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Normas atacam risco cardíaco da químio
Médicos criam diretrizes para tentar controlar problemas no coração causados pelo tratamento contra o câncer
Oncologistas e Sociedade Brasileira de Cardiologia preparam regras que serão publicadas em 2011
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
Imagine sobreviver a um
câncer mas descobrir logo
depois que a quimioterapia
causou danos ao coração e
que você pode morrer por isso? Em torno de 10% dos pacientes oncológicos correm
esse risco, mas até hoje não
havia regras claras e reunidas em um só documento sobre como tratar os doentes.
O Brasil criou as primeiras
diretrizes mundiais sobre o
atendimento cardíaco a pacientes oncológicos. As normas estão sendo editadas pela SBC (Sociedade Brasileira
de Cardiologia) e por oncologistas e deverão ser publicadas no início de 2011.
Os médicos vivem num impasse. Se, por um lado, alguns desses remédios são altamente eficientes no controle e no tratamento de diversos tipos de câncer, por outro, são tóxicos ao coração.
Um dos efeitos mais graves é a cardiomiopatia, que
causa um enfraquecimento
do músculo do coração e leva
à insuficiência cardíaca e, em
última instância, à morte.
Estudos internacionais
mostram que os pacientes
que passaram por tratamentos de câncer têm até 30%
mais chances de desenvolver
o problema do que a população em geral.
Segundo o cardiologista
Ricardo Kalil Filho, um dos
coordenadores das novas diretrizes, no documento haverá uma lista dos quimioterápicos que podem causar efeitos nocivos ao coração e as
recomendações sobre como
os médicos devem tratar esses pacientes.
Entre os quimioterápicos
cardiotóxicos estão as antraciclinas e o trastuzumab, para tumores de mama.
"Estamos detalhando tudo. Tal droga causa infarto, a
outra, insuficiência cardíaca
e assim por diante", diz Kalil.
Ele explica que o médico
será orientado a solicitar um
ecocardiograma ao paciente
dois meses depois do início
da quimioterapia.
Se o músculo do coração
apresentar deficiência, o cardiologista entra na jogada e,
junto com o oncologista, define a mudança do remédio,
a diminuição da dose ou a indicação de drogas que melhorem o músculo cardíaco.
"Todo dia vejo paciente
oncológico com arritmia, infartando", diz ele, que atua
no InCor (Instituto do Coração) e no Sírio-Libanês.
Para o oncologista Paulo
Hoff, diretor clínico do Icesp
(Instituto do Câncer de São
Paulo), as diretrizes vão facilitar a vida do médico no sentido de orientá-lo a garantir o
controle do câncer com menos chances de complicações cardiovasculares.
"Quando o câncer não tinha nenhuma expectativa de
cura, você aceitava qualquer
efeito colateral para prolongar a vida. Mas agora, com a
possibilidade de cura, a gente tem que pensar em 10, 15,
20 anos para frente e tentar
evitar ao máximo os efeitos
cardiotóxicos", conta Hoff.
O ministro da Saúde, José
Gomes Temporão, diz que o
SUS será um dos grandes
usuários das diretrizes, já
que é responsável pelo atendimento de 80% dos tratamentos de câncer no Brasil.
"Elas serão de muita utilidade na rede de hospitais", afirmou ele, em evento no InCor.
INTERESSE MUNDIAL
O interesse sobre os efeitos
dos quimioterápicos no coração é mundial. Recentemente, a Universidade de Harvard anunciou que abrirá um
novo programa cardio-oncológico para estudar as terapias mais indicadas no tratamento dos danos cardíacos.
Nos EUA, há outras iniciativas isoladas. Há três anos,
um grupo de cardiologistas e
oncologistas da Universidade de Minnesota abriu uma
clínica com esse foco. "Desde
que estamos trabalhando
juntos, nenhum dos nossos
pacientes apresentou sinais
de insuficiência cardíaca",
disse à Folha o cardiologista
Steven Heifetz.
Ele afirma que vem usando medicamentos, como o
Carvediol, para prevenir danos ao músculo cardíaco,
mas reconhece que ainda é
cedo para afirmar o efeito
cardioprotetor a longo prazo.
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