São Paulo, quinta-feira, 01 de outubro de 2009

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Gordura abdominal eleva risco de asma

Mesmo dentro do peso normal, mulher com circunferência abdominal maior tem mais chance de desenvolver a doença

Estudo acompanhou 88.304 voluntárias; especialistas sugerem que inflamação produzida pela gordura esteja relacionada à doença


FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO

Mulheres com muita gordura abdominal têm mais risco de ter asma, mesmo que não estejam acima do peso. É o que mostra um novo estudo publicado na revista "Thorax". A pesquisa foi realizada com 88.304 voluntárias nos EUA.
Entre aquelas com IMC (índice de massa corporal) normal (até 24,9 kg/m2), as que tinham a medida da cintura maior do que 88 cm tiveram três vezes mais chance de ter a doença.
A pesquisa também confirmou que a asma é mais frequente em pessoas com sobrepeso e obesas. Quanto maior o peso, maior o risco de asma. A prevalência de asma em mulheres com obesidade leve foi de 10,9%, nas com obesidade moderada, de 13,4%, e nas com obesidade grave, de 18,3%.
"Sabe-se que a obesidade é um fator de risco para a asma, mas poucos estudos avaliaram os efeitos da gordura visceral sobre o problema", escreveram os autores do trabalho.
A coordenadora, Julie von Behren, disse à Folha que a gordura visceral é metabolicamente diferente de outros tipos de gordura e pode ter efeitos mais profundos sobre a saúde. "Trata-se de uma gordura metabolicamente mais ativa, que pode produzir compostos que causam inflamação. E a inflamação pode estar relacionada à asma", afirma.
O pneumologista Roberto Stirbulov, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, lembra que a asma é uma doença inflamatória, que pode surgir ou piorar com as substâncias pró-inflamatórias produzidas pela gordura abdominal.
A maioria das pesquisas aponta que a ligação entre obesidade e asma é mais forte entre mulheres. Um estudo feito com 3.000 adolescentes brasileiros, por exemplo, mostrou que a doença é uma vez e meia mais prevalente em meninas acima do peso do que nas com peso normal ou desnutridas. Com os meninos, essa relação não foi encontrada. O estudo será publicado no mês que vem na revista "Journal of Asthma".
A razão para a diferença entre gêneros deve ser hormonal, mas ainda não está bem estabelecida, segundo o alergista e imunologista Fábio Kuschnir, presidente da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia) - regional Rio de Janeiro, autor do trabalho.
Um fato que reforça a relação entre asma e sobrepeso é que pacientes obesos que fazem cirurgia de redução do estômago acabam também melhorando da asma. "A redução de peso pode melhorar a função pulmonar", afirma Kuschnir.

Carcaça de gordura
Outra hipótese é que a obesidade pode levar a uma redução da função do pulmão pelo fato de o órgão ficar envolto por uma carcaça de gordura, o que faz com que ele não se expanda completamente. Com isso, a pessoa passa a ter uma respiração mais rápida e curta, o que gera mudanças na musculatura dos brônquios e sobrecarrega o pulmão, predispondo à asma.
Segundo Kuschnir, o assunto começou a vir à tona quando se notou que, à medida que se instalava uma epidemia de obesidade no mundo, os índices de asma também cresciam. Além disso, os médicos notavam que os pacientes com asma muitas vezes estão acima do peso.
Fátima Emerson, alergista da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, conta que os especialistas costumavam creditar a relação ao fato de os obesos se exercitarem menos -o exercício melhora a função pulmonar. Outra hipótese era a de que o uso de corticoides levasse ao ganho de peso. Ela lembra que a asma é uma doença genética e que, para manifestá-la, os obesos devem ter predisposição.


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