Ribeirão Preto, Quinta-feira, 25 de Junho de 2009

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"O Mago" foi a obra mais difícil, diz Morais

DA FOLHA RIBEIRÃO

O jornalista e escritor Fernando Morais, experiente em escrever biografias, diz que "O Mago", sobre Paulo Coelho, foi a obra mais difícil. Ele estará no Salão de Ideias de amanhã, às 19h, na Feira do Livro. A seguir, trechos da entrevista. (JC)

 

FOLHA - Qual biografia exigiu mais seu esforço?
FERNANDO MORAIS
- Venho da primeira experiência de escrever para alguém vivo. Foi a mais difícil. Não é bom, por uma série de razões. Primeiro, porque ele está vivo, você não está escrevendo sobre uma vida, mas sobre uma parte de uma vida. Depois, porque no caso do Paulo [Coelho], trabalhei por quatro anos com ele, grudado nele. Por mais que você busque manter um distanciamento crítico, essa relação gera laços afetivos.

FOLHA - Houve uma crise?
MORAIS
- Sim, acabou me trazendo conflitos de consciência, éticos, porque eu comecei a descobrir coisas da história dele que não são exatamente virtudes: drogas, homossexualismo, satanismo. Tive dúvidas se eu tinha o direito de expor de uma maneira tão crua fraturas de alguém que abriu a sua vida para mim. Então, descobri o óbvio: eu não podia submeter o meu leitor a uma censura que o Paulo não tinha pedido. Em nenhum momento, ele exigiu nada. Agora, quando é um morto, o objetivo do autor é colocá-lo para andar de novo o mais parecido possível com o que ele era quando vivo, como em "Chatô -O Rei do Brasil".

FOLHA - Quais erros devem ser evitados em uma biografia?
MORAIS
- Os dois maiores riscos estão em algum tipo de envolvimento do autor com o personagem, canonizá-lo ou crucificá-lo. Com "Olga", por exemplo, tive dificuldade de manter distanciamento porque é um personagem apaixonante. Precisa ter cuidado para não fazer a biografia de um santo. Nem o oposto. Por exemplo, eu, de esquerda, falei de Chateaubriand, um capitalista.

FOLHA - As pessoas têm mostrado mais interesse por biografias?
MORAIS
- Não sei. Procuro fazer da biografia um instrumento de revelar algo além do personagem. Então, se o personagem permite que você conte um pouco da história do Brasil, certamente será candidato a ser um livro de sucesso.

FOLHA - Qual autor ou livro foi uma referência para o sr.?
MORAIS
- Minha geração se inspirou no chamado "new journalism" norte-americano: Truman Capote, Gay Talese, Tom Wolfe. São jornalistas que decidiram escrever livros de não-ficção mas com um tratamento estético literário.

FOLHA - Qual o maior entrave para formar um público leitor?
MORAIS
- Falam que livro vende pouco porque é caro, outros que é caro porque vende pouco. Na verdade, você resolve esse problema com educação, investimento em biblioteca pública, como nos países civilizados. A maioria não tem uma biblioteca pública.


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