São Paulo, segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

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Dinheiro privado passa longe das brasileiras

Harvard recebeu R$ 526 milhões em doações, além de fazer parcerias com empresas

DE SÃO PAULO

Tão comum nas grandes universidades americanas, o repasse de dinheiro de pessoas e empresas quase não acontece por aqui.
A primeira colocada no ranking, Harvard, recebe quase o dobro de recursos de empresas privadas que a Unicamp e ainda teve um fermento adicional em 2009 de R$ 526 milhões em doações -boa parte para pesquisa.
"Temos vontade de doar, mas é tudo muito difícil", diz José Carlos Junqueira Meirelles, sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados.
Neste ano, a empresa doou R$ 600 mil para uma sala de aula da Faculdade de Direito da USP -onde boa parte dos sócios estudou.
Mas o barulho diante do dinheiro recebido foi grande, e houve quem questionasse as intenções do Pinheiro Neto no repasse à USP.
"Resta saber se a universidade não recebe doações por causa da dificuldade ou se a dificuldade existe porque não é comum que existam doações", diz Meirelles.
Dar dinheiro para a universidade em que se estudou é algo tão disseminado nos EUA que acontece até com quem não é norte-americano, como o empresário Antônio Ermírio de Moraes.
Sua família fez doações à Escola de Minas do Colorado, onde ele e alguns de seus filhos estudaram. "Temos uma relação com a universidade", diz Regina de Moraes Waib, filha de Antônio.
Mas, se as doações ainda passam reto pelas universidades brasileiras, a boa notícia é que as parcerias entre elas e as empresas privadas têm crescido.
"As empresas estão fazendo parcerias porque agora estão fazendo pesquisa, o que antes quase não acontecia", diz o engenheiro Sérgio Robles de Queiroz, especialista da Unicamp em política científica e tecnológica.
Na própria Unicamp, o dinheiro privado aumentou de R$ 6,8 milhões para R$ 23,8 milhões em dez anos.
Já a USP não sabe se o montante cresceu: a universidade informou não ter dados sobre a quantidade de dinheiro privado que recebe.

LUCRO
Na análise de Rogério Meneghini, especialista da USP em indicadores científicos, ainda existe uma cultura no país de que a ciência não pode dar lucro.
Mas essas vozes estão ficando isoladas. "Há um movimento dos empresários para fazer ciência e inovação", disse o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia).
Sem recursos privados, e com orçamento do governo que só dá para o básico (85% do que a USP e a Unicamp recebem é para pagar salários e aposentadorias), a dependência das universidades das agências públicas de fomento à pesquisa (como Capes e Fapesp) permanece. (SABINE RIGHETTI)


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