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"Cidades da cana" temem fim da migração
Usinas podem trocar, já para a próxima safra, contrato temporário por vínculo permanente de trabalho
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO
As cidades da região com característica histórica de abrigar
trabalhadores rurais migrantes
temem passar por dificuldades
caso as usinas confirmem a
tendência de trocar os contratos temporários de safristas por
vínculo permanente de trabalho, conforme publicou a Folha
anteontem.
A mudança deve ganhar força na próxima temporada, segundo a Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar),
por causa do avanço da mecanização e da extensão do período de safra, que hoje toma ao
menos nove meses do ano.
O fim dos temporários pode
causar uma migração definitiva
de trabalhadores para cidades
como Pontal, Guariba, Barrinha, Dobrada e Santa Ernestina, entre outras. Segundo o Ministério Público do Trabalho,
pelo menos 25 cidades da região abrigam anualmente milhares de temporários.
"Se os trabalhadores fizerem
a opção de trazer as famílias,
não temos condição de abrigar
essas cerca de 300 ou 400 famílias. Não existe, por exemplo, esse número de casas vagas
no setor imobiliário", disse o
prefeito eleito de Guariba, Hermínio de Laurentiz Neto
(PSDB).
Em Guariba, com 34 mil habitantes e que abriga o sindicato com mais bóias-frias filiados
na região, estima-se que 800
rurais cheguem a cada início de
safra. "Nosso Hospital Regional dos Plantadores de Cana,
por exemplo, não tem condições de aumentar sua capacidade por enquanto", afirmou.
Para o atual prefeito de Pontal, Antônio Luís Garnica
(PTB), a cidade, que chega a receber 10 mil trabalhadores por
safra, deve ter problemas estruturais, principalmente na
educação e assistência social.
"Da maneira que está hoje,
nossa farmácia do município
distribui quase 400 mil comprimidos, um número absurdo.
Nossas escolas já recebem de
250 a 300 crianças novas no
início de safra, que vão embora
em novembro, antes do fim do
ano letivo", disse.
Apesar de temer pelo boom
de novos moradores efetivos,
as cidades consideram que o
futuro tende a ser melhor sem
a migração.
"Ao menos eles contarão na
nossa população oficial e vamos receber o repasse relativo
a eles. Passaremos a saber com
quantos estamos lidando", disse o prefeito de Santa Ernestina, José Carlos Simão (PTB).
Segundo Simão, por conta
dos migrantes, a cidade vive no
limite de orçamento para Saúde e Educação. "Gastamos tudo. Se precisar fazer uma obra,
temos que recorrer ao governo
federal", disse.
Para o procurador José Ruiz
Maturana, de Bauru, especialista em casos que envolvem
trabalhadores rurais, a eliminação do migrante safrista será
positiva para a sociedade, apesar do impacto inicial. Para ele,
eles não serão mais vistos como "adendos da população".
"Tendem a melhorar de vida
com isso. Seus filhos serão inseridos nas escolas e nos sistemas de saúde. O dinheiro que
ganham será gasto no local, ou
seja, eles serão cidadãos de fato." Para ele, também será mais
fácil fiscalizar condições de trabalho e segurança nas usinas.
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