São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2010

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Prótese francesa de silicone gera "recall"

Anvisa proíbe venda de implante da marca Poly, que apresenta alto risco de vazamento, segundo o governo francês

Quem fez implantes com esse material deve procurar seu médico para avaliação; troca será necessária em caso de rompimento

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Anvisa proibiu a importação, a distribuição e a venda no Brasil de implantes mamários de silicone fabricados pela francesa Poly Implant Prothèses (PIP). A empresa exportava para 66 países, Brasil incluído.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica enviou e-mail para todos os seus associados, orientando-os a procurar as pacientes que colocaram prótese dessa marca, para avaliação.
Pacientes que receberam esses implantes também devem procurar seus médicos.
Não é caso de troca compulsória. O implante só precisará ser substituído se o médico constatar rompimento ou endurecimento do material.
"O laudo da agência (de vigilância) francesa ainda não está concluído, mas entendemos que o silicone usado era de qualidade inferior", diz o cirurgião Sebastião Guerra, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Por esse motivo, o vazamento da substância pode ter causado reações inflamatórias em pacientes na França. No Brasil, ainda não houve notificação de problemas, segundo a Anvisa. O aumento de seios é a cirurgia estética mais realizada no Brasil -em 2009, foram feitos 92 mil procedimentos.
Especializada em implantes de silicone, a Poly Implant foi fechada na semana passada pela Justiça francesa e já apresentava problemas financeiros, agravados pela denúncia -estima-se que as perdas cheguem a 9 milhões de euros.
No Brasil, a decisão, publicada ontem no "Diário Oficial", ocorreu depois que a agência francesa de segurança sanitária de produtos de saúde (AFSSAPS) divulgou um alerta sobre o aumento no número de rompimentos das próteses da marca nos últimos três anos. Segundo o órgão francês, a substância que preenche as próteses é diferente da declarada pela empresa e não cumpre a regulamentação da França.
Representantes da empresa EMI, que importa e distribui os produtos da Poly Implant no país, não foram localizados pela reportagem.

Qualidade inferior
O médico Alexandre Mendonça Munhoz, doutor em cirurgia mamária pela Faculdade de Medicina da USP, diz que nunca usou próteses dessa marca, mas atendeu mulheres que sofreram complicações por terem implantado o produto.
"No ano passado, foram dois ou três casos. Nessa prótese, víamos contraturas [endurecimento] num período precoce. Operei gente que tinha colocado há três, quatro anos. Isso é incomum. O normal é que isso não aconteça antes de dez anos da colocação", diz Munhoz.
De acordo com Munhoz, as próteses da marca francesa estavam entre as mais baratas disponíveis. Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o preço do par variava entre R$ 1.400 e R$ 2.000. "Costumo usar próteses de até R$ 3.800 a unidade", afirma.
O cirurgião recomenda um acompanhamento constante com um mastologista ou com um cirurgião plástico. Os exames anuais de mamografia combinados à ultrassonografia podem detectar até 85% dos casos de rompimento.
"O mais comum é acontecerem contraturas. Às vezes pode haver uma dobra, que a paciente sente como se fosse um nódulo", explica.
Colaborou DÉBORA MISMETTI



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