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Professor é educado para identificar esquizofrenia
Unifesp treina profissionais para reconhecer alunos com sinais de doenças psiquiátricas
Programa foi inspirado em outras iniciativas de sucesso no exterior; 300 estudantes da zona sul de SP passam por avaliações médicas
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) criou um
programa em que médicos e
outros profissionais da saúde
vão até as escolas ensinar os
professores a identificar alunos
com suspeita de doenças psiquiátricas graves, como a esquizofrenia. O foco são estudantes entre 11 e 18 anos de 40
escolas públicas de São Paulo.
Depois de identificados, os
alunos seguem para o Proesq
(projeto de esquizofrenia da
Unifesp) para confirmar o diagnóstico -que envolve entrevistas com os jovens e seus familiares e exames de neuroimagem. No momento, 300 estudantes da zona sul de São Paulo
passam por avaliações.
O programa foi inspirado em
outras iniciativas de sucesso
em países como EUA, Inglaterra e Alemanha. "A meta é a detecção precoce. Os professores
podem ajudar muito na identificação de sinais sugestivos [da
doença]. Às vezes, os adolescentes passam mais tempo com
eles do que com seus pais", diz o
psiquiatra Rodrigo Bressan,
professor da Unifesp e coordenador do Proesq.
Entre os sinais investigados
nos alunos estão queda no rendimento escolar, relatos de perseguição ou de ouvir vozes,
agressividade e quadros depressivos e de isolamento.
Em geral, a esquizofrenia começa na adolescência ou no início da vida adulta -90% dos casos são diagnosticados entre 15
e 25 anos. Estima-se que 1,8 milhão de brasileiros (1% da população) tenham a doença.
A esquizofrenia preocupa os
médicos por várias razões, entre elas, a dificuldade do diagnóstico precoce, o estigma e a
não adesão à terapia.
Uma recente revisão de estudos feita pelo Instituto de Psiquiatria da USP mostrou que
metade dos portadores de esquizofrenia não adere ao tratamento, o que aumenta em 88%
as chances de recaída (surtos).
"Cada surto significa perda
de neurônios e declínio mais
rápido do paciente. Quanto
mais surtos, maior o comprometimento das funções psíquicas e dos danos cerebrais", diz o
psiquiatra Hélio Elkis, coordenador do projeto de esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria
do Hospital das Clínicas de SP.
Resistência aos remédios
As recaídas também são causadas por refratariedade, quando o doente desenvolve resistência aos antipsicóticos convencionais -drogas que agem
nos receptores neuronais de
duas substâncias produzidas
no cérebro, a dopamina e a serotonina. De 30% a 40% das
pessoas com esquizofrenia podem apresentar o problema.
Nesses casos, é preciso associar à terapia outras drogas antipsicóticas. Mas também há
entraves. Uma pesquisa da
Unifesp mostrou que 80% dos
pacientes refratários às drogas
convencionais, tratados em um
Centro de Atenção Psicossocial
de São Paulo, não eram reconhecidos como tal e muito menos tratados adequadamente.
Segundo Bressan, os médicos
tinham medo em medicá-los
com a clozapina (antipsicótico
usado em casos refratários e
fornecido gratuitamente pelo
governo do Estado). "O remédio tem como efeito colateral a
granulocitose [queda dos glóbulos brancos do sangue]. Mas
o risco é mínimo quando os
doentes são acompanhados de
forma adequada. Também falta
treinamento para os profissionais da saúde."
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