Ribeirão Preto, Quinta-feira, 23 de Abril de 2009

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"Farra das passagens" atinge três da região

Deputados federais Ubiali e Lobbe Neto usaram cotas para viagens de parentes ao exterior; Nogueira foi para a Alemanha

Cientista social diz que é estranho um deputado achar normal estender os benefícios públicos a sua família ou aos seus amigos

JEAN DE SOUZA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO

A "farra de passagens", que tem causado turbulências no Congresso, atinge pelo menos três deputados federais da região. Lobbe Neto (PSDB), de São Carlos, e Marco Aurélio Ubiali (PSB), de Franca, utilizaram as cotas de passagens a que têm direito para pagar viagens de parentes em 2007 e 2008. Já Antônio Duarte Nogueira Junior (PSDB), de Ribeirão, usou a cota para viajar a Alemanha, em outubro de 2008.
O levantamento é do site Congresso em Foco, feito a partir de registros fornecidos pelas companhias aéreas.
O recordista da região é Marco Aurélio Ubiali, com 11 bilhetes. Entre os beneficiados pela cota de passagens do deputado estão sua mulher, Eugenia Ubiali, e os filhos Guilherme e Julia, além da assessora Claudia Cursino, e de Muriel Pinheiro, uma estudante bolsista que o deputado diz ter ajudado a viajar para Alemanha. Os destinos do deputado, de sua família e da assessora incluem Nova York, Miami e Milão.
Na cota de Lobbe Neto, constam três bilhetes, emitidos em nome de Lilian e Thais Lobbe, respectivamente sua mulher e filha. A viagem, feita em outubro de 2007, teve como destino Santiago (Chile). Nogueira tem dois bilhetes emitidos para ele mesmo em viagem (ida e volta) para Frankfurt.
Ubiali disse que seguiu orientação da Mesa e que não vê imoralidade em viajar ao exterior acompanhado da mulher e dos filhos, já que o trabalho do parlamentar não se resume às atividades em Brasília. Lobbe Neto afirmou que as viagens foram pagas com milhagem e Nogueira disse que fez uma viagem de trabalho a Alemanha (leia nesta página).
As cotas de passagens são destinadas aos parlamentares para que eles possam viajar às bases eleitorais nos finais de semana e para cumprirem agenda parlamentar. A verba mensal de cada um era de R$ 4,7 mil a R$ 18,7 mil -a cota dos políticos da região era de cerca de R$ 9 mil -, mas os valores tiveram redução de 20%, após a enxurrada de denúncias.
Reagindo à sucessão de escândalos envolvendo o amplo pacote de benefícios dos parlamentares, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), que também admitiu ter usado sua cota para bancar viagens de parentes, anunciou ontem "medidas moralizadoras", entre elas, um maior controle sobre as passagens.
Para a professora de ciência política da Unesp de Araraquara Maria Teresa Kerbauer, o argumento dos deputados -de que a distribuição de passagens entre parentes era um prática comum no Congresso- é "injustificável". "Estranho que um deputado, aquele que é representante do eleitor, ache normal estender os benefícios públicos a sua família e amigos."


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