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Uso de estatinas previne recorrência de casos de AVC
Medicamento é indicado para redução dos níveis de colesterol ruim no organismo
O estudo foi feito com 794 vítimas de derrame; elas também têm 57% menos riscos de morrer dez anos após o primeiro evento
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pacientes que tomam estatinas (drogas utilizadas para redução do colesterol ruim) depois de sofrer um AVC (acidente vascular cerebral) têm 35%
menos risco de sofrer um outro
AVC e 57% menos probabilidade de morrer nos próximos dez
anos, aponta pesquisa publicada na edição de maio da revista
científica "Neurology".
O estudo, realizado por pesquisadores gregos, envolveu
794 pessoas que sofreram AVC
isquêmico (entupimento de
um dos vasos cerebrais, bloqueando o fluxo sanguíneo em
determinada região do cérebro). Elas foram acompanhadas por dez anos, sem interferência dos pesquisadores. Nesse período, 112 sofreram um segundo AVC e 224 morreram.
De acordo com a pesquisa,
16% dos pacientes que não tomavam estatinas tiveram outro
evento cerebral no período, enquanto apenas 7% daqueles
que usavam estatinas constantemente. Além disso, o estudo
aponta que a extensão e a gravidade do AVC entre aqueles que
tomavam estatinas foi menor
do que os que não tomavam.
Atualmente, as vítimas de
AVC obrigatoriamente precisam tomar medicamentos antiplaquetários e anticoagulantes,
para evitar a formação de novas
placas sanguíneas que possam
obstruir outros vasos cerebrais.
As estatinas são prescritas apenas para aqueles pacientes que
possuem colesterol elevado.
De acordo com especialistas,
as estatinas protegem uma nova ocorrência de derrame porque agem diminuindo a quantidade de LDL no organismo e,
assim, evitam que haja depósito de colesterol nas áreas de microvascularização cerebral.
Na opinião da neurologista
Julieta Gonçalves Silva, da Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), os resultados do estudo têm impacto imediato na
prática clínica e devem mudar a
conduta dos neurologistas na
indicação de tratamento dos
pacientes que tiveram AVC.
De acordo com ela, a partir de
agora, todas as vítimas de derrame deverão receber orientação médica para uso de estatinas, mesmo aquelas que estão
com os níveis de colesterol controlados no organismo.
"Não acredito que exista interesse comercial por trás desse estudo, pois as estatinas são
medicamentos de uso consagrado, apresentam poucos efeitos colaterais, são distribuídas
pelo governo nos postos de saúde. Além disso, basta o paciente
tomar um comprimido por noite para estar protegido", afirma
a neurologista.
Elza Dias Tosta, presidente
da ABN (Academia Brasileira
de Neurologia), diz que os neurologistas ainda têm receio de
prescrever o uso de estatinas
indiscriminadamente, especialmente por causa dos efeitos
colaterais -poucos, mas existentes (como dores musculares, por exemplo). Ela diz, entretanto, que esse estudo corrobora resultados de estudos
anteriores e poderá ser aplicado na prática clínica.
"Há muito tempo os cardiologistas usam estatinas para
prevenir eventos cardiovasculares. Esse estudo mostra que o
benefício do uso das estatinas é
maior do que os riscos também
para prevenir recorrência de
evento cerebral", diz Tosta,
acrescentando que o colesterol
é um risco de AVC completamente evitável -mesmo que
seja com medicamentos.
Já o neurologista vascular
Alexandre Pieri, do hospital Albert Einstein, vê os resultados
da pesquisa com ressalvas. Ele
diz que os dados reforçam a
ideia de indicar as estatinas como prevenção secundária
-mas apenas entre os que possuem colesterol elevado.
Para ele, ainda é prematuro
afirmar que as vítimas de derrame sem colesterol alto serão
tratadas com estatinas. "Se o
paciente não tem outro fator de
risco, não é diabético, não é hipertenso e nem obeso, não há
porque dar estatina. É um erro
medicar todo mundo. Para
mim, o estudo traz evidências
dos benefícios, mas não muda o
que está sendo feito hoje", diz.
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