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"Estou preparado tanto para um milagre como para a morte"

DE SÃO PAULO

Das mãos pálidas e magras saem acordes que ecoam no 12º andar do Hospital do Servidor Estadual. Música clássica, sertaneja, samba, baião. Para o eletricista industrial José do Carmo Alves, 67, pouco importa o gênero. "Música é música. Com ela, só tenho pensamentos bons."

Há quase um mês o músico autodidata e seu violão ocupam o quarto 1.204 da enfermaria de cuidados paliativos do hospital. Alves luta desde 2009 contra um câncer nas vias biliares. Já perdeu quase 20 kg desde então.

No ano passado, a doença se espalhou para outros órgãos e o tratamento oncológico foi suspenso.

Hoje, ele recebe apenas morfina para o controle da dor e oxigênio nos momentos em que o ar lhe falta. Às vezes, passa por procedimento para drenar o líquido que se acumula no abdome.

Ele conhece a gravidade da doença e diz estar preparado tanto para o milagre da cura quanto para a morte.

"Não sou só eu o doente. Quantas pessoas neste mundo não estão vivendo exatamente a mesma situação que eu? Então não posso me revoltar. A doença veio para mim e eu tenho que enfrentá-la. Não posso reclamar."

Medo da morte? "Não. Deus sabe o que faz. Se ele decidir que eu devo ficar mais um pouco, vou achar muito bom. Se ele achar que chegou minha hora, vou aceitar."

Sonhos que não realizou? "Queria ter estudado engenharia, mas nunca consegui porque trabalhava 18, 19 horas por dia para sustentar a família." Arrepende-se por ter trabalhado tanto? "Nunca. Queria ter trabalhado até mais." (CC)

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