São Paulo, domingo, 04 de outubro de 2009

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"Se ficar insuportável, posso pedir ajuda"

DE GENEBRA

Debbie Purdy soa otimista e vivaz. Diz, com uma eloquência incomum, não ter ideia de quando seu desejo virará fato. Em uma cadeira de rodas elétrica e sem movimentos nos membros, ela se sente bem e afirma que, para a própria surpresa, gosta muito da sua vida.
Mas sabe que a situação é irreversível e quer morrer quando seu estado lhe for "inaceitável". Nessa hora, espera ter o marido, o músico Omar, 47, ao seu lado, ajudando-a sem medo de ser punido. Por isso, Purdy solicitou à Procuradoria Britânica que explicasse o que Omar poderia fazer. Leia sua conversa com a Folha. (LC)

 

FOLHA - Como você se sente ao ver as diretrizes?
DEBBIE PURDY -
São ótimas por discernirem entre quem ajuda por compaixão e quem tem uma intenção maliciosa. Porque algumas vezes a medicina pode mantê-lo vivo por mais tempo do que a vida lhe é aceitável... E, agora, podemos parar de pensar nisso e pensar em viver. Ser um casal normal, ver TV, brigar, ouvir música.

FOLHA - E quando for a hora?
PURDY -
Se uma hora ficar insuportável, sei que posso tomar uma decisão fundamentada e pedir ajuda.

FOLHA - Como é a sua vida hoje, com esclerose múltipla?
PURDY -
É diferente para todo mundo, e o que torna muito assustador é a incerteza. Quando recebi o diagnóstico, em 1995, estava viajando pelo mundo, saltando de paraquedas, fazendo de tudo. Hoje uso uma cadeira de rodas elétrica. Usei uma bengala, uma cadeira comum, hoje não me mexo. Mas me casei com um grande músico, divertidíssimo, e ainda aproveitamos nossa vida. Só que ela não inclui mais saltar de aviões. Quando surge um novo sintoma, quero pensar em como lido com ele, e não no que ele me impede de fazer.

FOLHA - Você conhece outras pessoas na sua situação. Como elas veem a escolha?
PURDY -
Muita gente vai à Suíça se matar. Mas, se houvesse regras aqui que determinassem que as pessoas precisam buscar aconselhamento, explorar alternativas, talvez elas adiassem essa decisão. Talvez para sempre. Todos vamos morrer, deveríamos falar disso. Eu, quando tinha 20 anos, achava que uma cadeira de rodas era o fim. E não é. Se pudéssemos fazer as pessoas esperarem, isso lhes colocaria menos pressão. Mas, para tanto, é preciso debater o assunto.

FOLHA - Você trabalha?
PURDY -
Não. Meu marido é músico, eu o ajudo a administrar a carreira. E tem uma senhora adorável, Illiana, que me ajuda a cuidar da casa. E eu posso curtir a vida.

FOLHA - Os médicos deram um prognóstico?
PURDY -
O único que podem: as coisas não vão melhorar.

FOLHA - Como você conheceu Omar?
PURDY -
Em Cingapura. Estava trabalhando como jornalista e tinha que escrever sobre sua banda. Dois meses depois, recebi o diagnóstico.

FOLHA - Como ele se sentiu?
PURDY -
Ele não sabia bem o que esperar, fora que tínhamos acabado de nos conhecer. Não sabíamos o que esperar, estávamos só vivendo.


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