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Produção de cafés finos avança na região
Alta Mogiana vê crescimento da variedade gourmet, que tem cuidados especiais em sementes, máquinas e funcionários
Diretor da Abic afirma que cafeicultores da região dominam técnicas e produzem café disputado pelo mercado externo
PAULO GODOY
ENVIADO A RIBEIRÃO CORRENTE
Quem observa à distância os
cafezais nas microrregiões de
Franca e Ribeirão Preto pode
não perceber, mas um tipo especial de café vem cavando o
seu lugar em meio a lavouras
tradicionais. Considerada por
especialistas a produtora do
melhor café do mundo, a Alta
Mogiana está assistindo ao
avanço da variedade gourmet,
bebida ainda proibitiva ao consumidor brasileiro, mas cada
vez mais valorizada e consumida na Europa e na Ásia.
Os cuidados começam, como
era de se esperar, na própria lavoura. Ajudada pela topografia,
com propriedades localizadas
em altitudes entre 800 m e mil
m, pela temperatura -amena,
com médias anuais de 20ºC- e
com um inverno seco e verão
chuvoso, as plantações sofreram alterações para que o novo
grão pudesse vingar.
Nessa conta, entram o treinamento dos funcionários e
trabalhadores que vão apanhar
a fruta no pé, os investimentos
em maquinários e na seleção de
variedades e sementes a serem
utilizadas.
Para o produtor, não se trata
bem de uma revolução no campo. Transformar parte dos cafezais (normalmente 20% da
área no estágio inicial), colocando plantas, funcionários e
sistemas de colheita, armazenagem e transporte em condições ideais para produzir o café
especial significa um custo que
boa parte dos cafeicultores não
consegue bancar. Em alguns
casos, disseram produtores,
custos de produção podem levar mais de 50% da receita obtida com a venda da safra.
O tal café especial começou a
aparecer cerca de dez anos
atrás. Em 2000, segundo Natan
Hersckowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira para a Indústria do Café), entidade que monitora mais de
400 marcas no país, não havia
variedades gourmet no mercado. No máximo, algumas eram
encontradas em endereços restritos, mas ainda assim muito
longe de significar uma opção
para o consumidor. Hoje, avalia
Hersckowicz, existem perto de
120 marcas de cafés especiais
disponíveis no mercado, sendo
80 delas atestadas por diferentes entidades certificadoras.
Em Cravinhos, a fazenda Sapecado, que existe há 130 anos,
ainda não está na lista das propriedades certificadas, mas
manda todos os anos até 3.500
sacas de café gourmet para Itália, Alemanha, Japão e outros
países, por meio do seu escritório de exportação em Santos.
Na Sapecado, o café ocupa 70
de seus 1.200 hectares, dominados pela cana-de-açúcar,
plantada 25 anos atrás. Entre
1991 e 1996, o cafezal foi praticamente extinto na fazenda,
quando voltou reconfigurado.
"Precisamos preparar a lavoura, aumentando a distâncias entre as árvores, prevendo
o uso de máquinas, adotando
novas variedades e misturando
plantações de diferentes épocas", afirmou o cafeicultor
Francisco Castilho.
Antes desse período, outras
iniciativas -como um pioneiro
sistema de irrigação por pivô
central- permitiram o resultado verificado hoje na fazenda
de Cravinhos, de acordo com o
produtor. Na propriedade, o café é apanhado seco no terreiro
antes de ir para as centenárias
tulhas de madeira, modernizadas nos últimos anos.
Lá o controle de umidade é
rígido, fixado em 11%. "Metade
da qualidade do nosso café é garantida pelo grão. Os outros
50% são divididos entre o maquinário e a mão de quem o
apanha. Mesmo com tanto cuidado, qualquer descuido, uma
goteira que seja, é suficiente
para o grão fermentar e você
perder dinheiro", afirmou.
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