São Paulo, sexta-feira, 06 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

foco

Menina de 2 anos passa a ver após tratamento com células-tronco na China

Divulgação
A menina britânica Dakota Clarke, 2, que passou por tratamento com células-tronco de cordão umbilical na China

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os pais da britânica Dakota Clarke, 2, afirmam que a menina -cega de nascença- passou a enxergar após ter sido submetida a uma terapia com células-tronco de cordão umbilical. O procedimento foi realizado na China, pela empresa de biotecnologia norte-americana Beike Biotech.
A garota tem displasia septo-óptica, causada por má-formação do nervo óptico e atrofia do septo pelúcido (uma estrutura do sistema nervoso central). Além da cegueira, Dakota Clarke também sofre de deficiências hormonais e convulsões.
O tratamento, que custou 30 mil libras (cerca de R$ 101 mil), consistiu em injetar na corrente sanguínea células-tronco umbilicais, de acordo com informações do jornal britânico "Daily Telegraph".
A família esgotou as possibilidades de tratamento no Reino Unido e fez campanha para levantar fundos e levar Dakota à China -foi criado um blog na internet com o histórico da menina.

Dados inconsistentes
Para o oftalmologista Rubens Belfort, presidente do Instituto da Visão da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), apesar de haver estudos com animais e em laboratório com resultados positivos, as informações sobre terapias com células-tronco para recuperar a visão em humanos são insipientes. "Existe muita esperança, mas talvez a mesma ou menos esperança do que há três anos. Vai demorar muito para que seja possível ver pacientes [curados]."
Como aconteceu em outros casos com células-tronco na China, não há nenhum trabalho científico da Beike Biotech e de seu diretor, Tom Liu, nas principais bases de pesquisa do mundo.
"Qualquer estudante de graduação tem um artigo publicado. Por que essa empresa dos EUA tem consórcio com 24 hospitais na China, justamente o país que permite experimentos eticamente menos rigorosos?", questiona o médico Salmo Raskin, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica.
Pesquisas com células-tronco realizadas na China são vistas com suspeita por especialistas de outras partes do mundo, pois raramente são divulgados metodologia e resultados em periódicos científicos reconhecidos. "Pode ser que a melhoria da visão não tenha absolutamente nada a ver com as células-tronco, porque não há nenhum controle sobre as causas da melhora. É tudo muito prematuro e com indícios de que não foi aprovado por órgãos confiáveis", diz Raskin.


Texto Anterior: Diabetes dobra chance de depressão pós-parto
Próximo Texto: Após transplante raro, homem viverá com dois corações no peito
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.