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Em 5 anos, boia-fria corta 1,5 t de cana a mais por dia
Levantamento do IEA aponta que microrregião de Ribeirão teve maior alta
Especialistas afirmam que crescimento é causado pelo endurecimento das usinas e pela desvalorização da quantia paga pela cana
DA FOLHA RIBEIRÃO
Um boia-fria da região de Ribeirão corta na atual safra, em
média, 1,5 tonelada de cana-de-açúcar a mais por dia do que há
cinco anos. É o que mostra levantamento feito pela Folha
com dados do IEA (Instituto de
Economia Agrícola), órgão ligado à Secretaria de Estado da
Agricultura e Abastecimento.
Para especialistas, a alta se
deve a um endurecimento das
usinas na cobrança sobre a
mão-de-obra e à desvalorização da quantia pago pela cana
cortada. A quantidade de cana
que um cortador derruba na
atual safra na região, em média,
é de nove toneladas diárias. Em
2004, o mesmo trabalhador rural cortava 7,5 toneladas. Os
dados são de quatro regionais
que abrangem os 89 municípios da região: Barretos, Central, Franca e Ribeirão Preto.
Os números ainda apontam
que o boia-fria trabalha mais
na região de Franca: são 9,32
toneladas por dia.
Para o professor do departamento de engenharia agrícola
da Unesp Francisco Alves, que
estuda as condições de vida dos
boias-frias, os números oficiais
são subestimados e a rotina deles é ainda mais dura.
"Eles trabalham ainda mais.
Esse levantamento desconsidera o absenteísmo. Não leva
em conta as faltas, os boias-frias que não trabalham por
um motivo ou outro. Cortam
mais do que isso", disse.
A livre-docente da Unesp
(Universidade Estadual Paulista) de Araraquara Maria Aparecida de Moraes Silva, que
tem trabalhos publicados sobre
as condições de trabalho dos
cortadores, concorda. "O mínimo que cortam é dez toneladas
por dia", afirmou.
Para ela, o aumento deve-se
à desvalorização do preço pago
pela tonelada da cana, o que
obriga os trabalhadores a cortar mais, e a maiores exigências
das usinas. "Nos anos 80, cortava-se de cinco a oito toneladas
por dia. Esse aumento nas exigências das usinas também os
faz preferir os mais jovens, que
aguentam mais", disse.
A coordenadora da Pastoral
do Migrante de Guariba, Inês
Facioli, disse que tem percebido aumento nas reclamações
dos trabalhadores sobre a rotina nas lavouras. "Se queixam
do cansaço com frequência."
Para o presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de
Guariba, Wilson Rodrigues da
Silva, os boias-frias trabalham
muito, mas ele não percebe aumento da carga de trabalho.
"Sempre foi duro."
O cortador de cana Carlos
Santos da Silva, 21, que trabalha e mora em Guariba, não sabe quanta cana corta por dia.
Apenas disse saber que é "bastante". Novato ainda na lavoura (está em sua segunda safra),
ele trabalha das 7h às 15h20,
diariamente, e acha o serviço
pesado. "Quem vê isso [quantidade de cana cortada] são os
chefes", disse. Natural de Chapadinha (MA), porém, pensa
em continuar a enfrentar a rotina para juntar dinheiro.
A Unica (União da Indústria
de Cana-de-Açúcar) foi procurada para comentar o assunto
por três dias na última semana,
mas não deu resposta. O diretor regional, Sérgio Prado, não
quis comentar.
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