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Saúde pública de Ribeirão caminha na contramão
Ao contrário do que recomenda ministério, atendimentos básicos caem e aumentam especialidades e urgências
Para Nélio Rezende, chefe da Divisão Médica, a culpa é da população, que não tem paciência de agendar consultas nos postos
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO
A saúde de Ribeirão Preto caminha na contramão do que recomenda o Ministério da Saúde
e reduz, a cada ano, o número
de atendimentos básicos feitos
em sua rede pública.
Em proporção semelhante,
crescem na cidade os atendimentos de medicina especializada e de urgência, mais caros e
já em estado de saturação.
Segundo cálculo feito pelo
ministério, que consta na portaria 1.101, de 2002, uma cidade
do porte de Ribeirão Preto,
com mais de 500 mil habitantes, deveria ter 63% de seus
atendimentos na saúde básica.
Porém, em 2008, a cidade fechou o ano com apenas 27%.
Hospital das Clínicas e a rede
municipal realizaram, no total,
1,9 milhão de atendimentos,
sendo 512 mil na saúde básica
-que engloba ginecologia, pediatria e clínica médica.
Pior que isso, o atendimento
básico vem em ritmo decrescente, já que em 2005 representava 30% do total.
"Isso mostra o problema de
gestão que temos na saúde. É
preciso investimento maciço e
reorganização do atendimento
básico", afirmou o ex-secretário, José Sebastião dos Santos,
que é contra uma nova unidade
hospitalar para solucionar a
falta de leitos na cidade.
"Se melhorarmos o atendimento básico, essa falta acaba
naturalmente, pois cada vez
menos pessoas vão precisar de
internação", disse.
Nos cinco primeiros meses
de 2009, a média subiu um
pouco e chegou a 33%. Segundo
especialistas, no entanto, o índice deve cair até o fim do ano.
Se o atendimento básico está
em queda, os atendimentos de
urgência e especializados estão
em alta. O ministério diz que
Ribeirão teria de ter 22% de
seus atendimentos na saúde especializada e 15% na urgência,
mas, em 2008, foram 43% e
30%, respectivamente.
Para o chefe da Divisão Médica da Secretaria da Saúde,
Nélio Rezende, o grande desafio da administração pública
são os próprios pacientes.
"O povo não tem paciência de
agendar consulta. Uma pessoa
com pressão alta não tem costume de ir periodicamente ao
posto de saúde. Quando entra
na rede pública, já é direto para
uma internação. Um caso como
esse já são três atendimentos
básicos a menos e um de urgência a mais", afirmou.
Para a atual gestão, assim como para as duas últimas, Ribeirão só alcança o índice preconizado pelo Ministério da Saúde
em, no mínimo, dez anos. "Isso,
à base de muita política pública", afirmou o ex-secretário Oswaldo Cruz Franco.
A atual secretária, Carla Palhares, diz que vai investir muito na atenção básica, com novas
equipes de saúde da família e
reformas nas UBSs (Unidade
Básica de Saúde). "A falta de leitos é um problema de agora,
que precisamos resolver, mas
todas as atenções, de fato, estão
voltadas para a saúde preventiva e de orientação", afirmou.
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