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Diabetes dobra chance de depressão pós-parto
Doença crônica passa a ser considerada fator de risco para o distúrbio psíquico
Fatores neuroquímicos e dificuldade de lidar com diabetes podem explicar relação; pré-natal correto ajuda a prevenir a depressão
FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Gestações de mulheres diabéticas podem ser de alto risco:
quando não controlada, a doença aumenta a probabilidade de
o bebê nascer com excesso de
peso, de complicações no parto
e de prematuridade.
Um novo estudo publicado
no "Jama" (revista da Associação Médica Americana) acaba
de adicionar mais um problema
à lista. Após acompanharem
mais de 11 mil gestantes, pesquisadores da Universidade
Harvard mostraram que o diabetes dobra a chance de a mulher desenvolver depressão na
gravidez e nós pós-parto.
Segundo a autora, Katy Kozhimannil, o estudo revelou um
novo fator de risco potencial
para a depressão pós-parto. "É
uma doença muito séria, tratável, mas subdiagnosticada. É
importante reunir esforços para detectá-la e ajudar mulheres
com alto risco de desenvolvê-la", disse à Folha.
A chance de uma mulher ter
depressão pós-parto varia de
10% a 15% nos países ricos e de
15% a 20% no Brasil. Além do
diabetes, outros fatores de risco para o problema são história
anterior ou familiar de depressão, baixo nível socioeconômico, conflitos conjugais e ocorrência de transtornos de ansiedade e depressão na gestação.
Apesar de a relação entre
diabetes e depressão em geral
já ser conhecida, trata-se da
primeira pesquisa a avaliar a ligação entre a doença e a depressão na gestação e no pós-parto, diz Kozhimannil. Não
foram avaliados os motivos que
levam ao maior índice de depressão em diabéticos, mas a
pesquisadora aponta que fatores biológicos e hormonais podem estar envolvidos, assim
como o estresse de lidar com
uma doença crônica que traz
riscos à mãe e ao bebê.
Segundo o psiquiatra Joel
Rennó Jr., diretor do Programa
de Saúde Mental da Mulher do
Hospital das Clínicas de São
Paulo, uma das hipóteses para
explicar a questão é que o diabetes tem um efeito neuroquímico sobre os sistemas de neurotransmissores semelhante
ao que ocorre na depressão.
A depressão na gravidez piora a aderência ao pré-natal e
aumenta o risco de parto prematuro e de baixo peso da
criança. Após o parto, pode fazer com que a mulher negligencie o cuidado com o bebê. "Ela
não vai ter o prazer de curtir o
momento especial que é o pós-parto", diz Rennó Jr.
Segundo o psiquiatra, a depressão não tratada piora a
evolução do diabetes. "A doença exige uma aderência do paciente ao tratamento. Tem que
fazer um controle glicêmico rigoroso, reeducação alimentar,
atividade física, aplicar insulina. O deprimido não faz isso de
forma adequada."
A recomendação é que diabéticas planejem a gestação. "O
diabetes não compensado no
momento da fecundação aumenta de três a seis vezes o risco de malformações no feto",
diz Airton Golbert, endocrinologista do Departamento de
Diabetes Gestacional da SBD
(Sociedade Brasileira de Diabetes) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
Diabetes gestacional
Não são só as mulheres que
têm diabetes antes de engravidar que devem ficar atentas. Segundo o estudo de Harvard, o
diabetes gestacional -que se
manifesta apenas na gravidez-
também aumenta o risco de depressão. A condição afeta em
torno de 6% a 8% das gestantes.
"Na gravidez, a necessidade
de insulina aumenta de três a
cinco vezes. Na maioria das
mulheres, o pâncreas responde
bem, mas aquelas que têm fatores de risco, como tendência
genética ou obesidade, podem
ter o problema", diz Golbert.
Fazer um pré-natal adequado e evitar ganhar peso em excesso ajudam a prevenir o diabetes gestacional.
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