São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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"Emagreci 97 kg sem cirurgia"

Antropóloga passa de 166 kg para 69 kg com reeducação alimentar e exercícios físicos

Sergio Ranalli/Folha Imagem
Sílvia Regiani, 32, que caminha diariamente e faz aulas de dança e natação; ao lado, como estava antes da dieta


AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Com 1,81 m e 69 kg, Sílvia Bonini Regiani, 32, tem peso normal. Mas, há cinco anos, era o que os médicos consideram superobesa -pesava 166 kg. Seu IMC (índice de massa corporal) era superior a 50, quando um índice acima de 30 já indica obesidade. Para mudar, Sílvia não contou nem com cirurgia bariátrica nem com remédios. O que a levou a perder quase cem quilos foi a junção da reeducação alimentar com a prática de atividades físicas.
Hoje, ingere 1.600 calorias por dia -até pouco tempo atrás, eram 1.200. Acorda diariamente às 5h30 para caminhar oito quilômetros. Tem aulas de dança e pratica natação.
Uma grande mudança para alguém que, há cinco anos, era sedentária e comia cerca de quatro quilos por dia -começando com coxinha e refrigerante no café da manhã.
A obesidade começou na infância, numa família de origem italiana que tinha uma relação afetiva com a comida. Festas e velórios eram momentos vividos diante de uma mesa farta. O pai e a avó mimavam a caçula da família com doces. Além disso, suspeita-se que Sílvia já tivesse hipotireoidismo desde a infância, mas o problema não havia sido diagnosticado.
A situação piorou quando, aos 23 anos, ela descobriu dois nódulos no seio. Após o tratamento para o câncer, ganhou ainda mais peso. Chegou aos 27 com 166 quilos e uma vida reclusa em Londrina -reagia ao preconceito com agressividade e dedicava-se aos estudos em antropologia e alimentação.

Guinada
O que a levou a querer mudar foi o medo da morte. Em 2002, sua mãe a convenceu a ir a uma nutricionista, e Sílvia descobriu que tinha um quadro avançado de hipotireoidismo. Tentou seguir uma dieta por dois meses, mas a falta de comida a deixava irritada e não teve efeitos na balança. Ao ler uma reportagem sobre a cirurgia bariátrica, viu a solução. Mas ouviu "não" do médico.
Além do hipotireoidismo, Sílvia estava com diabetes e hipertensão. O especialista avaliou que seu quadro não permitia a cirurgia. Era preciso, antes, controlar as doenças.
Após um mês, procurou um médico, que lhe receitou 150 miligramas diárias de remédio para o hipotireoidismo, insulina para o diabetes e medicamento para a pressão arterial. O profissional recomendou um endocrinologista, que era contra anorexígenos e lhe indicou uma dieta de 2.000 calorias -para ela, parecia pouco. "Não saciava o apetite", lembra.
O endocrinologista indicou um psiquiatra, e Sílvia começou a tomar remédios para insônia e ansiedade. À equipe, somava-se um psicanalista, que a atendia havia anos.
A atividade física, nessa época, consistia em uma caminhada de 250 metros -tanto por falta de condicionamento físico como por vergonha de ser vista.
Os novos hábitos lhe fizeram emagrecer cinco quilos, e Sílvia desistiu da cirurgia. Estava disposta a ver até onde conseguiria chegar por conta própria.

Sagrado
A decisão não foi livre de recaídas. Combinou com o médico que, a cada nove meses de emagrecimento, teria quatro de manutenção -da primeira vez, recuperou quatro quilos.
Uma das tentações que lhe esperavam na casa da família era o cappelletti que a mãe preparava, enquanto contava histórias de sua infância. "A comida desperta um sentido emocional. O que eu preferia? Cappelletti ou salada? Eu sentava diante da salada e chorava."
O jeito foi transferir para a alface e o frango grelhado um pouco do simbolismo. O sentido atribuído foi o da sobrevivência. Além disso, permitiu-se concessões, como o chocolate no período pré-menstrual.
Para Sílvia, uma das raízes da atual epidemia de obesidade é a perda do sentido da comida. "Acabou a relação familiar de sentar à mesa para dialogar. A comida é uma relação de diálogo. A mulher se culpa por não estar em casa e qual a forma mais fácil de agradar o filho? Dar comida. Sentimentos foram trocados por produtos."

Imagem corporal
Com a perda gradual de peso, a antropóloga teve tempo para se adaptar à nova imagem. "A cirurgia é um impacto. Eu tive tempo de conhecer o meu processo. Se tivesse feito a cirurgia bariátrica, poderia ter o mesmo peso hoje, mas não sei como estaria psicologicamente", diz.
O aspecto primordial, para ela, não deve ser o estético, e sim a saúde. Esse é um dos motivos pelos quais uma antiga agressividade aflora quando alguém insinua que ela fez cirurgia ou tomou remédios.
"Ninguém pergunta como vai a sua saúde. Eu falava que estava doente e ninguém escutava", diz a antropóloga, que acaba de contar sua história no livro "Mulhersegura.com - 102 Quilos a Menos sem Redutores de Apetite e sem Cirurgias", à venda pelo site www.mulhersegura.com.
Agora, Sílvia tem como meta chegar aos 64 kg, para ter uma "margem de segurança". Os cinco quilos que faltam, porém, são perseguidos no mesmo ritmo. Devagar e sempre.


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