São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2011

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Artes Liberais

Vindo dos EUA, modelo de bacharelado flexível em humanidades se expande por universidades na Europa

Divulgação
Alunos e professores do European College of Liberal Arts (Ecla), em Berlim

CAROLINA VILA-NOVA
EM BERLIM

As universidades americanas não estão exportando apenas suas instituições de ensino superior, com instalações de campi avançados em Cingapura (Yale) ou em Abu Dabi (New York University), nos Emirados Árabes, para citar exemplos asiáticos.
Na Europa, o bacharelado de "liberal arts" (em tradução livre, artes liberais) -um currículo de graduação que pode ser composto pelo mais amplo leque de estudos em humanidades e ciências- está fazendo adeptos em universidades tradicionais e impulsionando o nascimento de novas escolas.
Recentemente, duas iniciativas nasceram na Inglaterra: a Winchester University iniciou um programa no ano passado e, em setembro, o University College London começa sua primeira turma em "liberal arts".
Mas a novidade vem mesmo de Berlim, com a criação do European College of Liberal Arts (Ecla).
Tudo começou com um curso de verão em 2000. Em fevereiro, o Ecla obteve reconhecimento do governo de Berlim como universidade de "liberal arts", a primeira a funcionar na Alemanha.
A instituição é financiada pela Endeavour, fundação americana que está por trás de boa parte das iniciativas recentes dos "Liberal Arts Colleges" na Europa.
O Ecla foi estabelecido em oito antigas embaixadas localizadas na Alemanha Oriental, hoje convertidas em salas de aula, alojamentos, refeitório e escritórios no bairro de Niederschönhausen (norte da cidade).
Afastado do centro de Berlim, toma a forma de uma pequena comunidade acadêmica em que o contato entre professores e alunos é bastante intenso.
A proporção entre professor/estudante é 1 para 7. Vindos de 30 países, os cerca de 60 alunos estudam, comem, dormem no campus.
"Se quer oferecer uma boa educação, tem de pensar no que acontece fora da sala de aula. E quando você cria uma universidade residencial, cria um espaço para diálogo contínuo", explica o dinamarquês Thomas Norgaard, director-executivo do Ecla.
O bacharelado é em "estudos dos valores" ("value studies"), com duração de quatro anos, sendo um deles em estágio fora do país. As disciplinas se distribuem em três áreas de concentração: arte e estética, ética e teoria política, e literatura e retórica.
"Vejo nos estudantes a falta de satisfação com universidades tradicionais. Muitos vêm aqui para descobrir quais são seus reais interesses e o que querem fazer daí em diante", diz a aluna paquistanesa Maria Khan, 24.
"Há um crescente interesse por uma educação de "liberal arts". O quanto isso é uma reação à compartimentalização das universidades é difícil dizer", diz Norgaard.

PARA POUCOS
"Todos concordam que é excelente que jovens de 18 anos não mergulhem imediatamente em um só assunto, mas entendam a relação entre diferentes disciplinas e tenham conhecimento mais abrangente antes de se especializar profissionalmente", afirma Paul Temple, do Instituto de Educação da Universidade de Londres.
"O sucesso depende muito do que o estudante quer e, principalmente, se ele consegue pagar por isso", ironiza.
Como outras iniciativas do gênero -e essa é a principal crítica à implantação do modelo na Europa-, o Ecla é questionado sobre seu custo.
Na Alemanha, as taxas pagas pelos alunos das universidades ficam em torno de 500 euros anuais. No Ecla, paga-se 15 mil euros por ano, o que inclui acomodação, alimentação, transporte, seguro saúde e viagens e materiais de estudo.
"Não queremos criar uma oportunidade de educação só para os muito ricos", afirma Norgaard. Segundo o diretor, muitos alunos estão estudando ali com bolsa.


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