São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2011

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"Se o médico não te escuta, é melhor procurar outro"

Ben Stechschulte/Divulgação
A professora de medicina e escritora Lisa Sanders

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE

Para a médica Lisa Sanders, colaboradora do seriado "House" (Record e Universal Channel) e professora em Yale, as consultas deveriam ser uma cooperação entre especialistas: o médico, que entende de doenças, e o paciente, especialista em si mesmo.
Sanders, que tem uma coluna sobre diagnóstico na "New York Times Magazine" e é autora do livro "Todo Paciente tem uma História para Contar" (Editora Zahar, 328 págs., R$ 38), falou à Folha por telefone.

 


Folha - Por que alguns médicos não escutam os pacientes?
Lisa Sanders
- Os médicos são pressionados a atender os pacientes cada vez mais rápido, e escutar leva tempo -apesar de não levar tanto quanto os médicos temem.
E escutar é difícil para todo mundo, médico ou não. Quando você ouve uma história, sua mente está tentando descobrir o significado dos fatos que você está recebendo. Isso cria suspense. A sensação pode ser prazerosa -por isso lemos histórias de mistério. Mas quando é algo que pode ser importante, não gostamos tanto. O médico tem de aprender a lidar com o desconforto dessa incerteza.

Será que os médicos acham que os pacientes falam demais e acabam contando coisas que não têm nada a ver?
É verdade que os pacientes podem não saber o que é importante entre tudo o que eles dizem para o médico. Os médicos, às vezes, acham que é melhor fazer perguntas diretas para encontrar a informação de que precisam, ainda que isso não seja verdade. Mas quando você faz perguntas, tudo o que você consegue são respostas. E, às vezes, você precisa de mais do que respostas. Suas perguntas podem conduzir a conversa na direção errada e você nunca vai saber.
Os médicos ficam achando que os pacientes vão falar sem parar. Mas eles não fazem isso. Os pacientes respeitam muito o tempo do médico e, quando chegam ao consultório, eles já ensaiaram a queixa. A pessoa já contou o que está sentindo para a mulher, os colegas de trabalho, os filhos... Estudos mostram que tempo médio que um paciente usa para falar é de um um minuto e meio.

Como o paciente deve agir se for interrompido?
É difícil para o paciente dizer: "Posso terminar o que eu estava dizendo?". Mas ele precisa fazer isso. Se o médico não está escutando, procure outro. Os pacientes devem se sentir livres para reclamar. Se reclamar não resolver, é melhor achar outro.

Mas o médico tem um ar de autoridade que intimida, não?
Sim, mas a medicina deveria ser uma colaboração entre dois tipos de especialista. Um é o médico, especialista em doenças, em como o corpo funciona. O outro é o paciente, especialista em seu próprio corpo, em como está se sentindo. Um médico não pode saber como o paciente se sente sem perguntar. Os exames físicos, hoje, também são uma arte em declínio. É preciso estudá-los e valorizá-los mais.


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