Ribeirão Preto, Domingo, 28 de Fevereiro de 2010

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Filhos de decasséguis "patinam" na escola

Por causa da crise econômica, adolescentes que estudaram em escolas japonesas voltam ao Brasil sem falar português

Em São Paulo, instituto cria programa para atender quem tem defasagem de aprendizado ou problema de readaptação social

Silva Junior/Folha Imagem
Suemy Iamada e os filhos Ricardo, Livia Maria e Maria Clara, em Franca; família voltou do Japão em 2009, onde morou 4 anos

VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

Tadashi (nome fictício) tem 17 anos e, apesar de ser brasileiro, foi incapaz de falar com a Folha em português pelo telefone. De volta a Mogi das Cruzes no ano passado, o adolescente não conseguiu readaptar-se à escola ou entrar para o mercado de trabalho brasileiro por não saber o idioma.
Segundo levantamento feito pelo projeto Kaeru, havia até o final do ano passado 593 alunos filhos de decasséguis nas escolas da rede estadual paulista. O projeto foi lançado na capital em 2008 para atender crianças e adolescentes que voltam ao Brasil com defasagem de aprendizado ou problemas de readaptação social.
"A crise trouxe à tona um problema que existia há muito tempo, o da educação de filhos de decasséguis no Japão. As consequências começaram a estourar aqui agora", afirmou a psicóloga Kyoko Nakagawa, 53, uma das fundadoras do projeto, criado pelo Isec (Instituto de Solidariedade Educacional e Cultural), com o apoio da Fundação Mitsui Brasileira, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação.
Por enquanto, os atendimentos do Kaeru são feitos apenas na capital, para alunos da rede estadual. Mas na região, até o final de 2009, existiam 26 filhos de decasséguis matriculados em escolas estaduais ligadas às delegacias regionais de ensino de Ribeirão Preto, Franca, São Carlos, Araraquara e Barretos.
De acordo com Reimei Yoshioka, 73, presidente do Isec, o critério utilizado pelo governo japonês para a matrícula das crianças em escolas públicas é a idade e não o nível de aprendizado. Por isso, muitas vezes os imigrantes não conseguem acompanhar as aulas. Outra agravante é que, no Japão, a promoção dos estudantes é automática, o que faz com que as dificuldades dos alunos nunca "apareçam".
"Muitos pais vão para lá ao sabor da onda. Quando a situação fica ruim [como ocorreu no ano passado], voltam para o Brasil, depois voltam ao Japão. A criança não consegue se fixar em uma escola. Por outro lado, as escolas brasileiras não são reconhecidas pelo governo, então não recebem incentivos, pagam caro pelo aluguel e cobram caro pela mensalidade, [cerca de US$ 500 por criança]", afirma Yoshioka.
No Japão, segundo Nakagawa, os imigrantes brasileiros não são obrigados a matricular seus filhos nas escolas. Por causa disso, é alto o índice de crianças e jovens que nunca estudaram no exterior, cerca de 22%.


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