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Gordura abdominal eleva risco de asma
Mesmo dentro do peso normal, mulher com circunferência abdominal maior tem mais chance de desenvolver a doença
Estudo acompanhou 88.304 voluntárias; especialistas sugerem que inflamação produzida pela gordura esteja relacionada à doença
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Mulheres com muita gordura abdominal têm mais risco de
ter asma, mesmo que não estejam acima do peso. É o que
mostra um novo estudo publicado na revista "Thorax". A
pesquisa foi realizada com
88.304 voluntárias nos EUA.
Entre aquelas com IMC (índice de massa corporal) normal
(até 24,9 kg/m2), as que tinham
a medida da cintura maior do
que 88 cm tiveram três vezes
mais chance de ter a doença.
A pesquisa também confirmou que a asma é mais frequente em pessoas com sobrepeso e obesas. Quanto maior o
peso, maior o risco de asma. A
prevalência de asma em mulheres com obesidade leve foi
de 10,9%, nas com obesidade
moderada, de 13,4%, e nas com
obesidade grave, de 18,3%.
"Sabe-se que a obesidade é
um fator de risco para a asma,
mas poucos estudos avaliaram
os efeitos da gordura visceral
sobre o problema", escreveram
os autores do trabalho.
A coordenadora, Julie von
Behren, disse à Folha que a
gordura visceral é metabolicamente diferente de outros tipos de gordura e pode ter efeitos mais profundos sobre a
saúde. "Trata-se de uma gordura metabolicamente mais ativa,
que pode produzir compostos
que causam inflamação. E a inflamação pode estar relacionada à asma", afirma.
O pneumologista Roberto
Stirbulov, presidente eleito da
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, lembra
que a asma é uma doença inflamatória, que pode surgir ou
piorar com as substâncias pró-inflamatórias produzidas pela
gordura abdominal.
A maioria das pesquisas
aponta que a ligação entre obesidade e asma é mais forte entre mulheres. Um estudo feito
com 3.000 adolescentes brasileiros, por exemplo, mostrou
que a doença é uma vez e meia
mais prevalente em meninas
acima do peso do que nas com
peso normal ou desnutridas.
Com os meninos, essa relação
não foi encontrada. O estudo
será publicado no mês que vem
na revista "Journal of Asthma".
A razão para a diferença entre gêneros deve ser hormonal,
mas ainda não está bem estabelecida, segundo o alergista e
imunologista Fábio Kuschnir,
presidente da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia) - regional Rio de
Janeiro, autor do trabalho.
Um fato que reforça a relação
entre asma e sobrepeso é que
pacientes obesos que fazem cirurgia de redução do estômago
acabam também melhorando
da asma. "A redução de peso
pode melhorar a função pulmonar", afirma Kuschnir.
Carcaça de gordura
Outra hipótese é que a obesidade pode levar a uma redução
da função do pulmão pelo fato
de o órgão ficar envolto por
uma carcaça de gordura, o que
faz com que ele não se expanda
completamente. Com isso, a
pessoa passa a ter uma respiração mais rápida e curta, o que
gera mudanças na musculatura
dos brônquios e sobrecarrega o
pulmão, predispondo à asma.
Segundo Kuschnir, o assunto
começou a vir à tona quando se
notou que, à medida que se instalava uma epidemia de obesidade no mundo, os índices de
asma também cresciam. Além
disso, os médicos notavam que
os pacientes com asma muitas
vezes estão acima do peso.
Fátima Emerson, alergista
da Policlínica Geral do Rio de
Janeiro, conta que os especialistas costumavam creditar a
relação ao fato de os obesos se
exercitarem menos -o exercício melhora a função pulmonar. Outra hipótese era a de que
o uso de corticoides levasse ao
ganho de peso. Ela lembra que a
asma é uma doença genética e
que, para manifestá-la, os obesos devem ter predisposição.
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