|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fila para tratar gagueira leva seis meses
Por ser gago, garoto de 5 anos que esperou cinco meses por atendimento não quer freqüentar a escola no ano que vem
Atendimento em Ribeirão Preto, que conta com 13 fonoaudiólogas na rede municipal, é feito apenas nas cinco UBDS e no NGA
GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
Gago, o menino Paulo (nome
fictício), 5, não quer freqüentar
a escola a partir do ano que
vem, quando deveria começar a
estudar. Tornou-se agressivo
há cerca de dois meses, quando
a fala começou a demorar mais
para sair e ganhou o apelido de
Cebolinha -além da gagueira,
também troca o R pelo L, como
o personagem dos quadrinhos.
"Tenho até medo, porque ele
está muito agressivo, vai que
bate nas professoras, nos colegas", disse a mãe, A.R.S., 31.
A espera por atendimento na
rede pública pode ter contribuído para que o menino tenha
desenvolvido gagueira mais intensa, acredita a mãe.
Paulo ficou cinco meses à espera do tratamento na rede pública e só conseguiu a primeira
sessão com fonoaudióloga na
última quinta-feira, na UBDS
(Unidade Básica Distrital de
Saúde) do Sumarezinho. "Acho
que esse problema já poderia
ter sido resolvido se ele fosse
atendido mais rápido."
A demora no atendimento ao
garoto não é exceção. Em Ribeirão Preto, os gagos esperam
em média seis meses para passarem por tratamento na rede
pública de saúde, segundo levantamento feito pela Folha
nas distritais de saúde.
O atendimento é feito somente nas cinco UBDS e no
NGA (Núcleo Geral de Atendimento). Ribeirão Preto conta
atualmente com 13 fonoaudiólogos na rede, de acordo com o
site da prefeitura.
Não há nenhum dado oficial
sobre o número de gagos na cidade. A Secretaria da Saúde
não tem nenhuma estimativa
sobre de casos, de acordo com o
secretário da pasta, Oswaldo
Cruz Franco.
Incidência
A fonoaudióloga Eliana Menezes, que atende em clínica
particular e estuda o assunto,
afirmou que estudos apontam
que a gagueira atinge aproximadamente 1% da população
adulta e até 4% das crianças. "A
primeira consulta é até rápida.
O tratamento demora um pouco mais", afirmou o otorrinolaringologista Tacito Sgorlon,
que faz o primeiro atendimento a pessoas com gagueira.
De acordo com ele, são poucos os casos registrados. "Acho
que não passa de um por mês",
afirmou.
Na clínica da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto),
que atende gratuitamente, passam aproximadamente cem
crianças gagas por ano pelos estudantes, de acordo com a professora de fonoaudiologia Beatriz Ferrioli.
A Unaerp também não tinha,
na semana passada, o número
de pessoas inscritas na fila de
espera.
Apesar de o número ser considerado pouco expressivo,
existe fila porque o tratamento
não tem prazo definido, dizem
especialistas -pode levar de
seis meses até anos.
Sempre manifestada na infância, por volta dos dois anos, a
gagueira é uma predisposição
do indivíduo, mas o ambiente
pode agravar a situação, de
acordo com a fonoaudióloga
Cássia Borghino Sestari, da
UBDS Sumarezinho. "Principalmente quando a família não
dá muita atenção", afirmou a
fonoaudióloga à Folha.
Texto Anterior: Policiais da região lotam 8 ônibus para protesto em SP Próximo Texto: Gago desde os 8, técnico diz haver preconceito Índice
|