Ribeirão Preto, Segunda-feira, 24 de Agosto de 2009

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Três em cada dez mulheres já foram agredidas pelo parceiro

É o que aponta pesquisa da USP de Ribeirão com mulheres atendidas nos postos

Médica considera alto o índice e diz que mulheres e profissionais de saúde têm muita dificuldade de falar sobre o assunto

Edson Silva/Folha Imagem
M., faxineira que foi agredida pelo parceiro durante oito anos


VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

"Ele bebia, chegava em casa muito agressivo e começava a me xingar. Falava que eu não trabalhava fora nada, que estava indo atrás de homem. E aí, ele começava a me bater."
A história da faxineira M., de Ribeirão Preto, que durante oito anos apanhou do ex-marido até conseguir mantê-lo longe de sua casa com ajuda da Justiça, é semelhante à de outras mulheres atendidas em postos de saúde ligados ao SUS (Sistema Único de Saúde) na cidade.
De acordo com uma pesquisa realizada na USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão, três em cada dez mulheres atendidas nos consultórios da rede municipal já foram agredidas por seus parceiros pelo menos uma vez na vida.
Para realizar o estudo, coordenado pela professora Elisabeth Meloni Vieira, do Departamento de Medicina Social da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto), os pesquisadores entrevistaram 504 mulheres consultadas no ano passado por clínicos gerais e ginecologistas nas cinco distritais de saúde.
Do total de mulheres, 34,5% afirmaram que já tinham sido agredidas de forma física ou psicológica pelo menos menos uma vez na vida.
A agressão física foi citada por 31,2% das pacientes. Nos últimos 12 meses, o total de entrevistadas que admitiram ter sido agredidas fisicamente por seus parceiros chegou a 18,2%.
"Isso [o número de mulheres agredidas] é muita coisa. A violência cometida contra a mulher pelo parceiro não é visível. E isso acontece porque as mulheres têm dificuldade de falar sobre isso e porque os profissionais da saúde também têm", afirmou Vieira.
O objetivo do estudo, que será entregue à Secretaria da Saúde de Ribeirão, é nortear políticas públicas de combate à violência contra a mulher e de apoio à paciente que é agredida em casa.
Além disso, segundo Vieira, a pesquisa apresenta propostas que vão auxiliar o município a preparar melhor os profissionais de saúde que lidam com mulheres também para que todos os casos de violência sejam denunciados à polícia.
"Existem dados na literatura que indicam que o profissional costuma não perguntar sobre agressão quando não existem sinais de violência aparente [hematomas ou ferimentos]. E, muitas vezes, essa é a única oportunidade que a mulher tem para falar sobre o que está acontecendo com ela", afirmou a médica.
Todos os resultados do estudo serão apresentados hoje, a partir das 8h, em um seminário sobre a violência contra a mulher voltado aos profissionais da saúde da rede básica do município. O evento será realizado no anfiteatro 2 da EERP (Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto), no campus da USP. A participação é gratuita.
Segundo a médica, já foi comprovado cientificamente que mulheres vítimas de violência procuram mais o serviço de saúde. Elas tendem a apresentar mais queixas de dores muscular e pélvica, sintomas de depressão, tentativas de suicídio, entre outros problemas.


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