Ribeirão Preto, Domingo, 26 de Outubro de 2008

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Fila para tratar gagueira leva seis meses

Por ser gago, garoto de 5 anos que esperou cinco meses por atendimento não quer freqüentar a escola no ano que vem

Atendimento em Ribeirão Preto, que conta com 13 fonoaudiólogas na rede municipal, é feito apenas nas cinco UBDS e no NGA


GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

Gago, o menino Paulo (nome fictício), 5, não quer freqüentar a escola a partir do ano que vem, quando deveria começar a estudar. Tornou-se agressivo há cerca de dois meses, quando a fala começou a demorar mais para sair e ganhou o apelido de Cebolinha -além da gagueira, também troca o R pelo L, como o personagem dos quadrinhos.
"Tenho até medo, porque ele está muito agressivo, vai que bate nas professoras, nos colegas", disse a mãe, A.R.S., 31.
A espera por atendimento na rede pública pode ter contribuído para que o menino tenha desenvolvido gagueira mais intensa, acredita a mãe.
Paulo ficou cinco meses à espera do tratamento na rede pública e só conseguiu a primeira sessão com fonoaudióloga na última quinta-feira, na UBDS (Unidade Básica Distrital de Saúde) do Sumarezinho. "Acho que esse problema já poderia ter sido resolvido se ele fosse atendido mais rápido."
A demora no atendimento ao garoto não é exceção. Em Ribeirão Preto, os gagos esperam em média seis meses para passarem por tratamento na rede pública de saúde, segundo levantamento feito pela Folha nas distritais de saúde.
O atendimento é feito somente nas cinco UBDS e no NGA (Núcleo Geral de Atendimento). Ribeirão Preto conta atualmente com 13 fonoaudiólogos na rede, de acordo com o site da prefeitura.
Não há nenhum dado oficial sobre o número de gagos na cidade. A Secretaria da Saúde não tem nenhuma estimativa sobre de casos, de acordo com o secretário da pasta, Oswaldo Cruz Franco.

Incidência
A fonoaudióloga Eliana Menezes, que atende em clínica particular e estuda o assunto, afirmou que estudos apontam que a gagueira atinge aproximadamente 1% da população adulta e até 4% das crianças. "A primeira consulta é até rápida. O tratamento demora um pouco mais", afirmou o otorrinolaringologista Tacito Sgorlon, que faz o primeiro atendimento a pessoas com gagueira.
De acordo com ele, são poucos os casos registrados. "Acho que não passa de um por mês", afirmou.
Na clínica da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto), que atende gratuitamente, passam aproximadamente cem crianças gagas por ano pelos estudantes, de acordo com a professora de fonoaudiologia Beatriz Ferrioli.
A Unaerp também não tinha, na semana passada, o número de pessoas inscritas na fila de espera.
Apesar de o número ser considerado pouco expressivo, existe fila porque o tratamento não tem prazo definido, dizem especialistas -pode levar de seis meses até anos.
Sempre manifestada na infância, por volta dos dois anos, a gagueira é uma predisposição do indivíduo, mas o ambiente pode agravar a situação, de acordo com a fonoaudióloga Cássia Borghino Sestari, da UBDS Sumarezinho. "Principalmente quando a família não dá muita atenção", afirmou a fonoaudióloga à Folha.


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