São Paulo, segunda-feira, 01 de junho de 2009

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Uso de estatinas previne recorrência de casos de AVC

Medicamento é indicado para redução dos níveis de colesterol ruim no organismo

O estudo foi feito com 794 vítimas de derrame; elas também têm 57% menos riscos de morrer dez anos após o primeiro evento

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Pacientes que tomam estatinas (drogas utilizadas para redução do colesterol ruim) depois de sofrer um AVC (acidente vascular cerebral) têm 35% menos risco de sofrer um outro AVC e 57% menos probabilidade de morrer nos próximos dez anos, aponta pesquisa publicada na edição de maio da revista científica "Neurology".
O estudo, realizado por pesquisadores gregos, envolveu 794 pessoas que sofreram AVC isquêmico (entupimento de um dos vasos cerebrais, bloqueando o fluxo sanguíneo em determinada região do cérebro). Elas foram acompanhadas por dez anos, sem interferência dos pesquisadores. Nesse período, 112 sofreram um segundo AVC e 224 morreram.
De acordo com a pesquisa, 16% dos pacientes que não tomavam estatinas tiveram outro evento cerebral no período, enquanto apenas 7% daqueles que usavam estatinas constantemente. Além disso, o estudo aponta que a extensão e a gravidade do AVC entre aqueles que tomavam estatinas foi menor do que os que não tomavam.
Atualmente, as vítimas de AVC obrigatoriamente precisam tomar medicamentos antiplaquetários e anticoagulantes, para evitar a formação de novas placas sanguíneas que possam obstruir outros vasos cerebrais. As estatinas são prescritas apenas para aqueles pacientes que possuem colesterol elevado.
De acordo com especialistas, as estatinas protegem uma nova ocorrência de derrame porque agem diminuindo a quantidade de LDL no organismo e, assim, evitam que haja depósito de colesterol nas áreas de microvascularização cerebral.
Na opinião da neurologista Julieta Gonçalves Silva, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), os resultados do estudo têm impacto imediato na prática clínica e devem mudar a conduta dos neurologistas na indicação de tratamento dos pacientes que tiveram AVC.
De acordo com ela, a partir de agora, todas as vítimas de derrame deverão receber orientação médica para uso de estatinas, mesmo aquelas que estão com os níveis de colesterol controlados no organismo.
"Não acredito que exista interesse comercial por trás desse estudo, pois as estatinas são medicamentos de uso consagrado, apresentam poucos efeitos colaterais, são distribuídas pelo governo nos postos de saúde. Além disso, basta o paciente tomar um comprimido por noite para estar protegido", afirma a neurologista.
Elza Dias Tosta, presidente da ABN (Academia Brasileira de Neurologia), diz que os neurologistas ainda têm receio de prescrever o uso de estatinas indiscriminadamente, especialmente por causa dos efeitos colaterais -poucos, mas existentes (como dores musculares, por exemplo). Ela diz, entretanto, que esse estudo corrobora resultados de estudos anteriores e poderá ser aplicado na prática clínica.
"Há muito tempo os cardiologistas usam estatinas para prevenir eventos cardiovasculares. Esse estudo mostra que o benefício do uso das estatinas é maior do que os riscos também para prevenir recorrência de evento cerebral", diz Tosta, acrescentando que o colesterol é um risco de AVC completamente evitável -mesmo que seja com medicamentos.
Já o neurologista vascular Alexandre Pieri, do hospital Albert Einstein, vê os resultados da pesquisa com ressalvas. Ele diz que os dados reforçam a ideia de indicar as estatinas como prevenção secundária -mas apenas entre os que possuem colesterol elevado.
Para ele, ainda é prematuro afirmar que as vítimas de derrame sem colesterol alto serão tratadas com estatinas. "Se o paciente não tem outro fator de risco, não é diabético, não é hipertenso e nem obeso, não há porque dar estatina. É um erro medicar todo mundo. Para mim, o estudo traz evidências dos benefícios, mas não muda o que está sendo feito hoje", diz.


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