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Filhos de decasséguis "patinam" na escola
Por causa da crise econômica, adolescentes que estudaram em escolas japonesas voltam ao Brasil sem falar português
Em São Paulo, instituto cria programa para atender
quem tem defasagem de aprendizado ou problema de readaptação social
Silva Junior/Folha Imagem
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Suemy Iamada e os filhos Ricardo, Livia Maria e Maria Clara, em Franca; família voltou do Japão em 2009, onde morou 4 anos
VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
Tadashi (nome fictício) tem
17 anos e, apesar de ser brasileiro, foi incapaz de falar com a
Folha em português pelo telefone. De volta a Mogi das Cruzes no ano passado, o adolescente não conseguiu readaptar-se à escola ou entrar para o
mercado de trabalho brasileiro
por não saber o idioma.
Segundo levantamento feito
pelo projeto Kaeru, havia até o
final do ano passado 593 alunos
filhos de decasséguis nas escolas da rede estadual paulista. O
projeto foi lançado na capital
em 2008 para atender crianças
e adolescentes que voltam ao
Brasil com defasagem de
aprendizado ou problemas de
readaptação social.
"A crise trouxe à tona um
problema que existia há muito
tempo, o da educação de filhos
de decasséguis no Japão. As
consequências começaram a
estourar aqui agora", afirmou a
psicóloga Kyoko Nakagawa, 53,
uma das fundadoras do projeto,
criado pelo Isec (Instituto de
Solidariedade Educacional e
Cultural), com o apoio da Fundação Mitsui Brasileira, em
parceria com a Secretaria de
Estado da Educação.
Por enquanto, os atendimentos do Kaeru são feitos apenas
na capital, para alunos da rede
estadual. Mas na região, até o final de 2009, existiam 26 filhos
de decasséguis matriculados
em escolas estaduais ligadas às
delegacias regionais de ensino
de Ribeirão Preto, Franca, São
Carlos, Araraquara e Barretos.
De acordo com Reimei Yoshioka, 73, presidente do Isec, o
critério utilizado pelo governo
japonês para a matrícula das
crianças em escolas públicas é a
idade e não o nível de aprendizado. Por isso, muitas vezes os
imigrantes não conseguem
acompanhar as aulas. Outra
agravante é que, no Japão, a
promoção dos estudantes é automática, o que faz com que as
dificuldades dos alunos nunca
"apareçam".
"Muitos pais vão para lá ao
sabor da onda. Quando a situação fica ruim [como ocorreu no
ano passado], voltam para o
Brasil, depois voltam ao Japão.
A criança não consegue se fixar
em uma escola. Por outro lado,
as escolas brasileiras não são
reconhecidas pelo governo, então não recebem incentivos,
pagam caro pelo aluguel e cobram caro pela mensalidade,
[cerca de US$ 500 por criança]", afirma Yoshioka.
No Japão, segundo Nakagawa, os imigrantes brasileiros
não são obrigados a matricular
seus filhos nas escolas. Por causa disso, é alto o índice de crianças e jovens que nunca estudaram no exterior, cerca de 22%.
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