Ribeirão Preto, Domingo, 23 de Agosto de 2009

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Em 5 anos, boia-fria corta 1,5 t de cana a mais por dia

Levantamento do IEA aponta que microrregião de Ribeirão teve maior alta

Especialistas afirmam que crescimento é causado pelo endurecimento das usinas e pela desvalorização da quantia paga pela cana

DA FOLHA RIBEIRÃO

Um boia-fria da região de Ribeirão corta na atual safra, em média, 1,5 tonelada de cana-de-açúcar a mais por dia do que há cinco anos. É o que mostra levantamento feito pela Folha com dados do IEA (Instituto de Economia Agrícola), órgão ligado à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.
Para especialistas, a alta se deve a um endurecimento das usinas na cobrança sobre a mão-de-obra e à desvalorização da quantia pago pela cana cortada. A quantidade de cana que um cortador derruba na atual safra na região, em média, é de nove toneladas diárias. Em 2004, o mesmo trabalhador rural cortava 7,5 toneladas. Os dados são de quatro regionais que abrangem os 89 municípios da região: Barretos, Central, Franca e Ribeirão Preto.
Os números ainda apontam que o boia-fria trabalha mais na região de Franca: são 9,32 toneladas por dia.
Para o professor do departamento de engenharia agrícola da Unesp Francisco Alves, que estuda as condições de vida dos boias-frias, os números oficiais são subestimados e a rotina deles é ainda mais dura.
"Eles trabalham ainda mais. Esse levantamento desconsidera o absenteísmo. Não leva em conta as faltas, os boias-frias que não trabalham por um motivo ou outro. Cortam mais do que isso", disse.
A livre-docente da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara Maria Aparecida de Moraes Silva, que tem trabalhos publicados sobre as condições de trabalho dos cortadores, concorda. "O mínimo que cortam é dez toneladas por dia", afirmou.
Para ela, o aumento deve-se à desvalorização do preço pago pela tonelada da cana, o que obriga os trabalhadores a cortar mais, e a maiores exigências das usinas. "Nos anos 80, cortava-se de cinco a oito toneladas por dia. Esse aumento nas exigências das usinas também os faz preferir os mais jovens, que aguentam mais", disse.
A coordenadora da Pastoral do Migrante de Guariba, Inês Facioli, disse que tem percebido aumento nas reclamações dos trabalhadores sobre a rotina nas lavouras. "Se queixam do cansaço com frequência."
Para o presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Guariba, Wilson Rodrigues da Silva, os boias-frias trabalham muito, mas ele não percebe aumento da carga de trabalho. "Sempre foi duro."
O cortador de cana Carlos Santos da Silva, 21, que trabalha e mora em Guariba, não sabe quanta cana corta por dia. Apenas disse saber que é "bastante". Novato ainda na lavoura (está em sua segunda safra), ele trabalha das 7h às 15h20, diariamente, e acha o serviço pesado. "Quem vê isso [quantidade de cana cortada] são os chefes", disse. Natural de Chapadinha (MA), porém, pensa em continuar a enfrentar a rotina para juntar dinheiro.
A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) foi procurada para comentar o assunto por três dias na última semana, mas não deu resposta. O diretor regional, Sérgio Prado, não quis comentar.


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