Ribeirão Preto, Domingo, 25 de Abril de 2010

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Produção de cafés finos avança na região

Alta Mogiana vê crescimento da variedade gourmet, que tem cuidados especiais em sementes, máquinas e funcionários

Diretor da Abic afirma que cafeicultores da região dominam técnicas e produzem café disputado pelo mercado externo

PAULO GODOY
ENVIADO A RIBEIRÃO CORRENTE

Quem observa à distância os cafezais nas microrregiões de Franca e Ribeirão Preto pode não perceber, mas um tipo especial de café vem cavando o seu lugar em meio a lavouras tradicionais. Considerada por especialistas a produtora do melhor café do mundo, a Alta Mogiana está assistindo ao avanço da variedade gourmet, bebida ainda proibitiva ao consumidor brasileiro, mas cada vez mais valorizada e consumida na Europa e na Ásia.
Os cuidados começam, como era de se esperar, na própria lavoura. Ajudada pela topografia, com propriedades localizadas em altitudes entre 800 m e mil m, pela temperatura -amena, com médias anuais de 20ºC- e com um inverno seco e verão chuvoso, as plantações sofreram alterações para que o novo grão pudesse vingar.
Nessa conta, entram o treinamento dos funcionários e trabalhadores que vão apanhar a fruta no pé, os investimentos em maquinários e na seleção de variedades e sementes a serem utilizadas.
Para o produtor, não se trata bem de uma revolução no campo. Transformar parte dos cafezais (normalmente 20% da área no estágio inicial), colocando plantas, funcionários e sistemas de colheita, armazenagem e transporte em condições ideais para produzir o café especial significa um custo que boa parte dos cafeicultores não consegue bancar. Em alguns casos, disseram produtores, custos de produção podem levar mais de 50% da receita obtida com a venda da safra.
O tal café especial começou a aparecer cerca de dez anos atrás. Em 2000, segundo Natan Hersckowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira para a Indústria do Café), entidade que monitora mais de 400 marcas no país, não havia variedades gourmet no mercado. No máximo, algumas eram encontradas em endereços restritos, mas ainda assim muito longe de significar uma opção para o consumidor. Hoje, avalia Hersckowicz, existem perto de 120 marcas de cafés especiais disponíveis no mercado, sendo 80 delas atestadas por diferentes entidades certificadoras.
Em Cravinhos, a fazenda Sapecado, que existe há 130 anos, ainda não está na lista das propriedades certificadas, mas manda todos os anos até 3.500 sacas de café gourmet para Itália, Alemanha, Japão e outros países, por meio do seu escritório de exportação em Santos.
Na Sapecado, o café ocupa 70 de seus 1.200 hectares, dominados pela cana-de-açúcar, plantada 25 anos atrás. Entre 1991 e 1996, o cafezal foi praticamente extinto na fazenda, quando voltou reconfigurado.
"Precisamos preparar a lavoura, aumentando a distâncias entre as árvores, prevendo o uso de máquinas, adotando novas variedades e misturando plantações de diferentes épocas", afirmou o cafeicultor Francisco Castilho.
Antes desse período, outras iniciativas -como um pioneiro sistema de irrigação por pivô central- permitiram o resultado verificado hoje na fazenda de Cravinhos, de acordo com o produtor. Na propriedade, o café é apanhado seco no terreiro antes de ir para as centenárias tulhas de madeira, modernizadas nos últimos anos.
Lá o controle de umidade é rígido, fixado em 11%. "Metade da qualidade do nosso café é garantida pelo grão. Os outros 50% são divididos entre o maquinário e a mão de quem o apanha. Mesmo com tanto cuidado, qualquer descuido, uma goteira que seja, é suficiente para o grão fermentar e você perder dinheiro", afirmou.


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