Ribeirão Preto, Sábado, 22 de Novembro de 2008

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"Cidades da cana" temem fim da migração

Usinas podem trocar, já para a próxima safra, contrato temporário por vínculo permanente de trabalho

ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO

As cidades da região com característica histórica de abrigar trabalhadores rurais migrantes temem passar por dificuldades caso as usinas confirmem a tendência de trocar os contratos temporários de safristas por vínculo permanente de trabalho, conforme publicou a Folha anteontem.
A mudança deve ganhar força na próxima temporada, segundo a Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), por causa do avanço da mecanização e da extensão do período de safra, que hoje toma ao menos nove meses do ano.
O fim dos temporários pode causar uma migração definitiva de trabalhadores para cidades como Pontal, Guariba, Barrinha, Dobrada e Santa Ernestina, entre outras. Segundo o Ministério Público do Trabalho, pelo menos 25 cidades da região abrigam anualmente milhares de temporários.
"Se os trabalhadores fizerem a opção de trazer as famílias, não temos condição de abrigar essas cerca de 300 ou 400 famílias. Não existe, por exemplo, esse número de casas vagas no setor imobiliário", disse o prefeito eleito de Guariba, Hermínio de Laurentiz Neto (PSDB).
Em Guariba, com 34 mil habitantes e que abriga o sindicato com mais bóias-frias filiados na região, estima-se que 800 rurais cheguem a cada início de safra. "Nosso Hospital Regional dos Plantadores de Cana, por exemplo, não tem condições de aumentar sua capacidade por enquanto", afirmou.
Para o atual prefeito de Pontal, Antônio Luís Garnica (PTB), a cidade, que chega a receber 10 mil trabalhadores por safra, deve ter problemas estruturais, principalmente na educação e assistência social.
"Da maneira que está hoje, nossa farmácia do município distribui quase 400 mil comprimidos, um número absurdo. Nossas escolas já recebem de 250 a 300 crianças novas no início de safra, que vão embora em novembro, antes do fim do ano letivo", disse.
Apesar de temer pelo boom de novos moradores efetivos, as cidades consideram que o futuro tende a ser melhor sem a migração.
"Ao menos eles contarão na nossa população oficial e vamos receber o repasse relativo a eles. Passaremos a saber com quantos estamos lidando", disse o prefeito de Santa Ernestina, José Carlos Simão (PTB).
Segundo Simão, por conta dos migrantes, a cidade vive no limite de orçamento para Saúde e Educação. "Gastamos tudo. Se precisar fazer uma obra, temos que recorrer ao governo federal", disse.
Para o procurador José Ruiz Maturana, de Bauru, especialista em casos que envolvem trabalhadores rurais, a eliminação do migrante safrista será positiva para a sociedade, apesar do impacto inicial. Para ele, eles não serão mais vistos como "adendos da população".
"Tendem a melhorar de vida com isso. Seus filhos serão inseridos nas escolas e nos sistemas de saúde. O dinheiro que ganham será gasto no local, ou seja, eles serão cidadãos de fato." Para ele, também será mais fácil fiscalizar condições de trabalho e segurança nas usinas.



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