Ribeirão Preto, Domingo, 22 de Outubro de 2000

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MÚSICA
Maestro faz as últimas apresentações pela orquestra de Ribeirão no próximo fim-de-semana, no Theatro Pedro 2º
Minczuk se despede com dois concertos

LUÍS EBLAK
EDITOR DA FOLHA RIBEIRÃO

Foram mais de 1.600 horas de ensaio e cerca de 200 concertos. Depois de quase cinco anos à frente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, o maestro Roberto Minczuk se despede da cidade para se dedicar mais à sua carreira internacional.
As últimas duas apresentações oficiais do regente serão nos próximos dias 28 (às 21h) e 29 (às 10h), no Theatro Pedro 2º, com direito também a um jantar de gala depois do concerto.
O maestro pediu afastamento da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto por quase três meses, alegando que sua agenda estava incompatível com seu volume de trabalho.
Desde 1998, Minczuk acumulava três cargos: além de reger Ribeirão, ele havia assumido a função de diretor-assistente da tradicional Filarmônica de Nova York e o de adjunto da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), uma das principais da América Latina.
Além disso, ancorado por empresários na Europa e na América do Norte, este ano, o maestro ampliou suas apresentações internacionais e já tem agendados mais de 15 concertos até 2002, incluindo os do próximo mês, nas orquestras de Colorado e Flórida, nos Estados Unidos.
Com viagens mensais entre São Paulo, Nova York e outras cidades, Minczuk resolveu deixar a Sinfônica de Ribeirão. "Chegou um momento que fisicamente eu estava sentindo, era muito puxado", explica-se.
A projeção internacional de Minczuk foi de fato além das fronteiras nacionais. No mês passado, por exemplo, ele regeu a Osesp no famoso teatro Colón, de Buenos Aires, e o grupo de músicos paulistanos recebeu 15 minutos consecutivos de aplausos da rigorosa platéia argentina.
Com Minczuk, a sinfônica ligada à Sociedade Lítero Musical de Ribeirão teve um desenvolvimento colossal. Deixou de ser um grupo semi-profissional, que chegava a tocar em festas de aniversário, para se tornar uma das dez melhores orquestras do país (leia texto nesta página). "A gente tem essa coisa de pai (com a Sinfônica de Ribeirão). Eu ajudei a formar o grupo e também cresci com ele. Eu amo de paixão a orquestra."
Minczuk chegou a Ribeirão Preto em 1995. Vinha da Orquestra da Universidade de Brasília, onde ocupou pela primeira vez o cargo de regente. Sua carreira de maestro começou no início desta década sob orientação de Eleazar de Carvalho. Trompista de formação, começou na música aos 6 anos. Aos 13, já era da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. Três anos mais tarde, já nos EUA, se apresentava no Carnegie Hall como solista da Sinfônica Jovem de Nova York.
Desde o início, o jovem maestro causou mudanças radicais na Sinfônica de Ribeirão. Como primeiro passo, trocou 20 músicos (o que seriam hoje mais da metade). "Nossa idéia foi profissionalizar o grupo. Ser músico teria de ser a profissão da pessoa e não uma segunda opção", afirma. Alguns dos componentes do elenco anterior eram profissionais liberais e tinham a função na orquestra quase que como um hobby.
Com 62 anos de história, a Sinfônica de Ribeirão é uma das mais antigas do Estado (a Osesp, por exemplo, tem 47), mas os concertos antes de 95 eram realizados com pouquíssima frequência (nem cinco por ano, em média, entre 1938 e 88). Nos últimos cinco anos, no entanto, as apresentações passaram a ser mensais. "Minczuk representou uma explosão cultural para Ribeirão Preto. Ele é um marco para a cidade", afirma Neide Risso, 80, do conselho deliberativo da Sociedade Lítero Musical.
Neide acompanha a orquestra desde 1939, quando a sinfônica nem tinha regente titular ainda. Para ela, Minczuk é o melhor nome da música erudita na história de Ribeirão.

Metas
O maestro deixa a Sinfônica de Ribeirão lamentando algumas metas que não foram alcançadas, mas que, com a ajuda de algumas autoridades (como a prefeitura), já poderiam ser realidade. "Queria, por exemplo, ainda ter a possibilidade de realizar a implantação da Escola Municipal de Música, mas isso não vai dar."
O espaço destinado para a escola, o antigo hotel Palace, no centro da cidade, já existe, mas o projeto não sai do papel há anos.
A escola seria fundamental para a formação de novos músicos e para a manutenção da Orquestra Jovem. Só que, para isso, também seria necessário a existência de um maestro-assistente, mas desde que o ex-dono do cargo, Fábio Costa, assumiu a regência da Spokane Symphony, a função está vaga.
Outra reivindicação de Minczuk era a realização de uma ópera genuinamente produzida em Ribeirão. "Todo ano eu fazia um projeto de ópera, contatava os músicos, mas chegava no fim não tinha dinheiro", disse.
Ironicamente, a ópera vai acabar sendo realizada e ela só foi definida após a saída do maestro titular (leia textos nesta página).
A grande pergunta após a saída de Minczuk é como vai ficar a orquestra. Se com ele, um músico de renome internacional, era difícil conseguir patrocínio, como será agora? "É importante termos bastante calma para escolher o substituto certo", afirma Luiz Gaetani, presidente da Sociedade Lítero Musical.
Minczuk e sua família moraram em Ribeirão até fevereiro passado. Desde então, a mulher e os filhos se fixaram em São Paulo.
Sem a sinfônica local, ele passa a dedicar mais tempo também à família, à igreja (ele é evangélico praticante) e às leituras de clássicos (de William Shakespeare). "Agora, vou acompanhar de perto, por exemplo, o crescimento de meu filho Joshua, 2."



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