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Cirurgia pela axila corrige defeitos no coração de modo menos invasivo

Procedimento está sendo realizado na Beneficência Portuguesa (SP) e em outros hospitais

Técnica é indicada para remediar problemas cardíacos congênitos em bebês e crianças, por exemplo

Marisa Cauduro/Folhapress
Sofhia Silva da Rocha, 11 meses, em sua casa em Cotia, com a mãe, Ildine; ela fez a cirurgia com incisão embaixo da axila no dia 28 de fevereiro
Sofhia Silva da Rocha, 11 meses, em sua casa em Cotia, com a mãe, Ildine; ela fez a cirurgia com incisão embaixo da axila no dia 28 de fevereiro

MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

Uma nova variação de cirurgia pouco invasiva começou a ser feita na semana passada na Beneficência Portuguesa de São Paulo.

A diferença está na incisão feita para corrigir doenças cardíacas congênitas. Em vez de um grande corte no peito, o paciente fica com uma cicatriz em um local mais discreto, abaixo da axila.

O hospital adotou a incisão subaxilar para cirurgias de comunicação interatrial e interventricular -orifícios anormais entre os átrios e os ventrículos do coração.

Pela nova via de acesso, a cirurgia tem benefícios como a redução do sangramento e dos índices de infecções e recuperação mais tranquila, além da questão estética, segundo Luciana da Fonseca da Silva, cirurgiã cardíaca da Beneficência Portuguesa que participou de seis cirurgias com essa incisão no Brasil.

Ela diz que as cirurgias foram feitas em pacientes de oito meses a quatro anos. Três foram realizadas na Beneficência, mas os hospitais Albert Einstein e Santa Catarina também usam a técnica.

A primeira foi feita no ano passado no InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP), para comunicação interatrial, quando o cirurgião cardíaco Christian Schreiber demonstrou a técnica, já usada na Alemanha.

Fonseca afirma, porém, que apenas a Beneficência está usando a técnica de maneira rotineira para tratar os dois tipos de comunicação e em crianças com menos de 12 kg.

Segundo Marcelo Jatene, cirurgião cardíaco do InCor, a cirurgia por incisão subaxilar é uma variação dos procedimentos feitos há décadas.

"É mais uma alternativa para se juntar ao arsenal que temos para os procedimentos minimamente invasivos."

Jatene afirma que dois casos de cirurgia subaxilar foram feitos no InCor. "Não reproduzimos ainda porque temos outras alternativas e não sentimos a necessidade de aplicar a técnica rotineiramente", afirma.

Ele diz que o hospital tem corrigido esses tipos de cardiopatia por videolaparoscopia -pequenos furos são feitos no tórax, por onde entram os instrumentos. A cirurgia é monitorada por vídeo.

Há ainda cortes feitos abaixo da mama em mulheres, mas a pouca idade é uma limitação para elas serem submetidas a essa incisão.

Outra opção é via cateter, com o fechamento das comunicações anormais com um tipo de plugue. Mas o procedimento não pode ser feito em todos os casos, e seu preço o torna pouco acessível.

Segundo Silva, só a prótese é mais cara que toda a cirurgia por corte subaxilar.

ESCOLHA

Jatene afirma que a decisão sobre o melhor procedimento depende de vários fatores, como idade e peso do paciente, tipo e complexidade da cardiopatia e localização do problema, por causa das vias de acesso.

"Se a adolescente já tem a mama desenvolvida, oferecemos as duas opções: subaxilar ou embaixo da mama. Cada caso deve ser avaliado."

Para Ildine Sousa da Silva, 36, mãe de Sofhia, de 11 meses, a escolha da incisão subaxilar foi "excelente".

"A recuperação foi muito rápida. Fiquei muito feliz por ter sido assim, porque a cicatriz vai ficar escondida."

Sofhia tinha comunicação interatrial -ela tem síndrome de Down, e a prevalência de cardiopatias congênitas, nesse caso, é de 50%.

Ela fez a cirurgia no dia 28 de fevereiro na Beneficência, pelo SUS, e deixou de ter problemas para respirar. "Antes ela ficava roxinha e cansada. Agora dorme melhor, mama melhor. É como se não tivesse feito a cirurgia."

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