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"Remodelar" o coração não ajuda muito, diz estudo
Cirurgia feita há mais de 20 anos é colocada em xeque
DENISE GRADY
DO "NEW YORK TIMES"
Uma operação para tratar a
insuficiência cardíaca, conforme se descobriu agora, parece
não ajudar os pacientes, segundo estudo publicado no "The
New England Journal of Medicine" e divulgado em conferência do "American College of
Cardiology", em Orlando
(EUA), no último domingo.
A cirurgia, conhecida como
reconstrução ventricular, remodela a principal câmara de
bombeamento do coração na
esperança de fazê-lo funcionar
melhor.
Por cerca de 20 anos, cirurgiões têm realizado esse procedimento em alguns pacientes
com insuficiência cardíaca que
já foram submetidos a pontes
de safena para tratar artérias
coronárias bloqueadas.
Cerca de 5 milhões de americanos têm insuficiência cardíaca. Ela contribui para 287 mil
mortes a cada ano. As causas incluem danos causados por ataques cardíacos, artérias coronárias bloqueadas, válvulas
cardíacas prejudicadas, pressão alta e diabetes.
Como resultado, o coração
aumenta de tamanho, tem cicatrizes, fica deformado e fraco
demais para bombear sangue
suficiente. Os pacientes podem
ter falta de ar e enfrentar problemas para andar. Os médicos
esperavam que a reconstrução,
através da restauração do tamanho e da forma natural do
coração, ajudasse as pessoas a
se sentirem melhor e a sobreviverem por mais tempo.
Não foi o que concluiu esse
estudo, no qual mil pessoas foram determinadas aleatoriamente a passar pela reconstrução e pela ponte de safena ou
somente pela ponte de safena.
Os pesquisadores monitoraram os pacientes por uma média de 48 meses para verificar
quantos morriam ou dariam
entrada novamente no hospital. Eles também observaram
sintomas apresentados e a capacidade de se exercitar.
Não houve diferenças entre
os dois grupos. Os índices de
morte e re-hospitalização foram os mesmos, e os sintomas
melhoraram de forma igual em
ambos os grupos. Porém, os pacientes que foram submetidos
à reconstrução passaram mais
tempo na mesa de cirurgia e no
hospital.
Aneurismas
De acordo com médicos brasileiros que participaram do
trabalho, ele não incluiu pacientes com indicações clássicas para a reconstrução ventricular, caso dos aneurismas do
ventrículo, por exemplo. Isso
porque os participantes foram
sorteados aleatoriamente e seria muito arriscado se esses
doentes não passassem pelo
procedimento padrão, explica
Enio Buffolo, professor da Universidade Federal de São Paulo.
Os autores avaliaram áreas
de cicatriz do coração pós-infarto para verificar se a reconstrução cirúrgica ventricular
aliada à ponte de safena poderia reduzir as taxas de morte ou
de internação por complicações cardíacas. "Mas o estudo
não colocou um ponto final
nessa questão", diz Buffolo.
O cardiologista Mário Issa,
cirurgião do Dante Pazzanese,
concorda: "Pacientes com
grandes aneurismas, que, por
uma questão ética, não participaram do estudo, podem continuar se beneficiando da cirurgia. Para os casos menos graves
a gente vai ter que avaliar se a
cirurgia compensa".
"Realizar a cirurgia de forma
rotineira "não se justifica'", escreveu o cardiologista Howard
J. Eisen, em coluna publicada
no periódico "The New England Journal of Medicine". Eisen, que não participou do estudo, é professor da Faculdade
de Medicina da Drexel University, nos EUA.
Colaborou a REPORTAGEM LOCAL
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