Ribeirão Preto, Segunda-feira, 29 de Junho de 2009

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Saúde pública de Ribeirão caminha na contramão

Ao contrário do que recomenda ministério, atendimentos básicos caem e aumentam especialidades e urgências

Para Nélio Rezende, chefe da Divisão Médica, a culpa é da população, que não tem paciência de agendar consultas nos postos

ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO

A saúde de Ribeirão Preto caminha na contramão do que recomenda o Ministério da Saúde e reduz, a cada ano, o número de atendimentos básicos feitos em sua rede pública.
Em proporção semelhante, crescem na cidade os atendimentos de medicina especializada e de urgência, mais caros e já em estado de saturação.
Segundo cálculo feito pelo ministério, que consta na portaria 1.101, de 2002, uma cidade do porte de Ribeirão Preto, com mais de 500 mil habitantes, deveria ter 63% de seus atendimentos na saúde básica. Porém, em 2008, a cidade fechou o ano com apenas 27%.
Hospital das Clínicas e a rede municipal realizaram, no total, 1,9 milhão de atendimentos, sendo 512 mil na saúde básica -que engloba ginecologia, pediatria e clínica médica.
Pior que isso, o atendimento básico vem em ritmo decrescente, já que em 2005 representava 30% do total.
"Isso mostra o problema de gestão que temos na saúde. É preciso investimento maciço e reorganização do atendimento básico", afirmou o ex-secretário, José Sebastião dos Santos, que é contra uma nova unidade hospitalar para solucionar a falta de leitos na cidade.
"Se melhorarmos o atendimento básico, essa falta acaba naturalmente, pois cada vez menos pessoas vão precisar de internação", disse.
Nos cinco primeiros meses de 2009, a média subiu um pouco e chegou a 33%. Segundo especialistas, no entanto, o índice deve cair até o fim do ano.
Se o atendimento básico está em queda, os atendimentos de urgência e especializados estão em alta. O ministério diz que Ribeirão teria de ter 22% de seus atendimentos na saúde especializada e 15% na urgência, mas, em 2008, foram 43% e 30%, respectivamente.
Para o chefe da Divisão Médica da Secretaria da Saúde, Nélio Rezende, o grande desafio da administração pública são os próprios pacientes.
"O povo não tem paciência de agendar consulta. Uma pessoa com pressão alta não tem costume de ir periodicamente ao posto de saúde. Quando entra na rede pública, já é direto para uma internação. Um caso como esse já são três atendimentos básicos a menos e um de urgência a mais", afirmou.
Para a atual gestão, assim como para as duas últimas, Ribeirão só alcança o índice preconizado pelo Ministério da Saúde em, no mínimo, dez anos. "Isso, à base de muita política pública", afirmou o ex-secretário Oswaldo Cruz Franco.
A atual secretária, Carla Palhares, diz que vai investir muito na atenção básica, com novas equipes de saúde da família e reformas nas UBSs (Unidade Básica de Saúde). "A falta de leitos é um problema de agora, que precisamos resolver, mas todas as atenções, de fato, estão voltadas para a saúde preventiva e de orientação", afirmou.


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