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Compra de remédios por ordem judicial dobra em Ribeirão
Prefeitura gastou R$ 837 mil com esses medicamentos em 2006; no ano passado, a conta subiu para R$ 1,71 milhão
Valor representa 22% do total gasto com a compra de medicamentos para a rede; juiz diz que sistema usado na cidade é exemplo
LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
A compra de remédios mediante decisão judicial para tratamento de diabetes, câncer,
hipertensão, doenças psicológicas e outras custou R$ 1,71
milhão aos cofres da Prefeitura
de Ribeirão Preto no ano passado. Em dois anos, esse tipo de
gasto dobrou.
Em 2006, a prefeitura desembolsou R$ 837,1 mil com
"medicamentos judiciais", o
equivalente a 20% do total de
remédios adquiridos para a rede. No ano passado, de acordo
com a prestação anual de contas da Secretaria da Saúde, o
gasto de R$ 1,71 milhão representou 22% do total de medicamentos comprados. Em um dos
casos, um doente de câncer ganhou direito a um lote de remédios importado de R$ 30 mil
para tratamento de seis meses.
Os gastos "forçados" da pasta
não se limitam apenas a medicamentos. Ainda segundo a
prestação de contas da secretaria, a compra de materiais como próteses, fraldas, equipamentos e dietas especiais, tudo
por ordem da Justiça, subiu
33,3% de 2007 a 2008 (veja
quadro nesta página).
Há dois anos, a prefeitura
formou uma comissão com a
Justiça e o Hospital das Clínicas para "filtrar" a chegada de
novos pedidos de medicamentos. No entanto, isso não impediu o crescimento do gasto.
"Se essas ações judiciais onerassem menos o município, teríamos mais verba para ampliar
o catálogo de medicamentos",
disse a secretária da Saúde,
Carla Palhares. Ela admite, porém, que a situação já foi pior.
"Antigamente, as decisões
eram feitas à revelia. Caía na
mesa do juiz e ele autorizava a
compra do medicamento. Hoje,
o sistema melhorou", disse.
Segundo Darlene Mestriner,
assistente da secretaria da Saúde que, por 20 anos, foi responsável pela farmácia do município, o trabalho da comissão ajuda, mas ainda há muitos casos
em que o doente recorre à Justiça sem necessidade.
"É comum ter ações de remédios que estão disponíveis na
rede, por isso a comissão orienta o Judiciário caso a caso. E,
aos poucos, nós buscamos oferecer os mais variados tipos de
medicamentos", disse.
De acordo com João Agnaldo
Donizete Gandini, juiz da 2ª
Vara da Fazenda Pública e responsável por julgar a maioria
dos casos, a situação seria bem
pior se essa comissão não agisse. "A tendência é que [o número de processos] aumente mais,
já que o poder público em geral
presta um serviço ruim na saúde. Com a comissão, analisamos caso a caso. Pode-se dizer
que Ribeirão hoje é um exemplo neste sistema", disse.
"A ideia é onerar menos o
município. Se o paciente puder
esperar alguns dias pelo medicamento, damos prazo para a
prefeitura abrir licitação. Se for
urgente, exigimos a compra
imediata, o que acaba sendo
mais caro. Em outros municípios esses custos aumentaram
muito mais", afirmou Gandini.
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