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Cafezinho após o almoço diminui risco de diabetes
Estudo inédito relaciona o horário de ingestão da bebida ao seu efeito protetor
Pesquisa de nutricionista da USP usou resultados de um acompanhamento feito na França com cerca de 70 mil mulheres durante 14 anos
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Consumir ao menos uma xícara (125 ml) de café depois do
almoço reduz os riscos de desenvolver diabetes tipo 2,
aponta pesquisa desenvolvida
por uma nutricionista da USP
(Universidade de São Paulo). O
trabalho foi publicado na revista "American Journal of Clinical Nutrition".
A pesquisadora usou dados
de um estudo francês que
acompanha quase 70 mil mulheres com idades entre 41 e 72
anos desde 1990. Para relacionar o consumo de café das voluntárias e a menor incidência
de diabetes, comparou dados
de 1993 a 2007.
"O consumo de café já foi ligado ao efeito protetor contra o
diabetes tipo 2 em outros trabalhos. A diferença desta pesquisa é que relacionamos os horários da ingestão", explica a
nutricionista Daniela Sartorelli, professora do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, autora do estudo.
As mulheres que consumiram café após o almoço tiveram
risco 34% menor de ter diabetes. A proteção não foi encontrada naquelas que tomaram
café em outro momento.
No período estudado, 1.415
participantes desenvolveram a
doença. Entre as pacientes que
tomaram no mínimo 125 ml de
café na hora do almoço, 374 se
tornaram diabéticas. O restante delas (1.051) não ingeria a bebida nesse horário ou a consumia em quantidades inferiores.
Versões cafeinadas ou não,
com ou sem açúcar apresentaram os mesmos benefícios.
"Mas 60% delas consumiam
sem açúcar e, quando o adicionavam, era em quantidade bem
menor do que aqui no Brasil",
ressalta a nutricionista.
Segundo a pesquisadora,
apesar de o estudo ter sido realizado somente com mulheres,
provavelmente os resultados
podem ser extrapolados para os
homens, já que outros estudos
que relacionaram café e diabetes foram realizadas com ambos os sexos. Ainda não é possível, no entanto, apontar por
quais mecanismos a bebida
protege contra a doença.
Para Sartorelli, uma possível
explicação é a menor absorção
de ferro causada pela ingestão
da bebida. "Indivíduos com estoque de ferro aumentado têm
risco maior de desenvolver diabetes. Esse fator poderia proteger a pessoa, se a maior quantidade de ferro for ingerida no almoço", diz.
Quantidade
Estudos já publicados que relacionaram a menor incidência
de mortalidade por diabetes
entre bebedores de café apontam que as substâncias presentes na bebida melhoram a sensibilidade do organismo à insulina, hormônio responsável por
facilitar a entrada da glicose
nas células do corpo.
Essas substâncias também
evitam a oxidação das células
beta, localizadas no pâncreas,
que são responsáveis por produzir o hormônio.
"Os trabalhos já divulgados
sugerem que o mais importante é a quantidade de café ingerida, e não o horário de consumo", diz o cardiologista Luiz
Antônio Machado César, do InCor (Instituto do Coração), onde pesquisa sobre café e problemas cardiovasculares.
Recomenda-se beber ao menos duas xícaras de 150 ml para
obter benefícios. Mas a indicação da bebida para prevenir o
diabetes ainda não pode ser
usada na prática médica.
"Não creio que o consumo de
café, isoladamente, seja capaz
de promover benefícios clínicos significantes em termos de
impacto populacional", contrapõe Augusto Pimazoni, coordenador do Grupo de Educação e
Controle do Diabetes do Hospital do Rim e Hipertensão da
Unifesp e do Centro de Diabetes do hospital Oswaldo Cruz.
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