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Maioria das receitas para memória não funciona
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A cada semana surge um estudo que associa algum hábito
ou substância a maior ou menor risco de demência e, mais
especificamente, de doença de
Alzheimer. Porém, poucos trabalhos trazem resultados conclusivos, que justificariam essas indicações como forma de
prevenir esses problemas.
A conclusão é de um grupo de
especialistas que se reuniu na
semana passada nos Estados
Unidos para avaliar a produção
científica realizada sobre o assunto nos últimos 20 anos. O
encontro foi organizado pelo
National Institutes of Health, o
principal órgão americano de
produção e financiamento de
pesquisas médicas.
Para Alzheimer, doença que
responde por boa parte dos casos de demência no mundo, as
notícias são piores: não há nada
que tenha eficácia cientificamente comprovada para prevenção. Isso deve tirar da lista
de compras de alguns esperançosos os suplementos de gingko biloba, as cápsulas de ômega-3 e de vitaminas. Esses produtos também não têm eficácia
comprovada na prevenção de
outros tipos de demência.
"O fato é que se investe muito
dinheiro na pesquisa sobre
doença de Alzheimer desde os
anos 80 e, mesmo assim, até
hoje não temos nada que realmente seja efetivo contra a
doença. Apesar de todos os esforços, nada aconteceu. É um
desastre", lamenta a patologista Lea Grinberg, coordenadora
do Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da USP.
O documento poderá direcionar novas pesquisas na área
e orientar especialistas sobre o
que deve ser indicado ao paciente. "É importante especialmente quando sabemos que alguns profissionais divulgam esses métodos não comprovados:
tem muito médico que prescreve ginkgo biloba aos montes,
como prevenção e para quem já
tem queixas de memória", diz
Paulo Caramelli, neurologista
da Universidade Federal de Minas Gerais.
Programas de computador e
jogos que prometem evitar a
perda de memória também não
apresentaram nenhum efeito
que justifique o investimento.
"O efeito de ler frequentemente e de um programa proposto
para treinar o cérebro é o mesmo", afirma Grinberg.
Problemas vasculares
Somados à doença de Alzheimer, problemas cardiovasculares são causa de 75% das demências no mundo. No Brasil,
estima-se que de 8% a 12% da
população com mais de 65 anos
manifeste algum grau de perda
cognitiva -maior parte dos casos é causada por questões vasculares.
Por isso, algumas intervenções se mostram importantes
nos estudos avaliados para prevenir demência por essa causa.
No levantamento americano, a
dieta balanceada e a prática regular de exercícios físicos apresentaram resultados significativos, provavelmente pelo impacto no sistema cardiovascular.
A hipertensão arterial, por
exemplo, pode causar microinfartos em pequenos vasos no
cérebro (as arteríolas) e prejudicar a oxigenação e a chegada
de nutrientes na região. Com
isso, há degeneração de células
e maior dificuldade de circulação de informações na área do
cérebro atingida. Com o acúmulo dessas lesões, as chances
de demência aumentam.
O que deve ser feito
Além de controlar os fatores
de risco para o coração, manter-se intelectualmente ativo,
sem artificialidades, também
ajuda. "Interaja com pessoas,
não passe o dia inteiro vendo
TV, leia", indica Grinberg.
O diagnóstico precoce da
perda de cognição também pode melhorar a qualidade de vida
do paciente, segundo a patologista. "Deve-se buscar assistência desde o começo, quando os
quadros de esquecimento ainda são leves. Apesar de a doença
não ter cura, alguns remédios
que combatem esses sintomas
ajudam a pessoa a se sentir melhor por mais tempo."
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