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Três em cada dez mulheres já foram agredidas pelo parceiro
É o que aponta pesquisa da USP de Ribeirão com mulheres atendidas nos postos
Médica considera alto
o índice e diz que mulheres
e profissionais de saúde
têm muita dificuldade de
falar sobre o assunto
Edson Silva/Folha Imagem
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M., faxineira que foi agredida pelo parceiro durante oito anos |
VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
"Ele bebia, chegava em casa
muito agressivo e começava a
me xingar. Falava que eu não
trabalhava fora nada, que estava indo atrás de homem. E aí,
ele começava a me bater."
A história da faxineira M., de
Ribeirão Preto, que durante oito anos apanhou do ex-marido
até conseguir mantê-lo longe
de sua casa com ajuda da Justiça, é semelhante à de outras
mulheres atendidas em postos
de saúde ligados ao SUS (Sistema Único de Saúde) na cidade.
De acordo com uma pesquisa
realizada na USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão,
três em cada dez mulheres
atendidas nos consultórios da
rede municipal já foram agredidas por seus parceiros pelo menos uma vez na vida.
Para realizar o estudo, coordenado pela professora Elisabeth Meloni Vieira, do Departamento de Medicina Social da
FMRP (Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto), os pesquisadores entrevistaram 504 mulheres consultadas no ano passado por clínicos gerais e ginecologistas nas cinco distritais
de saúde.
Do total de mulheres, 34,5%
afirmaram que já tinham sido
agredidas de forma física ou
psicológica pelo menos menos
uma vez na vida.
A agressão física foi citada
por 31,2% das pacientes. Nos
últimos 12 meses, o total de entrevistadas que admitiram ter
sido agredidas fisicamente por
seus parceiros chegou a 18,2%.
"Isso [o número de mulheres
agredidas] é muita coisa. A violência cometida contra a mulher pelo parceiro não é visível.
E isso acontece porque as mulheres têm dificuldade de falar
sobre isso e porque os profissionais da saúde também têm",
afirmou Vieira.
O objetivo do estudo, que será entregue à Secretaria da Saúde de Ribeirão, é nortear políticas públicas de combate à violência contra a mulher e de
apoio à paciente que é agredida
em casa.
Além disso, segundo Vieira, a
pesquisa apresenta propostas
que vão auxiliar o município a
preparar melhor os profissionais de saúde que lidam com
mulheres também para que todos os casos de violência sejam
denunciados à polícia.
"Existem dados na literatura
que indicam que o profissional
costuma não perguntar sobre
agressão quando não existem
sinais de violência aparente
[hematomas ou ferimentos]. E,
muitas vezes, essa é a única
oportunidade que a mulher
tem para falar sobre o que está
acontecendo com ela", afirmou
a médica.
Todos os resultados do estudo serão apresentados hoje, a
partir das 8h, em um seminário
sobre a violência contra a mulher voltado aos profissionais
da saúde da rede básica do município. O evento será realizado
no anfiteatro 2 da EERP (Escola de Enfermagem de Ribeirão
Preto), no campus da USP. A
participação é gratuita.
Segundo a médica, já foi comprovado cientificamente que
mulheres vítimas de violência
procuram mais o serviço de
saúde. Elas tendem a apresentar mais queixas de dores muscular e pélvica, sintomas de depressão, tentativas de suicídio,
entre outros problemas.
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