
As últimas duas apresentações
oficiais do regente serão nos próximos dias 28 (às 21h) e 29 (às
10h), no Theatro Pedro 2º, com
direito também a um jantar de gala depois do concerto.
O maestro pediu afastamento
da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto por quase três meses,
alegando que sua agenda estava
incompatível com seu volume de
trabalho.
Desde 1998, Minczuk acumulava três cargos: além de reger Ribeirão, ele havia assumido a função de diretor-assistente da tradicional Filarmônica de Nova York
e o de adjunto da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São
Paulo), uma das principais da
América Latina.
Além disso, ancorado por empresários na Europa e na América
do Norte, este ano, o maestro ampliou suas apresentações internacionais e já tem agendados mais
de 15 concertos até 2002, incluindo os do próximo mês, nas orquestras de Colorado e Flórida,
nos Estados Unidos.
Com viagens mensais entre São
Paulo, Nova York e outras cidades, Minczuk resolveu deixar a
Sinfônica de Ribeirão. "Chegou
um momento que fisicamente eu
estava sentindo, era muito puxado", explica-se.
A projeção internacional de
Minczuk foi de fato além das
fronteiras nacionais. No mês passado, por exemplo, ele regeu a
Osesp no famoso teatro Colón, de
Buenos Aires, e o grupo de músicos paulistanos recebeu 15 minutos consecutivos de aplausos da
rigorosa platéia argentina.
Com Minczuk, a sinfônica ligada à Sociedade Lítero Musical de
Ribeirão teve um desenvolvimento colossal. Deixou de ser um grupo semi-profissional, que chegava
a tocar em festas de aniversário,
para se tornar uma das dez melhores orquestras do país (leia texto nesta página). "A gente tem essa coisa de pai (com a Sinfônica de
Ribeirão). Eu ajudei a formar o
grupo e também cresci com ele.
Eu amo de paixão a orquestra."
Minczuk chegou a Ribeirão Preto em 1995. Vinha da Orquestra
da Universidade de Brasília, onde
ocupou pela primeira vez o cargo
de regente. Sua carreira de maestro começou no início desta década sob orientação de Eleazar de
Carvalho. Trompista de formação, começou na música aos 6
anos. Aos 13, já era da Orquestra
Sinfônica Municipal de São Paulo.
Três anos mais tarde, já nos EUA,
se apresentava no Carnegie Hall
como solista da Sinfônica Jovem
de Nova York.
Desde o início, o jovem maestro
causou mudanças radicais na Sinfônica de Ribeirão. Como primeiro passo, trocou 20 músicos (o
que seriam hoje mais da metade).
"Nossa idéia foi profissionalizar o
grupo. Ser músico teria de ser a
profissão da pessoa e não uma segunda opção", afirma. Alguns dos
componentes do elenco anterior
eram profissionais liberais e tinham a função na orquestra quase que como um hobby.
Com 62 anos de história, a Sinfônica de Ribeirão é uma das mais
antigas do Estado (a Osesp, por
exemplo, tem 47), mas os concertos antes de 95 eram realizados
com pouquíssima frequência
(nem cinco por ano, em média,
entre 1938 e 88). Nos últimos cinco anos, no entanto, as apresentações passaram a ser mensais.
"Minczuk representou uma explosão cultural para Ribeirão Preto. Ele é um marco para a cidade",
afirma Neide Risso, 80, do conselho deliberativo da Sociedade Lítero Musical.
Neide acompanha a orquestra
desde 1939, quando a sinfônica
nem tinha regente titular ainda.
Para ela, Minczuk é o melhor nome da música erudita na história
de Ribeirão.
Metas
O maestro deixa a Sinfônica de
Ribeirão lamentando algumas
metas que não foram alcançadas,
mas que, com a ajuda de algumas
autoridades (como a prefeitura),
já poderiam ser realidade. "Queria, por exemplo, ainda ter a possibilidade de realizar a implantação da Escola Municipal de Música, mas isso não vai dar."
O espaço destinado para a escola, o antigo hotel Palace, no centro
da cidade, já existe, mas o projeto
não sai do papel há anos.
A escola seria fundamental para
a formação de novos músicos e
para a manutenção da Orquestra
Jovem. Só que, para isso, também
seria necessário a existência de
um maestro-assistente, mas desde que o ex-dono do cargo, Fábio
Costa, assumiu a regência da Spokane Symphony, a função está vaga.
Outra reivindicação de Minczuk era a realização de uma ópera
genuinamente produzida em Ribeirão. "Todo ano eu fazia um
projeto de ópera, contatava os
músicos, mas chegava no fim não
tinha dinheiro", disse.
Ironicamente, a ópera vai acabar sendo realizada e ela só foi definida após a saída do maestro titular (leia textos nesta página).
A grande pergunta após a saída
de Minczuk é como vai ficar a orquestra. Se com ele, um músico de
renome internacional, era difícil
conseguir patrocínio, como será
agora? "É importante termos bastante calma para escolher o substituto certo", afirma Luiz Gaetani,
presidente da Sociedade Lítero
Musical.
Minczuk e sua família moraram
em Ribeirão até fevereiro passado. Desde então, a mulher e os filhos se fixaram em São Paulo.
Sem a sinfônica local, ele passa a
dedicar mais tempo também à família, à igreja (ele é evangélico
praticante) e às leituras de clássicos (de William Shakespeare).
"Agora, vou acompanhar de perto, por exemplo, o crescimento de
meu filho Joshua, 2."
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